quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Relato de um amigo que esta na frança

Caro Flávio
Salve Maria !!

Abaixo coloco um relato de um amigo nosso da Montfort que está morando na França com a esposa e filhos ... Ele também se chama Flávio ...

É sobre o evangelho deste domingo passado.

Acredito que lhe fará bem lê-lo...

Que Nossa Senhora das Dores rogue por nós !

Um abraço, Eli

Leme / SP

E hoje se inicia o Séjour en France, atendendo pedidos, com o número Zero. Resolvi escrever por causa do sermão de hoje. Antes, porém, gostaria de agradecer aos amigos pela acolhida em minha rápida passagem por São Paulo, que continua como sempre. Muito obrigado pelos almoços e jantares. Agradeço também a todos pelos cumprimentos quanto à recepção pós-defesa. Agradeço ainda o casal Vanini pela visita em França e a meu sogro que desembarcou hoje em Cumbica.
Feitos os agradecimentos, vou tentar reproduzir um pouco o sermão de hoje. Um sermão memorável, como poucos que ouvi na vida. Foi feito por um padre que, confesso, não sei o nome. Havia trocado algumas palavras rápidas num almoço certa vez com essa padre, mas naquela ocasião não imaginei que fosse capaz de falar, como pregou hoje. Ele tem exatamente minha idade. Nasceu em 1976, como eu. Já perdeu grande parte dos cabelos. Seu sermão começou como todo sermão. Pouco tempo depois os fiéis já estavam todos atentos, convencidos de que se estavam ouvindo algo que valia a pena mesmo ser ouvido. Poucos minutos depois, houve grande comoção geral e eu não pude ficar alheio àquelas palavras, àquela exegese do Evangelho desse 15.o Domingo depois de Pentecostes. Houve momentos mesmo de grande emoção, não de emoção piegas à la Roberto Carlos (são tantas emoções, bicho), mas de grande emoção pela riqueza das palavras e dos ensinamentos de Nosso Senhor.
Que não se sente ferido pelo cavaleiro mascarado que perfura sua lança em nossos corações, não compreendeu a poesia !! Bon Chevalier masqué qui chevauche en silence / Le Malheur a percé mon vieux cœur de sa lance !!
O Evangelho de hoje parece ser corriqueiro. É simples, mas contém tanta doutrina que nossa cegueira espiritual não sabe muitas vezes enxergar. É a passagem de São Lucas, 7, 11-16:
“Naquele tempo ia Jesus para uma cidade chamada Naim e iam com Ele seus discípulos. E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que era levado um defunto a sepultar, filho único de sua mãe; e esta era viúva. E ia com ela muita gente da cidade. E, tendo-a visto o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: Não chores. E aproximou-se e tocou no esquife. E os que o levavam pararam. Então disse Ele: Jovem, eu to digo, levanta-te. E sentou-se o que tinha estado morto, e começou a falar. E Jesus entregou-o a sua mãe. E todos ficaram possuídos de temor, e glorificaram a Deus, dizendo: um grande profeta apareceu entre nós, e Deus visitou o seu povo”.
O Evangelho parece narrar mais um milagre de Nosso Senhor. Mais um caso corriqueiro de alguém que passava por Naim em direção ao destino final, Jerusalém. A narração é simples. Nada de complexo. No entanto de uma riqueza incomparável.
Primeiramente deve-se dizer que não é uma passagem casual por Naim. Não existe o acaso. Foi a Providência que guiou. Passar por Naim onde Nosso Senhor ia com seus discípulos estava nos planos de Deus e o encontro com a viúva que acabara de perder seu único filho não podia ser, de modo algum, casual.
Atrás da mãe, viúva, e deve-se concluir que sua viúves não era muito antiga, posto que seu filho era ainda jovem. Essa mulher sofre. Há pouco perdera o marido. Agora perde também o filho, bem jovem. Ela está só. O povo sente tamanha compaixão por essa mulher que diz São Lucas “E ia com ela muita gente da cidade”. A morte choca. Uma morte de alguém de muita idade fruto de uma doença como câncer ou falência múltiplas dos órgãos é triste, mas mais aceitável, afinal esse é o curso natural da vida. Mas a morte de um jovem. A morte inesperada de alguém que tenha ainda um mudo inteiro pela frente, uma história a escrever e a conquistar, é muito mais triste. Choca muito mais. Mas a vida é assim. Não há idade para se morrer. Basta estar vivo. E viver é mesmo muito perigoso. O povo compadece-se do sofrimento dessa mulher. Perdera o marido há pouco. Agora perde seu único filho. Acabou sua vida. Acabou sua história. Essa mulher sofre. Sofre profundamente. Quem é mãe e esposa pode imaginar o sofrimento dessa mulher como ninguém o poderia imaginar. O povo vai todo atrás. O povo está tocado por essa mulher que sofre.
A multidão, que acompanha o enterro, cruza com Nosso Senhor e Seus discípulos. Nosso Senhor vê tudo e diz São Lucas: “E, tendo-a visto o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: Não chores”. Que maravilha ! O Senhor do Céu e Terra está movido de compaixão por essa pobre mulher ! Nosso Senhor não é indiferente a nossos sofrimentos. Nosso Senhor está movido de compaixão pelo sofrimento dessa mulher que perdera o marido e agora o filho. Nosso Senhor não passa por nós e finge que não vê nossos sofrimentos. Não é assim. Não. Nosso Senhor compadece de nosso dor. E Ele compadeceu-se dessa mulher. E Ele a conforta. “Não chores”. Todo o povo e a pobre mulher jamais poderiam imaginar que Nosso Senhor apareceria naquele momento e que iria operar um milagre. Assim como nós. Jamais acreditamos e imaginamos que Nosso Senhor possa operar algum extraordinário para nós. A fraqueza não está Naquele que age, mas em nós que não temos fé suficiente.
E então Nosso Senhor opera o milagre ressuscitando o jovem. Só o Senhor da vida pode com uma palavra, “levanta-te”, dar a vida. E Nosso Senhor faz questão de pessoalmente confortar essa mulher. “E Jesus entregou-o a sua mãe”. A multidão fica admirada, como ficaria qualquer pessoa presente naquele momento e quem escuta o Evangelho de hoje.
Acontece que essa mulher que sofre não é somente uma pobre viúva que perdeu seu único filho. Essa mulher é também a Igreja Católica, que sofre a morte espiritual de seus filhos, mas que nunca perde a esperança na ação de Nosso Senhor, que pode, e ressuscita os filhos mortos. Os filhos únicos. Sim, porque Nosso Senhor nos trata como se fossemos Seu único filho e, por isso, morreu por cada um de nós. Não é retórica. Nosso Senhor nos ama como se fossemos seus únicos filhos e Sua relação conosco é de tal maneira íntima podemos dizer, sim, que somos únicos para Deus. E Deus ama cada um de nós desse modo. Nosso Senhor pode resgatar todos os filhos mortos da Igreja.
O compadecimento de Nosso Senhor está no pranto dessa mãe. No sofrimento da Igreja. “Souvent, les larmes des mères sauvent les âmes de ses enfants !” (Freqüentemente, as lágrimas das maes sauvam as almas dos filhos !) E que verdade estupenda ! e que bonito em francês o jogo das palavras larmes.....les âmes..........as lágrimas e as almas !! Sim ! É preciso muita lágrima para salvar uma alma ! Não há salvação sem sofrimento ! E Nosso Senhor tem compaixão de quem sofre ! E consola e retribui um dia todo o sofrimento. Larmes .......... les âmes.............. E não foram as lágrimas de Santa Mônica que fizeram a alma de alguém como Santo Agostinho !! Que verdade incontestável ! Nosso Senhor tem compaixão dessa mulher que sofre. Tem compaixão de todos que versam suas lágrimas, larmes, para que salvem suas almas, âmes.
Além de ser uma pobre viúva que sofre e a Igreja, essa mulher que sofre é também Nossa Senhora. Maria Santíssima é a mulher que sofre ao pé da cruz, a morte de seu único filho. Mas Nosso Senhor move-se de compaixão pelo sofrimento da Virgem Maria e resgata, ressuscita, todos os filhos dessa Mãe Admirável que um dia foram mortos pelo pecado. E por isso diz o evangelista: “E Jesus entregou-o a sua mãe”. Sim. Nosso Senhor nos resgata e nos entrega à Sua mãe, a nossa mãe. “Mulher, eis aí teu filho”. Stabat Mater dolorosa.
Nossa Senhora é a mãe que sofre com a morte de seus filhos. Mas por compaixão, Nosso Senhor resgata todos os filhos mortos dessa mãe zelosa que sofre e que chora. São as lágrimas de Maria Santíssma, les larmes, que resgatam as almas de todos seus filhos consagrados a ela no dia do batismo, les âmes. As lágrimas. As almas.
E assim, concluem-se os comentários a esse curto e extraordinário Evangelho do 15.o Domingo depois de Pentecostes.
Que Nossa Senhora, Mãe das Dores, Stabat Mater, derrame sempre suas lágrimas por nós para que possamos um dia pertencer às almas que se salvaram, apesar de nós mesmos.
Um grande abraço a todos amigos nesse relato de Séjour en France número Zero. Se existe até recruta Zero e se existe até casa feita com muito esmero na rua dos bobos número zero.........pode existir também.............. Séjour en France, 0.

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