terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O homem que nega Deus

Dramático na nossa cultura ocidental é que o homem negue Deus para afirmar-se, como um adolescente que somente se sente autônomo negando a autoridade dos pais. O triste é que negando Deus, negando sua autoridade sobre nós, não nos tornamos mais livres nem dignificamos mais a existência humana, mas, ao contrário, sem Deus valemos menos, sem Deus a vida humana, em última análise, está entregue ao próprio capricho humano. Basta que olhemos ao nosso redor: quão pouco vale o homem. Para o sistema globalizado ele somente vale pelo que tem, pelo que produz e pelo que consome! Ao invés, quando Deus é retamente compreendido, torna-se a maior garantia da preciosidade da vida humana – do primeiro ao último momento de sua existência! Era isso também que Santo Irineu queria exprimir ao dizer: Gloria Dei vivens homo (A glória de Deus é o homem vivo).
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo da Igreja Catolica Romana

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Relato de um amigo que esta na frança

Caro Flávio
Salve Maria !!

Abaixo coloco um relato de um amigo nosso da Montfort que está morando na França com a esposa e filhos ... Ele também se chama Flávio ...

É sobre o evangelho deste domingo passado.

Acredito que lhe fará bem lê-lo...

Que Nossa Senhora das Dores rogue por nós !

Um abraço, Eli

Leme / SP

E hoje se inicia o Séjour en France, atendendo pedidos, com o número Zero. Resolvi escrever por causa do sermão de hoje. Antes, porém, gostaria de agradecer aos amigos pela acolhida em minha rápida passagem por São Paulo, que continua como sempre. Muito obrigado pelos almoços e jantares. Agradeço também a todos pelos cumprimentos quanto à recepção pós-defesa. Agradeço ainda o casal Vanini pela visita em França e a meu sogro que desembarcou hoje em Cumbica.
Feitos os agradecimentos, vou tentar reproduzir um pouco o sermão de hoje. Um sermão memorável, como poucos que ouvi na vida. Foi feito por um padre que, confesso, não sei o nome. Havia trocado algumas palavras rápidas num almoço certa vez com essa padre, mas naquela ocasião não imaginei que fosse capaz de falar, como pregou hoje. Ele tem exatamente minha idade. Nasceu em 1976, como eu. Já perdeu grande parte dos cabelos. Seu sermão começou como todo sermão. Pouco tempo depois os fiéis já estavam todos atentos, convencidos de que se estavam ouvindo algo que valia a pena mesmo ser ouvido. Poucos minutos depois, houve grande comoção geral e eu não pude ficar alheio àquelas palavras, àquela exegese do Evangelho desse 15.o Domingo depois de Pentecostes. Houve momentos mesmo de grande emoção, não de emoção piegas à la Roberto Carlos (são tantas emoções, bicho), mas de grande emoção pela riqueza das palavras e dos ensinamentos de Nosso Senhor.
Que não se sente ferido pelo cavaleiro mascarado que perfura sua lança em nossos corações, não compreendeu a poesia !! Bon Chevalier masqué qui chevauche en silence / Le Malheur a percé mon vieux cœur de sa lance !!
O Evangelho de hoje parece ser corriqueiro. É simples, mas contém tanta doutrina que nossa cegueira espiritual não sabe muitas vezes enxergar. É a passagem de São Lucas, 7, 11-16:
“Naquele tempo ia Jesus para uma cidade chamada Naim e iam com Ele seus discípulos. E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que era levado um defunto a sepultar, filho único de sua mãe; e esta era viúva. E ia com ela muita gente da cidade. E, tendo-a visto o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: Não chores. E aproximou-se e tocou no esquife. E os que o levavam pararam. Então disse Ele: Jovem, eu to digo, levanta-te. E sentou-se o que tinha estado morto, e começou a falar. E Jesus entregou-o a sua mãe. E todos ficaram possuídos de temor, e glorificaram a Deus, dizendo: um grande profeta apareceu entre nós, e Deus visitou o seu povo”.
O Evangelho parece narrar mais um milagre de Nosso Senhor. Mais um caso corriqueiro de alguém que passava por Naim em direção ao destino final, Jerusalém. A narração é simples. Nada de complexo. No entanto de uma riqueza incomparável.
Primeiramente deve-se dizer que não é uma passagem casual por Naim. Não existe o acaso. Foi a Providência que guiou. Passar por Naim onde Nosso Senhor ia com seus discípulos estava nos planos de Deus e o encontro com a viúva que acabara de perder seu único filho não podia ser, de modo algum, casual.
Atrás da mãe, viúva, e deve-se concluir que sua viúves não era muito antiga, posto que seu filho era ainda jovem. Essa mulher sofre. Há pouco perdera o marido. Agora perde também o filho, bem jovem. Ela está só. O povo sente tamanha compaixão por essa mulher que diz São Lucas “E ia com ela muita gente da cidade”. A morte choca. Uma morte de alguém de muita idade fruto de uma doença como câncer ou falência múltiplas dos órgãos é triste, mas mais aceitável, afinal esse é o curso natural da vida. Mas a morte de um jovem. A morte inesperada de alguém que tenha ainda um mudo inteiro pela frente, uma história a escrever e a conquistar, é muito mais triste. Choca muito mais. Mas a vida é assim. Não há idade para se morrer. Basta estar vivo. E viver é mesmo muito perigoso. O povo compadece-se do sofrimento dessa mulher. Perdera o marido há pouco. Agora perde seu único filho. Acabou sua vida. Acabou sua história. Essa mulher sofre. Sofre profundamente. Quem é mãe e esposa pode imaginar o sofrimento dessa mulher como ninguém o poderia imaginar. O povo vai todo atrás. O povo está tocado por essa mulher que sofre.
A multidão, que acompanha o enterro, cruza com Nosso Senhor e Seus discípulos. Nosso Senhor vê tudo e diz São Lucas: “E, tendo-a visto o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: Não chores”. Que maravilha ! O Senhor do Céu e Terra está movido de compaixão por essa pobre mulher ! Nosso Senhor não é indiferente a nossos sofrimentos. Nosso Senhor está movido de compaixão pelo sofrimento dessa mulher que perdera o marido e agora o filho. Nosso Senhor não passa por nós e finge que não vê nossos sofrimentos. Não é assim. Não. Nosso Senhor compadece de nosso dor. E Ele compadeceu-se dessa mulher. E Ele a conforta. “Não chores”. Todo o povo e a pobre mulher jamais poderiam imaginar que Nosso Senhor apareceria naquele momento e que iria operar um milagre. Assim como nós. Jamais acreditamos e imaginamos que Nosso Senhor possa operar algum extraordinário para nós. A fraqueza não está Naquele que age, mas em nós que não temos fé suficiente.
E então Nosso Senhor opera o milagre ressuscitando o jovem. Só o Senhor da vida pode com uma palavra, “levanta-te”, dar a vida. E Nosso Senhor faz questão de pessoalmente confortar essa mulher. “E Jesus entregou-o a sua mãe”. A multidão fica admirada, como ficaria qualquer pessoa presente naquele momento e quem escuta o Evangelho de hoje.
Acontece que essa mulher que sofre não é somente uma pobre viúva que perdeu seu único filho. Essa mulher é também a Igreja Católica, que sofre a morte espiritual de seus filhos, mas que nunca perde a esperança na ação de Nosso Senhor, que pode, e ressuscita os filhos mortos. Os filhos únicos. Sim, porque Nosso Senhor nos trata como se fossemos Seu único filho e, por isso, morreu por cada um de nós. Não é retórica. Nosso Senhor nos ama como se fossemos seus únicos filhos e Sua relação conosco é de tal maneira íntima podemos dizer, sim, que somos únicos para Deus. E Deus ama cada um de nós desse modo. Nosso Senhor pode resgatar todos os filhos mortos da Igreja.
O compadecimento de Nosso Senhor está no pranto dessa mãe. No sofrimento da Igreja. “Souvent, les larmes des mères sauvent les âmes de ses enfants !” (Freqüentemente, as lágrimas das maes sauvam as almas dos filhos !) E que verdade estupenda ! e que bonito em francês o jogo das palavras larmes.....les âmes..........as lágrimas e as almas !! Sim ! É preciso muita lágrima para salvar uma alma ! Não há salvação sem sofrimento ! E Nosso Senhor tem compaixão de quem sofre ! E consola e retribui um dia todo o sofrimento. Larmes .......... les âmes.............. E não foram as lágrimas de Santa Mônica que fizeram a alma de alguém como Santo Agostinho !! Que verdade incontestável ! Nosso Senhor tem compaixão dessa mulher que sofre. Tem compaixão de todos que versam suas lágrimas, larmes, para que salvem suas almas, âmes.
Além de ser uma pobre viúva que sofre e a Igreja, essa mulher que sofre é também Nossa Senhora. Maria Santíssima é a mulher que sofre ao pé da cruz, a morte de seu único filho. Mas Nosso Senhor move-se de compaixão pelo sofrimento da Virgem Maria e resgata, ressuscita, todos os filhos dessa Mãe Admirável que um dia foram mortos pelo pecado. E por isso diz o evangelista: “E Jesus entregou-o a sua mãe”. Sim. Nosso Senhor nos resgata e nos entrega à Sua mãe, a nossa mãe. “Mulher, eis aí teu filho”. Stabat Mater dolorosa.
Nossa Senhora é a mãe que sofre com a morte de seus filhos. Mas por compaixão, Nosso Senhor resgata todos os filhos mortos dessa mãe zelosa que sofre e que chora. São as lágrimas de Maria Santíssma, les larmes, que resgatam as almas de todos seus filhos consagrados a ela no dia do batismo, les âmes. As lágrimas. As almas.
E assim, concluem-se os comentários a esse curto e extraordinário Evangelho do 15.o Domingo depois de Pentecostes.
Que Nossa Senhora, Mãe das Dores, Stabat Mater, derrame sempre suas lágrimas por nós para que possamos um dia pertencer às almas que se salvaram, apesar de nós mesmos.
Um grande abraço a todos amigos nesse relato de Séjour en France número Zero. Se existe até recruta Zero e se existe até casa feita com muito esmero na rua dos bobos número zero.........pode existir também.............. Séjour en France, 0.

Catecismo sobre a Santíssima Virgem Maria


Catecismo sobre a Santíssima Virgem Maria

“Em mim há toda a esperança de vida e virtude. Vinde todos a mim”
(Ecl XXIV,26).

Dado os tempos pós-conciliares, em que a devoção a Maria Santíssima esfriou nas almas católicas, onde se visa mais o agrado dos protestantes, com sua aversão a Rainha do Céu, julgo necessário um pequeno compêndio sobre o que a Igreja Católica, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, ensina sobre a Virgem Santíssima.

A doutrina Católica foi revelada pelo próprio Deus, visto ter sido transmitida aos Apóstolos pela boca do próprio Jesus Cristo, que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, portanto, Deus.

A doutrina ensinada por Nosso Divino Salvador foi confiada aos Apóstolos que primeiramente a transmitiam por tradição oral – a Sagrada Tradição ou Tradição Apostólica –, posteriormente alguns pontos desta doutrina foram escritos, formando a Sagrada Escritura. Duas são, portanto, as fontes da Revelação Divina: a Sagrada Tradição, que vem dos Apóstolos, e a Sagrada Escritura; ambas possuem a mesma autoridade, visto ser o próprio Deus sua fonte comum. As verdades reveladas por Deus não podem se encontrar somente na Sagrada Escritura, visto que muitos trechos da mesma afirmam o contrário:
“Muitas outras coisas, porém, há ainda, que fez Jesus, as quais se se escrevessem uma por uma, creio que nem no mundo todo poderiam caber os livros que delas se houvessem de escrever” (Jo XXI, 25).
“Permanecei, pois constantes, irmãos, e conservai as TRADIÇÕES que aprendestes, ou por nossas palavras ou por nossa carta” (II Tess. II, 14).
"Apesar de ter mais coisas que vos escrever, não o quis fazer com papel e tinta, mas espero estar entre vós e conversar de viva voz, para que a vossa alegria seja perfeita. " (II S. João, 1,12).
Quando, no Evangelho Nosso Senhor diz: “Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa TRADIÇÃO.” (Mt XV, 6), Ele se refere à tradição humana dos judeus que não se deve confundir com a Tradição Apostólica.
A Tradição que a Igreja sustenta não é outra senão o conjunto de ensinamentos transmitidos diretamente por Cristo aos Apóstolos, e destes aos seus discípulos, seus legítimos sucessores – seus verdadeiros pastores – portanto não é um tradição humana, mas sim de origem divina, a Sagrada Tradição.
Como dissemos, a Sagrada Tradição é defendida por ninguém menos que o Apóstolo São Paulo, mostrando claramente que há duas fontes da Revelação: "Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa. " (II Tessalonicenses, 2,15). E em muitas outras passagens.
Assim sendo, a Tradição não pode diferir da Escritura Sagrada, pois ambas têm o mesmo autor divino, o mesmo autor infalível. E mais: a Tradição formou a Escritura, pois antes que fosse redigida, a Revelação foi feita oralmente por Nosso Senhor. Portanto, antes que houvesse a Escritura, havia já a Tradição (o mesmo se aplica ao Antigo Testamento).

Quando os protestantes encontram divergências entre a Tradição e a Escritura, é porque sua interpretação da Escritura está errada. E note que nem podemos falar propriamente em interpretação protestante, pois cada fiel é uma igreja separada, gerando assim milhares de interpretações diversas e contrárias.

Feitas essas considerações, prova-se que há mais coisas reveladas que não estão na Bíblia, como afirma a própria Bíblia. Por isso não somente a Sagrada Escritura, mas também – como prova a própria Escritura – a Sagrada Tradição são fontes das verdades que Deus revelou.

Na Sagrada Escritura não pode haver erro algum, porque sendo toda inspirada, o Autor de todas as suas partes é o próprio Deus. Isto não impede que nas cópias e traduções se tenha dado algum engano ou dos copistas ou dos tradutores. Somente a Igreja Católica, sendo a portadora das verdades que Deus revelou, pode interpretar e ensinar a Sagrada Escritura. Por isso se deve evitar as Bíblias protestantes, por conter erros. Somente as edições revistas e aprovadas pela Igreja Católica não pode haver erro algum no que respeita à Fé ou à Moral. A leitura da Bíblia não é necessária a todos os cristãos, sendo, como são instruídos pela Igreja; mas é, contudo útil e recomendada a todos, desde que tenham acesso as explicações que a Igreja fornece, visto que a depositária das verdades reveladas por Deus é somente a Igreja Católica, e não cada pessoa em particular, e quem presumisse tamanha autoridade, cairia no pecado da soberba e iria contra o próprio ensinamento da Sagrada Escritura:
“Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular” (II Epís. De São Pedro, I, 20).

Nosso Senhor deu a São Pedro – primeiro Papa – e conseqüentemente aos seus sucessores – os Papas – as chaves do Reino dos Céus. Na parábola do Bom Samaritano, o samaritano – representando Cristo – levou o homem ferido – representando todos os homens feridos pelo pecado original – a uma cocheira, dando ao dono da cocheira duas moedas.
O que simboliza a cocheira?
Na cocheira os animais deixam seus dejetos no chão e comem no cocho. Assim também, na Igreja Católica, os homens deixam os pecados no confessionário – pelo menos quando havia confessionários, antes do Concílio Vaticano II – e comem o Corpo de Cristo, na mesa da comunhão. Portanto, a cocheira, na parábola, representa a Igreja Católica.
E o bom samaritano – Cristo – mandou ao dono da cocheira que cuidasse do homem, para isso dando-lhe duas moedas. Ora, se a cocheira é o símbolo da Igreja Católica, o dono da cocheira é o Papa, que recebeu de Cristo o mandato de cuidar do homem ferido pelo pecado original.
E por que foram dadas ao Papa duas moedas e não três?
Porque estas duas moedas simbolizam os dois Testamentos: o Antigo e o Novo, isto é, toda a Bíblia. Desta forma, Nosso Senhor ensinou que somente ao Papa foi confiada a interpretação de toda a Escritura Sagrada, e que a Igreja Católica é o local onde os homens, feridos por seus pecados, aprenderão as verdades reveladas por Deus, que foram confiadas somente ao Papa; serão curados de seus pecados no confessionário e alimentados, na mesa da Santa Comunhão.

A Sagrada Tradição é a palavra de Deus não-escrita, mas comunicada de viva voz por Jesus Cristo e pelos Apóstolos, e que chegou sem alteração, de século em século, por meio da Igreja, até nós. Não se alterou, pois Cristo prometeu estar todos os dias com Sua Igreja e que as portas do inferno, isto é, do erro, jamais prevaleceriam sobre Sua Igreja.
Os ensinamentos da Sagrada Tradição acham-se principalmente nos decretos dos Concílios – nos decretos aprovados pelo Papa, pois somente o Papa pode interpretar tanto a Sagrada Tradição quando a Sagrada Escritura –, nos escritos dos Santos Padres (Santos Padres são os grandes santos e doutores, discípulos dos Apóstolos, e os grandes Santos e Doutores dos primeiros séculos do Cristianismo), nos atos da Santa Sé, nas palavras e nos usos da Sagrada Liturgia, isto é, na Missa.
A Sagrada Tradição deve ter-se na mesma consideração em que se tem a palavra de Deus contida na Sagrada Escritura.

Deus é infinitamente incapaz de errar e de nos enganar, tudo o que Ele nos diz é absolutamente certo. Por isso temos a obrigação de crer o que Deus nos diz. Como vimos tudo o que Deus revelou se encontra na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura, ambas confiadas à Igreja Católica, portanto, somente a Igreja Católica Apostólica Romana possui plenamente todas as verdades reveladas por Deus, a que somos obrigados a crer, visto ser infinitamente impossível Deus errar ou nos enganar. Tudo o que Ele ensinou é absolutamente verdade, por isso toda a doutrina católica é verdadeira. Esta certeza que temos se chama Fé. A virtude da Fé não é, portanto, um sentimento ou uma experiência, muito menos uma emoção, mas sim uma certeza sobrenatural – infundida no Batismo – que temos sobre todas as verdades que Deus nos ensinou por meio de Sua Igreja, em virtude da autoridade do próprio Deus, que não pode errar.
Não podemos compreender todas as verdades da Fé, porque algumas destas verdades são mistérios. Os mistérios são verdades superiores à razão, nas quais devemos crer, ainda que não as possamos compreender. Devemos crer nos mistérios porque Deus os revelou, e sendo Ele a própria Verdade não pode Se enganar, nem nos enganar.

Quando o Sucessor de São Pedro – o Papa – define alguma doutrina como verdade revelada por Deus, ele não está inventando, isto é, tal doutrina não é nova. O Papa apenas confirma, com o poder que Deus lhe conferiu por meio de São Pedro, que tal doutrina foi realmente revelada por Deus. Dou-lhes um exemplo.
Desde o início do Catolicismo discutia-se se a doutrina de que Maria Santíssima, Mãe de Deus, tinha sido concebida sem a mancha do pecado original era de fato revelada por Deus. Já Santo Agostinho, no século IV, a ensinava, dizendo que “nós não atribuímos ao demônio poder algum sobre Maria” (Opus imperfectum contra Iulianum IV, 122); e em outra ocasião o Santo Bispo de Hipona declara: “Excetuando, pois, a Santa Virgem Maria, acerca da qual, pela honra devida a Nosso Senhor, quando se trata de pecados, não quero absolutamente levantar questão alguma, porque sabemos que lhe foi conferida maior abundancia de graça para vencer qualquer pecado” (De natura et gratia 36,42).
Santo Afonso de Ligório também defendia esta doutrina, exposta claramente em seu famoso Glórias de Maria, escrito em 1750. Contudo, muitos ainda discutiam se esta doutrina era ou não revelada por Deus.
Somente em 1854, o Bem-aventurado Papa Pio IX a definiu como dogma de Fé, isto é, dando-nos a certeza absoluta, devido ao poder conferido por Cristo aos Papas, que a doutrina de que Nossa Senhora foi concebida sem a mínima nódoa de pecado foi revelada por Deus, dizendo: “A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição (...) foi preservada imune de toda mancha de pecado original (...) foi revelada por Deus, e por isso deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis” (Bula Ineffabilis Deus, Papa Pio IX).
A proclamação do dogma não é, portanto, uma novidade ou uma invenção, mas sim a confirmação de que tal doutrina foi realmente revelada por Deus, colocando fim nas discussões. Temos um claro exemplo disso na própria Escritura, nos Atos dos Apóstolos, quando foi realizado o Concílio de Jerusalém.

Quando o monge Martinho Lutero, em 1517, propôs sua doutrina, o Papa a condenou e reprovou, dando-nos a certeza que a doutrina protestante não fora revelada por Deus. O que se nota pela experiência, visto suas ramificações – há mais de 50.000 seitas protestantes, atualmente – e suas contradições. Lutero, por exemplo, acreditava inicialmente na Imaculada Conceição de Maria Santíssima, depois a negou, dizendo que somente Cristo não tinha pecado original, o que negou também, mais tarde. Certamente uma doutrina como esta não pode ser verdadeira, visto que Deus não muda, logo, a doutrina revelada por Ele precisa ser necessariamente imutável. Somente a Igreja Católica, Igreja imutável, ensina, há 2.000 anos, uma doutrina imutável, revelada por um Deus que não muda.


Depois destas considerações, comecemos o Catecismo sobre a Rainha do Céu e da terra. A finalidade dele não é outra que fornecer aos católicos uma boa argumentação, baseada nas verdades que Deus ensinou, para defender o nome da Mãe de Deus e ao mesmo tempo, infundir nos corações um terno afeto por tão boa Mãe, afeto este que a cada dia se esfria mais, fazendo com que os católicos se afastem de sua carinhosa Mãe do Céu, que tanto nos ama e roga por nós.
As fontes para este Catecismo são: alguns textos do site da Associação Cultural Montfort, o Catecismo Maior de São Pio X, o livro Glórias de Maria de Santo Afonso Maria de Ligório e, sobretudo, o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria de São Luís Maria Grignion de Montfort, livro este que foi declarado “isento de erro” pela Igreja.
Comecemos.

Primeira Parte
Maria Santíssima, Mãe de Deus e nossa devoção para com Ela

§ Da Maternidade Divina de Maria Santíssima

1. Quem é o Verbo de Deus?
O Verbo de Deus é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, gerada, não criada. Consubstancial (absolutamente igual) ao Pai Eterno.

2. Como o Verbo de Deus pode ser consubstancial ao Pai Eterno?
Deus conhece-Se a si mesmo, conhecendo-Se concebe uma idéia de Si mesmo. Por Deus ser sumamente perfeito, esta idéia é perfeitamente igual a Ele, nem menor, nem maior. A idéia que Deus tem de Si mesmo é igual a Deus. As idéias são expressas por palavras e o que dá sentido à palavra é o verbo. Por isso, a idéia que Deus tem de si mesmo é também chamada de Verbo de Deus.

3. Qual a grande obra realizada pelo Verbo de Deus para nossa eterna salvação?
O Verbo de Deus, para satisfazer a Justiça Divina ofendida pelos pecados dos homens, se encarnou no seio da Virgem Maria, e se fez homem.

4. A Virgem Maria é, pois, a Mãe de Deus?
A Virgem Maria, portanto, é Mãe do Verbo de Deus feito homem. Maria é Mãe de Deus. Por isso Santa Isabel, ao receber a visita de Nossa Senhora, exclamou jubilosa: “Donde a mim esta dita de que a MÃE DE MEU SENHOR venha ter comigo?” (Luc. I, 43).

5. Como sabemos pela Sagrada Escritura, que a Virgem Santíssima é Mãe de Deus?
Inúmeras vezes aparece no Evangelho que Maria é Mãe de Jesus. Ora como Jesus Cristo é Deus, Maria necessariamente é Mãe de Deus.

6. Como pode a Virgem Maria ser Mãe de Deus, sendo Deus eterno?
Evidentemente, sendo Deus eterno, é claro que Nossa Senhora não pode ter gerado Deus na eternidade. Maria não é mãe do Verbo de Deus quanto à sua origem divina, procedente e gerado pelo Pai desde toda eternidade. Ela é Mãe do Verbo de Deus encarnado, no tempo; é Mãe do Verbo de Deus feito homem.

7. Sendo Deus e homem ao mesmo tempo, o Verbo de Deus encarnado é, portanto, uma única Pessoa?
Sim. Cristo possui duas naturezas – a divina e a humana – mas uma só pessoa, a do Verbo de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Dizer que a Virgem Maria foi só a Mãe de Jesus homem, mas não a Mãe de Deus, é atribuir duas pessoas a Cristo. Maria, tendo sido Mãe de Jesus Cristo, cuja pessoa é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é Mãe de Deus. Fica, portanto, explicado: Apesar de Jesus Cristo ser eterno, Ele, pelo Mistério da Encarnação, assumiu a natureza humana unido-a com Sua natureza divina em uma só pessoa. Sendo Nossa Senhora Mãe da pessoa de Cristo, que é Deus, é a Mãe de Deus, a Theotokos, em grego. Por isso, os santos da Igreja sempre perceberam que quem negava a Maternidade divina de Maria, estava, no fundo, querendo negar a divindade de Cristo.

8. Como sabemos pela Sagrada Tradição, que Maria é Mãe de Deus?
Depois de provar que no Evangelho está escrito que Maria foi a Mãe do Senhor, seria desnecessário provar que a Sagrada Tradição sempre ensinou o mesmo. Contudo, é útil saber. O dogma de que Nossa Senhora é realmente Mãe de Deus fora proclamado no ano 431, no Concílio de Éfeso, contudo – evidentemente – antes do Concílio de Éfeso se acreditava na Maternidade divina de Maria Santíssima, só os hereges daqueles tempos recusavam. Desgraçadamente sempre houve, no mundo, homens que negam as verdades reveladas pelo próprio Deus.

9. Dê alguns exemplos que se acreditava na Maternidade Divina de Maria Santíssima antes do Concílio de Éfeso (431).
Santo Inácio de Antioquia, que conheceu São João Evangelista e São Paulo, e que morreu em 110, escreveu: “A verdade é que o nosso Deus, Jesus, o Ungido, foi concebido de Maria segundo a economia divina; nasceu da estirpe de Davi, mas também do Espírito Santo” (Santo Inácio de Antioquia, Carta aos efésios, PG. 644 ss).
Santo Irineu, que morreu em 202, e que foi discípulo de São Policarpo, bispo de Esmirna, o qual foi discípulo de São João Evangelista, escreveu sobre a Virgem Maria:
”A Virgem Maria... sendo obediente à sua palavra, recebeu do anjo a boa nova de que ela daria à luz Deus”.
São Cirilo de Alexandria, falecido no ano 444 escreveu: “Tenho ficado espantado que alguns, ultimamente, puseram em dúvida se a Virgem Maria poderia ser chamada ou não a Mãe de Deus. Porque, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, como a Virgem Maria, que O gerou, não seria a Mãe de Deus?”.

Fica provado, portanto, que tanto a Sagrada Escritura quanto a Sagrada Tradição confirmam que Maria Santíssima é realmente a Mãe de Deus, e como tal deve ser venerada e honrada.

§ Da dignidade de Maria Santíssima como Mãe de Deus

10. Sendo realmente a Mãe de Deus, possui Maria Santíssima uma dignidade imensa?
Sim, por ser Mãe de Deus, Maria Santíssima possui uma dignidade imensa, pois, segundo Santo Afonso de Ligório, “a única dignidade maior do que ser Mãe de Deus é ser Deus”. Maria Santíssima, por conseguinte, possui uma dignidade quase infinita, como afirma São Tomás. Por isso a Santa Igreja sempre honrou Maria Santíssima com um culto de hiperdulia, isto é, dedicando-lhe maior veneração que aos próprios Anjos. O próprio Arcanjo São Gabriel saudou Nossa Senhora por Ela ser superior aos anjos – não em natureza – mas em graça e santidade, Ela é, portanto, Rainha dos anjos de Deus. Foi por isso que o arcanjo Gabriel a saudou reverentemente, e não foi saudado por Ela, porque cabe ao súdito cumprimentar quem lhe é superior, e não o contrário. Note-se, contudo, que Maria Santíssima é honrada com o culto de dulia, isto é, veneração, e não de latria, que é adoração e que deve ser dedicada somente a Deus.

11. Qual a diferença entre o culto de dulia e o culto de latria?
O culto de latria é de total dependência, reconhecendo a quem se dedica este culto como o Criador do céu e da terra, por isso o culto de latria deve-se somente a Deus.

12. O que a Santa Igreja nos ensina sobre o culto que devemos à Mãe de Deus?
A Santa Igreja sempre ensinou seus filhos a honrarem a Mãe de Deus com o culto de dulia, isto é, um culto de veneração, mas não uma simples veneração, comum aos outros Santos e Anjos, mas hiperdulia, venerando-a acima de qualquer criatura. Pois, embora a Rainha do céu esteja infinitamente abaixo de Deus, Seu Filho, é, contudo, infinitamente superior às demais criaturas, merecendo lugar único em nossa veneração.

§ Da devoção à Maria Santíssima

13. Poderíamos desagradar a Deus, honrando Sua Mãe Santíssima?
Evidentemente que não. A honra tributada à Maria Santíssima de maneira alguma desagrada a Deus, que é Seu Filho e como tal deseja ver Sua Mãe honrada e amada por todos e muito ofende a Deus quem não se preocupa em honrar a Mãe de Deus. Santo Afonso de Ligório, sobre este ponto, escreve: “Quem ignora que a honra prestada às mães redunda glória para os filhos? “Os pais são as glórias dos filhos”, lemos nos Provérbios (17,6)”.

14. O que os Santos ensinam sobre este ponto?
Os Santos sempre ensinaram que é uma grande ofensa a Deus qualquer desprezo ou indiferença à Sua Mãe Santíssima. Grandes Santos se destacaram por Sua devoção à Mãe de Deus, como São Bernardo de Claraval, Santo Efrém, São João Damasceno, São Boaventura, São João Bosco, São Domingos de Gusmão e sobretudo, São Luís Maria Grignion de Montfort; e Deus muito os recompensou com uma imensa glória no Céu e na terra, sendo honrados, como são, como grandes esteios da devoção à Mãe de Deus.

15. O que São Luís de Montfort ensinava sobre os que, a pretexto de honrar a Deus, desprezam a Mãe de Deus?
São Luís de Montfort, o grande Doutor Mariano, sobre estes ingratos, assim dizia a Nosso Senhor Jesus Cristo:
“Volto-me, aqui, um momento, para vós, ó Jesus, a fim de queixar-me amorosamente à vossa divina majestade, de que a maior parte dos cristãos, mesmos os mais instruídos, desconhecem a ligação imprescindível que existe entre vós e vossa Mãe Santíssima. Vós, Senhor, estais sempre com Maria, e Maria sempre convosco, nem pode estar sem vós; de outro modo, ela deixaria de ser o que é; e de tal maneira está ela transformada em vós pela graça, que já não vive, já não existe, sois vós, meu Jesus, que viveis e reinais nela, mais perfeitamente que em todos os anjos e bem-aventurados.
Ah! Se conhecêssemos a glória e o amor que recebeis nesta admirável criatura, bem diferentes seriam os nossos sentimentos a respeito de vós e dela. Maria está tão intimamente unida a vós que mais fácil seria separar do sol a luz, e do fogo o calor, digo mais: com mais facilidade se separariam de vós os anjos e os santos que a divina Mãe, pois que ela vos ama com mais ardor e vos glorifica com mais perfeição que todas as vossas criaturas juntas.
Depois disto, meu amável Mestre, não é triste e lamentável ver a ignorância e as trevas em que jazem todos os homens na terra, a respeito de vossa Mãe Santíssima? Não falo dos idólatras e pagãos, que, não vos conhecendo, também não se importam de conhecê-la; nem falo dos hereges e cismáticos, que não têm a peito ser devotos de vossa Mãe Santíssima, pois estão separados de vós e de vossa Santa Igreja; falo, porém, dos cristãos católicos, e mesmo de doutores entre os católicos que exercem a profissão de ensinar aos outros a verdade, e, no entanto não vos conhecem nem a vossa Mãe Santíssima, a não ser de um modo especulativo, seco, estéril e indiferente. Estes senhores raras vezes falam de Maria e da devoção que se lhe deve ter, porque, dizem, receiam que se abuse dessa devoção e que se vos ofenda, honrando excessivamente vossa Mãe Santíssima.”
(...)
“Ó meu amável Jesus, terá essa gente o vosso espírito? Será possível que vos agradem, agindo desse modo? Poderá alguém agradar-vos sem fazer todos os esforços para agradar a Maria, por medo de vos desagradar? A devoção a vossa Mãe impede a vossa? Atribuir-se-á ela as honras que lhe damos? Formará ela um partido diverso do vosso? É ela, acaso, uma estrangeira sem a menor ligação convosco? É desagradar-vos querer agradar-lhe? Separamo-nos, talvez, ou nos afastamos de vosso amor, se nos damos a ela e a amamos?”
(...)
“Concedei-me a graça de louvar dignamente vossa Mãe Santíssima, como se nada fosse o que, até aqui, disse em sua honra (...) a despeito de todos os seus inimigos, que são os vossos, e que eu lhes repita com os santos: Não presuma receber a graça de Deus, quem ofende sua Mãe Santíssima”

16. De acordo com São Luís de Montfort e com a doutrina revelada por Deus, qual a melhor maneira de agradarmos a Deus?
A melhor maneira de agradarmos a Deus e de trabalharmos para Sua glória – único objetivo da vida – é honrando, amando e servindo a Mãe de Deus, Maria Santíssima.

17. Como podemos amar, honrar e servir a Mãe de Deus, para assim melhor amarmos, honrarmos e servirmos a Seu Divino Filho?
Devemos procurar conhecê-La, estudando o que a doutrina Católica ensina sobre Ela; amá-La ternamente como filhos e confiar-Lhe todas as nossas preocupações, pois Ela, como Mãe bondosa que é, nos alcançará de Seu Divino Filho todas as graças necessárias a nossa eterna salvação; procurar fazer algo para aumentar-Lhe a glória que Ela recebe das criaturas, falando sempre de Seu poder e de Seu amor, ouvindo Missas em Sua honra, oferecendo-Lhe a Santa Comunhão (que é o Seu próprio Filho e, portanto, o melhor presente que podemos oferecer-Lhe); e, sobretudo, rezando diariamente a oração que Ela sempre recomendou aos seus filhos: o Santo Terço.

18. Com estas práticas honraremos a Mãe de Deus como Ela realmente merece?
Com estes pequenos obséquios não honraremos a Santíssima Virgem como Ela realmente merece, visto que somente Deus pode proporcionar-Lhe a glória devia à sua grandeza. Mais uma vez, neste ponto, nos ensina São Luís de Montfort: “Ainda não se louvou, exaltou, honrou, amou e serviu suficientemente a Maria, pois muito mais louvor, respeito, amor e serviço Ela merece. É preciso dizer, ainda, com o Espírito Santo: “Toda a glória da Filha do Rei está no interior” (Sl 44, 14), como se toda a glória exterior que lhe dão o céu e a terra, nada fosse em comparação daquela que Ela recebe no interior, da parte do Criador, e que desconhecem as fracas criaturas, incapazes de penetrar o segredo dos segredos do Rei.”

19. São, portanto, inúteis todos os obséquios que se prestam à Virgem Santíssima?
Não, pois, embora não possam honrá-La devidamente, em razão de Sua sublime dignidade de Mãe de Deus, Ela os aceita amorosamente, por Sua bondade, e como Mãe carinhosa agradece estes obséquios de Seus filhos, rogando ao Seu Divino Filho que lhe dê o Paraíso e todas as graças necessárias para se salvarem.

20. É necessário, pois, para se salvar, ter devoção à Mãe de Deus?
Sim, para entrar no Paraíso é necessário ser devoto de Maria Santíssima, pois todas as graças nos vêm por meio dEla e Deus não dispensa nenhuma graça se não for por meio de Sua Mãe Santíssima. Neste sentido, a Santa Igreja Lhe aplica o título de Janua Cæli (Porta do Céu). É Deus o Legislador do quarto Mandamento (“Honrarás teu pai e tua mãe”), desta forma, Jesus Cristo Deus, para nos ensinar como praticar os Mandamentos, honra de maneira admirável Sua Mãe Santíssima, não concedendo graça alguma a não ser por meio de Sua intercessão. Deus assim age porque quer, dessa forma, honrar Sua Mãe Santíssima, e não por ter necessidade disso.

21. Por que motivo é tão poderosa a Santíssima Virgem?
A Santíssima Virgem é tão poderosa porque é Mãe de Deus, seus rogos têm autoridade de Mãe, sendo assim impossível que não seja atendida por Seu Filho, que é Deus. Por isso a Igreja, em Suas litanias, Lhe aplica o título de Virgo Potens (Virgem Poderosa).

22. Que nos ensinam os Santos a respeito da devoção à Virgem Maria?
A respeito da devoção a Maria, os Santos nos ensinam que os seus verdadeiros devotos são por Ela amados e protegidos com amor de Mãe muito terna, e por meio dEla têm a certeza de encontrar Jesus Cristo e de alcançar o Paraíso.

23. Qual é a devoção à Virgem Maria que a Igreja nos recomenda de modo especial?
A devoção que a Igreja nos recomenda de modo especial em honra da Santíssima Virgem é a reza diária do Santo Terço ou mesmo o Rosário cotidiano, se tivermos tempo.

§ Do problema das imagens

24. Se no primeiro mandamento da lei de Deus foi proibido fazer imagens, por que a Igreja Católica permite fazê-las?
O primeiro mandamento da Lei dada por Deus a Moisés, no Sinai, diz: "Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma do que há em cima no céu, e do que há em baixo na terra, nem do que há nas águas debaixo da terra. Não adorarás tais coisas, nem lhes prestarás culto." (Ex. XX, 3-5 e Deut. V, 8).
No Deuteronômio Deus repete essa proibição, dizendo: "Não farás para ti, nem levantarás nenhuma estátua, coisas que o Senhor, teu Deus, aborrece." (Deut. XVI, 21).
Baseados nesses textos da Bíblia, os protestantes de todos os naipes - repetindo a heresia dos iconoclastas - acusam a Igreja Católica de não acatar a ordem de Deus, pois permite que se façam esculturas e imagens de Cristo e dos santos, para serem veneradas.
Esse raciocínio dos hereges peca, porque isola esse texto de outros. Se houvesse apenas essas frases na Escritura a respeito de imagens, eles teriam razão. Acontece que o mesmo Deus que deu essa lei em outras passagens disse o contrário, pelo menos aparentemente.

25. Então há outros trechos da Escritura em que Deus ordena a fabricação de imagens?
Sim, vejamos. No mesmo Êxodo, quando Deus - cujo primeiro mandamento proibira fazer esculturas do que há no céu - mandou fazer a Arca da Aliança para que nela se guardassem as tábuas da Lei, Deus diz: "Farás também dois querubins de ouro batido, nas duas extremidades do oráculo. Um querubim esteja dum lado, o outro do outro. Cubram ambos os lados do propiciatório, estendendo as asas e cobrindo o oráculo, e estejam olhando um para o outro com os rostos voltados para o propiciatório, com o qual deve ser coberta a arca, na qual porás o testemunho, que Eu te hei de dar. De lá te darei as minhas ordens, em cima do propiciatório e do meio dos querubins, que estarão sobre a arca do testemunho, e te direi todas as coisas que por meio de ti intimarei aos filhos de Israel" (Ex. XXV, 17-22). Esse texto será repetido em Ex XXXVII, 7. Quando Deus mandou fazer o Templo, ordenou que se fizesse um mar de bronze, isto é, uma grande bacia de bronze, e disse: "e [o mar] estava assente sobre doze bois, três dos quais olhavam para o setentrião, três para o ocidente, três para o meio dia e três para o oriente, e o mar estava em cima deles; as partes posteriores deles escondiam-se todas para a parte interna" (I Reis, VII, 25).

26. Há mais passagens em que Deus ordena os homens a fazer imagens?
Há ainda várias outras passagens em que Deus ordenou que se fizessem esculturas. Eis algumas: No Livro dos Números, quando os judeus se rebelavam contra Deus porque os tirara do Egito, Deus os puniu, castigando-os com serpentes. E o povo rogou a Moisés que intercedesse a Deus por ele, dizendo: "Roga [a Deus] que afaste de nós as serpentes. E Moisés orou a Deus pelo povo, e o Senhor disse a ele: " Faze uma serpente de bronze, e põe-na por sinal; aquele que, sendo ferido, olhar para ela, viverá. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e pô-la por sinal; e os feridos que olhavam para ela, saravam." (Num. XXI, 7-9). De novo: se Deus proibiu fazer figuras e esculturas do que havia sobre a terra, como então ordena que Moisés faça uma serpente de bronze? E, mais, quem olhasse para a serpente era curado, ocasionando aos judeus mais rústicos a idéia - que poderia ser uma tentação -- de considerar que na serpente de bronze havia algo de espiritual ou divino capaz de curar.
Poderia haver contradição em Deus? Claro que não. Então deve haver alguma explicação para isso: Deus proíbe fazer imagens e Deus manda fazer imagens. Uma delas, uma imagem de serpente que curava sendo olhada. [Reparemos ainda -- de passagem -- que na Bíblia se admitem intercessores humanos diante de Deus, ao contrário do que erradamente ensinam os protestantes de todas as seitas, que não admitem intercessores.]
Descrevendo o mar de bronze, diz a Bíblia: "O trabalho da base era a cinzel e havia esculturas entre as junturas. Entre as coroas e festões havia leões, bois, querubins e também nas junturas da parte de cima; debaixo dos leões e dos bois pendiam como que umas grinaldas de cobre." (I Reis, VII, 28-29). No Livro I das Crônicas ou I dos Paralipômenos se lêem outras particularidades das esculturas que Deus ordenou que fossem feitas por ordem de Salomão para o Templo de Deus, em Jerusalém: "Pôs no oráculo dois querubins feitos de madeira de oliveira, de dez côvados de altura"(...) "adornar todas as paredes do Templo em roda com várias molduras e relevos, figurando nelas querubins, palmas e diversas figuras, que pareciam destacar-se saindo da parede" (...) "Nestas duas portas de madeira de oliveira entalhou figuras de querubins, palmas, relevos de muito realce de ouro tanto os querubins como as palmas, e todas as outras coisas" (...) "esculpiu nelas querubins, palmas e relevos muito salientes; "(I Cr. V, 23-24; 29; 32; 35). "Também para os garfos, copos, turíbulos de ouro puríssimo, para os leõezinhos de ouro, segundo os seus tamanhos, destinou o peso de ouro para cada um dos leõezinhos. Do mesmo modo, para os leões de prata, separou outro peso de prata. Para o altar, em que se queima o incenso, deu do ouro mais fino, para que dele se fizesse a figura dum carro de querubins, que estendessem as asas e cobrissem a arca da aliança do Senhor" (I Cr. XXVIII, 17-18). Se os protestantes concordam que de fato havia imagens no Templo de Salomão porque então contestar as imagens presentes nas igrejas Católicas? É somente com muito orgulho e com ódio à verdade que se nega essa evidência.
Quando a Arca da Aliança caiu em mãos dos filisteus, Deus os puniu com uma praga. Para se livrarem dela, os filisteus consultaram os seus adivinhos, que mandaram que eles fizessem cinco objetos de ouro representando a parte de seu corpo ferida pela praga, e cinco ratos de ouro, colocando esses objetos junto com a Arca da Aliança, sobre um carro de boi, deixando-o livre para partir. E o carro foi em direção dos judeus, que recuperaram a Arca.
Ora, o fato de que Deus atendeu os filisteus, curando-os, comprova que Ele aceitara a dádiva dos cinco ratos de ouro e dos cinco objetos representando a parte ferida pela praga.
Em suma, Deus ordena a confecção de imagens em diversos trechos da Bíblia: Êxodo XXV,18 (QUERUBINS de ouro), e várias imagens no Templo de Salomão: 2 QUERUBINS no Oráculo (III Reis 6,23-28), e na bacia de bronze: 12 BOIS! (III Reis 7,25); BOIS e LEOES e QUERUBINS! (III Reis 7,28-29) e ainda "como que figuras de HOMENS EM PÉ", e mais QUERUBINS e LEÕES (III Reis 7,36).
Portanto, nem sempre as esculturas são condenáveis.

27. O que estas citações comprovam?
Todas essas citações comprovam que os protestantes fazem uma tremenda confusão lendo apenas uma frase isolada da Bíblia, esquecendo -- de propósito -- outras. Além disso, todas essas citações demonstram que, se Deus proibiu fazer esculturas e imagens no primeiro mandamento, Ele mandou, em outras ocasiões, e por diversas vezes, que se fizessem esculturas e figuras.

28. Se Deus proibira fazer "figura alguma do que há em cima do céu" e outras esculturas, como é que depois manda fazer as figuras de dois querubins, bois, leões, homens em pé, e as demais imagens?
Aparentemente é uma contradição, e em Deus não pode haver contradição. Logo, deve haver uma explicação para fazer estátuas.

29. Qual é esta explicação?
A explicação não é difícil. Há dois tipos de proibições: as proibições absolutas e as proibições relativas. Imaginemos, um professor irritado com sua classe barulhenta, que lhes grita: "Proibo que abram a boca". A seguir, ele chama um dos alunos para pedir-lhe a lição, numa chamada oral. Ele pergunta uma coisa ao Zezinho, que nada responde. Pergunta outra, Zezinho mantem-se absolutamente de boca fechada. Pergunta pela terceira vez, e Zezinho fica absolutamente silencioso. O professor lhe dá nota zero. A seguir, o professor surpreende um outro aluno comendo um sanduiche. Irritado de novo, diz que doravante proíbe que comam.
Terminadas as aulas, Zezinho vai para casa e recusa comer e falar: mantém-se de boca fechada. A mãe insiste e Zezinho se mantém inamovível; a boca dele não abre. Afinal explica por escrito porque não fala e não come: o professor proibira comer e falar. Por isso tirou zero na lição oral e recusa comer qualquer coisa.
Evidentemente, Zezinho é pouco entendedor... O professor "proibira abrir a boca em classe", no sentido que proibia conversar, mas não repetir a lição oralmente. Ele proibira comer durante a aula, mas não em casa. As proibições do professor eram de caráter relativo, e não absoluto. O professor não dissera nenhuma contradição. Falta de inteligência indicava Zezinho ao entender proibições para a classe, durante a aula, como proibições absolutas, válidas para sempre e em todas as circunstâncias.

30. Depois deste exemplo, o que podemos concluir das proibições de imagens na Escritura Sagrada?
Podemos concluir que da mesma forma, se Deus proibiu fazer imagens e, depois, por diversas vezes, mandou fazer imagens, como em Deus não pode haver contradição, segue-se que a proibição de fazer imagens é relativa e não absoluta.

31. Então em que sentido Deus proibiu fazer imagens?
Deus proibiu fazer imagens para adoração. Deus proibiu fazer ídolos, e não fazer imagens. Por isso a Igreja, que compreende e aceita tudo o que Deus disse na Sagrada Escritura e que não isola uma frase de outra, mas a todas harmoniza, a Igreja sempre permitiu o uso de imagens e sua veneração, mas nunca a sua adoração.
Aliás, qualquer protestante, na prática diária, desobedece ao que eles dizem ser a verdadeira interpretação do primeiro mandamento, porque tiram fotografias de si e de seus parentes, guardam-nas e, se têm carinho por uma pessoa, beijam sua foto. Se eles cressem mesmo que é proibido fazer imagens, nunca poderiam tirar fotos de nada. E nem ter espelhos em casa, porque em cada espelho se formam imagens. Nem poderiam ter filhos, porque cada homem é feito à imagem e semelhança de Deus. Imagem, por causa da alma racional (inteligência e vontade); semelhança pela santidade, vinda da graça. O próprio Cristo é a imagem de Deus visível, é Deus conosco (Emanuel). Como podemos condenar as imagens?
Recusar imagens é recusar as criaturas de Deus, que nos aparecem visivelmente.
Em última instância é recusar a própria encarnação de Cristo.
É exatamente isso o que fazem aqueles que rejeitam a matéria como criatura boa de Deus, e que reduzem a religião a uma experiência interior e inefável, sentimental, rejeitando então toda doutrina e toda revelação.

32. O que dizer, depois disso, dos que negam imagens a pretexto de serem proibidas por Deus?
Infelizmente a confusão doutrinária formulada por Lutero trouxe grandes males e os seus frutos são facilmente percebidos hoje em nossa sociedade. É com pesar que muitos, principalmente pessoas batizadas no seio católico, se afastaram da Igreja verdadeira e caíram em total relativismo religioso. Deixou-se de aceitar que exista uma única verdade, uma única Fé, um único batismo, uma única Igreja, um único Deus, para seguir aquilo que bem entenderem, mesmo que seja procurando o máximo de fidelidade à Sagrada Escritura.

33. O que há de tão valoroso em Lutero e em seus precursores, que faz com que aceitem a sua doutrina e se tornem protestantes?
Com certeza não seria o seu exemplo de vida, pois Lutero cheio de ódio à Igreja e ao Papa dizia as piores blasfêmias sobre Deus e Cristo. No livro "Conversas à Mesa" [Tischreden, em alemão] – o qual se refere a um conjunto de anotações coletadas por de seus admiradores o monge alemão comentava que Deus agia como louco ou de modo muito tolo: "Deus est stultissimus" (Lutero, Conversas à Mesa, ed Weimar, N* 963, Vol. I , p. 487. Apud Franz Funck Brentano op. cit. p. 147).
Com relação ao destino, Lutero culpava Deus por todos os crimes, e dizia que Judas não podia deixar de trair Cristo, nem Adão tinha liberdade para não pecar. Considerando que era Deus que determinava os pecadores a pecar, Lutero conclua dizendo "Deus age sempre como um louco" (Franz Funck Brentano, Martim Lutero, p. 111).
Em tais anotações, é possível encontrar ainda o seguinte comentário o qual deixa patente decadência moral daquele herege: "Cristo Adúltero. Cristo cometeu adultério pela primeira vez com a mulher da fonte [do poço de Jacó] de que nos fala São João. Não se murmurava em torno dele: "Que fez, então, com ela? " Depois, com Madalena, depois, com a mulher adútera, que ele absolveu tão levianamente. Assim, Cristo, tão piedoso, também teve que fornicar, antes de morrer" (Lutero, Tischredden, Conversas à Mesa, N* 1472, edição de Weimar, Vol. II, p. 107, apud Franz Funck Brentano, Martim Lutero, Ed Vecchi Rio de Janeiro 1956, p. 15). O que faz as pessoas o admirarem é a ignorância a respeito de sua má vida e das contradições de sua doutrina e a falta de conhecimento da Doutrina revelada por Deus, isto é, a doutrina Católica, como foi provado.

34. De acordo, pois, com a verdade, é lícito fazer e venerar as imagens?
A veneração de imagens de santos é uma ação muito boa para as pessoas, principalmente para aquelas que estão se convertendo, pois, é por meio da lembrança dos exemplos dos santos que nos levam a contemplar a Deus. É lembrando da maneira de vida que essas pessoas humildemente tiveram na terra e da servidão a Deus que nos faz desejar alcançar o Céu. Devemos todos procurar a santidade, por mais indignos e miseráveis que sejamos. É por isso que nos prostramos diante deles e pedimos a sua intercessão junto a Deus para que, junto com suas orações, Ele nos perdoe de nossas faltas e ajude em nossas necessidades.

§ Da realeza de Maria Santíssima

35. A Santíssima Virgem é Rainha?
Sim, a Santíssima Virgem é Rainha do céu e da terra. Tendo sido a Santíssima Virgem elevada à dignidade de Mãe de Deus, com justa razão a Santa Igreja a honra, e quer que de todos seja honrada com o título glorioso de Rainha.

36. Explicai-me porque a Santíssima Virgem é Rainha do Céu e da terra.
Deus, por natureza, é o Rei do céu e da terra e de tudo o que eles contêm. Desde o momento em que Maria aceitou ser Mãe do Verbo Eterno (Deus) mereceu tornar-se Rainha do mundo e de todas as criaturas. Se o Filho é Rei, justamente a Mãe deve considerar-se e chamar-se Rainha.

37. Qual o império da Santíssima Virgem?
Se Jesus é Rei do universo, do universo também é Maria Rainha, de modo que, quanta são as criaturas que servem a Deus, tantas também devem servir a Maria. Por conseguinte estão sujeitos ao domínio de Maria os anjos, os homens e todas as coisas do céu e da terra, porque tudo está também sujeito ao império de Deus. Por isso a Igreja ensina Seus filhos a invocar-Lhe com o título de Nossa Senhora, isto é, Rainha nossa.

38. Os demônios, no inferno, também estão sujeitos ao domínio da Santíssima Virgem?
Sim, e isso nos assegura São Luís de Montfort, dizendo: “Dos próprios demônios no inferno, não há um que não a respeite, embora temendo” (...) “os próprios demônios, de bom ou mau grado, são obrigados a proclama-la bem-aventurada”.

39. Visto ser a Virgem Santíssima Rainha, poderá um dia vir instaurar o Seu reino material aqui na terra?
Embora seja Rainha, jamais a Santíssima Virgem virá instaurar um reino material na terra, visto que Seu próprio Filho disse a Pôncio Pilatos: “O meu reino não é deste mundo”. E São Luís também assim ensinava: “Maria é Rainha do céu e da terra, pela graça, como Jesus é o Rei por natureza e conquista. Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração ou o interior do homem, conforme a palavra: “O reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17, 21), o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem, isto é, em sua alma, e é principalmente nas almas que Ela é mais glorificada com Seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-La com os santos “a Rainha dos corações”.” Ensinava, portanto, que o reino de Maria Santíssima é espiritual, isto é, nas almas. É tolice, portanto, esperar um reino material de Maria aqui na terra.

40. O que dizer, então, de Sua promessa em Fátima: “Por fim meu Imaculado Coração triunfará”?
Com esta promessa, a Santíssima Virgem apenas nos assegurou que por meio dEla Deus irá vencer a crise de Fé que hoje assola a Igreja.

41. Quando a Igreja celebra a festa da realeza de Maria?
A Igreja, por disposição do Papa Pio XII, celebra a festa da realeza de Maria no dia 31 de maio, quando se faz, solenemente, a coroação de uma de Suas santas imagens.

§ Rainha de Misericórdia

42. Sendo a Santíssima Virgem Rainha do céu e da terra, terá Ela menos cuidado em nos auxiliar, devido a Sua excelsa dignidade?
Não. Maria é Rainha, mas saibamos todos que é uma Rainha cheia de doçura e de clemência, sempre inclinada a favorecer e fazer bem a nós, pobres pecadores.

43. O que a Santa Igreja nos ensina neste ponto?
A Igreja quer que a saudemos com o nome de Rainha e Mãe de Misericórdia.

44. A Santíssima Virgem deve usar de justiça para com os réus, isto é, para com os pecadores?
Devem os reis principalmente empregar-se nas obras de misericórdia, procurando o bem de seus vassalos, mas sem omitir, quando necessário, a justiça para com os réus. Não assim Maria. Bem que seja Rainha, não é rainha de justiça, zelosa do castigo dos malfeitores. É Rainha de Misericórdia, inclinada só à piedade e ao perdão dos pecadores. Santa Teresinha do Menino Jesus assim diz da Virgem Santíssima: “Eu sei que Nossa Senhora é a Rainha do Céu e da terra, mas Ela é muito mais Mãe do que Rainha”, querendo demonstrar a ternura da Rainha do Céu.

45. Podemos, porventura, temer que Maria desdenhe empenhar-se pelo pecador, por vê-lo tão carregado de pecados? Ou acaso nos devem intimidar a majestade e a santidade desta grande Rainha?
Não, porque, segundo o Papa São Gregório Magno, “quanto Ela é mais excelsa e mais santa, tanto é mais doce e mais piedosa para com os pecadores, que se querem mudar de vida e a Ela recorrem”.

46. Devemos, pois, sempre recorrer à Santíssima Virgem para obtermos o perdão de nossos pecados e a força para não mais pecar?
Sim, sempre devemos recorrer à Mãe de Deus, para alcançar de Seu Filho as graças que nós, míseros pecadores, não merecemos.

47. Não se devia, ao contrário, recorrer a Jesus Cristo?
Quando se recorre à Maria Santíssima, não fazemos outra coisa que recorrer a Jesus Cristo por meio dEla. Toda graça é de Cristo, mas nos vem por Maria, como o próprio Cristo, fonte de todas as graças, nos veio por meio de Maria. Ele é o único Salvador nosso, o único intermediário de necessidade absoluta entre Deus e nós. Mas Ele quis vir a nós por meio de Maria. Deste modo, explica São Luís de Montfort, Maria Santíssima é, para nós, uma intermediária de necessidade hipotética. Isto é, tendo Deus querido servir-Se dEla como meio para se encarnar e vir até nós, Ela foi então necessária, porque Deus quis utilizá-La como meio.

48. É mais agradável a Deus e útil a nós ir a Ele por meio de Sua Mãe Santíssima?
Evidente que sim. É mais agradável a Cristo, pois Lhe rendemos honra por sua majestade divina, a quem ultrajamos e por isso não temos coragem de apresentarmos diretamente. Indo a Ele por Maria, demonstramos respeito por Sua majestade divina. É, ainda, mais agradável a Deus, pois o amor que Ele dedica a Sua Mãe Santíssima é imenso, acima de todo o amor que Ele dedica às outras criaturas, comprazendo-se, por isso, em vê-La amada e honrada por nós. Por outro lado, é mais útil a nós, pois por ser Cristo o próprio Deus, a Quem nossos pecados ofende, facilmente nos faltará a confiança em pedir-Lhe graças, sendo que recorrendo a Maria Santíssima, que é Mãe de Misericórdia, não nos faltará confiança em pedi-las, alcançando-as mais depressa.

49. Jesus Cristo sempre atende os rogos de Sua Mãe Santíssima?
Sim. Maria Santíssima tem todo o poder no céu e na terra. Só Deus é onipotente. Mas Cristo quis dar a Ela a onipotência suplicante. O que Ela Lhe pedir, Ele lho concederá, pois Cristo nada recusa à sua divina Mãe. É o que ficou provado em Caná da Galiléia, quando Jesus Cristo mudou a água em vinho a pedido de Sua Mãe Santíssima, mesmo não sendo a hora. É o que ficou ainda mais provado, quando Ela pedia a Deus que mandasse à terra o Redentor. Sua oração foi tão poderosa que alcançou que Deus se encarnasse. “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”, disse-lhe o anjo. E disse-lhe mais: “Não temas Maria, porque achaste graça diante de Deus” (Luc. I, 28-29).

§ Da necessidade dos rogos de Maria Santíssima

50. Deus necessita de Maria Santíssima?
Não. A Igreja ensina que Maria é uma pura criatura saída das mãos do Altíssimo. Comparada, portanto, à majestade infinita, Ela é menor que um átomo, é antes, um nada. E, por conseguinte, este grande Senhor, sempre independente e bastando-se a Si mesmo, não tem nem teve jamais necessidade da Santíssima Virgem para a realização de suas vontades e a manifestação de sua glória. Basta-Lhe querer para tudo fazer.

51. Por que, então, Deus se utiliza da Virgem Maria?
Entretanto, já que Deus quis começar e acabar Suas maiores obras por meio da Santíssima Virgem, depois que a formou, é de crer que não mudará de conduta nos séculos dos séculos, pois é Deus, imutável em sua conduta e em Seus decretos.

52. Quais são as principais obras que Deus quis começar e acabar por meio de Maria, provando que assim continuará eternamente?
As principais obras que a Santíssima Trindade realizou por meio de Maria foram:
Deus Pai só deu ao mundo seu Filho Unigênito por Maria. Suspiraram os patriarcas, e pedidos insistentes fizeram os profetas e os santos da lei antiga, durante quatro milênios, mas só Maria o mereceu e alcançou graça diante de Deus.
Em Maria e por Maria é que o Filho de Deus se fez homem para nossa salvação.
Deus Espírito Santo formou Jesus Cristo em Maria, mas só depois de lhe ter pedido consentimento por intermédio de um dos primeiros ministros da corte celestial.

53. Sobre este ponto, o que nos ensina São Luís Maria Grignion de Montfort?
São Luís de Montfort assim escreve: “Se examinarmos atentamente o resto da vida de Jesus, veremos que foi por Maria que Ele quis começar seus milagres. Pela palavra de Maria Ele santificou São João no seio de Santa Isabel; assim que as palavras brotaram dos lábios de Maria, João ficou santificado, e foi este o seu primeiro e maior milagre de graça. Foi ao humilde pedido de Maria, que Ele, nas núpcias de Caná, mudou água em vinho, sendo este seu primeiro milagre sobre a natureza. Ele começou e continuou seus milagres por Maria, e por Maria os continuará até ao fim dos séculos.”

54. Podemos, pois, recorrer sempre à Rainha de Misericórdia, sem medo de ofender a Deus?
Sim. E sempre que o fizermos, muito agrado estaremos dando ao Rei do céu, que muito se alegra em conceder-nos graças por meio de Sua Mãe Santíssima, como Ele mesmo nos ensinou.

55. Que outro título a Igreja nos ensina a invocar a Mãe de Deus, para melhor nos manifestar Sua misericórdia?
A Santa Igreja, para melhor manifestar aos seus filhos a misericórdia da Mãe de Deus, nos ensina a invocar-Lhe com o título de Advogada. E Ela de fato o é. Advogada significa chamada a ser aquela que fala por nós, que nos defende. Ela, por ser nossa Mãe misericordiosa, está sempre pronta a interceder a Deus por nós, para que nos perdoe. Foi o próprio Deus que a constituiu como nossa advogada, porque o Deus infinitamente misericordioso se compraz em nos fazer misericórdia, atendendo aos pedidos dEla.

56. Jesus Cristo é o “único Mediador entre Deus e os homens” e “o nosso Advogado diante do Pai”, como diz a Escritura, por que, então, a Igreja nos ensina a invocar a Santíssima Virgem como Advogada e Medianeira?
Jesus Cristo é o nosso único Mediador e Advogado diante de Deus Pai de necessidade absoluta, isto é, necessitamos absolutamente dos méritos de Cristo para alcançarmos graças de Deus. A Santíssima Virgem, Mãe de Jesus, é nossa Advogada e Medianeira de necessidade hipotética, isto é, Ela exerce este ofício porque Deus assim o quis, e não porque necessitasse dEla.

57. O que Santo Afonso de Ligório escreveu sobre este assunto?
Santo Afonso, Bispo e Doutor da Igreja, assim escreveu, sobre a intercessão da Santíssima Virgem, em seu Glórias de Maria: “”É a invocação e veneração dos santos, particularmente a de Maria, Rainha dos santos, uma prática não só lícita senão útil e santa. Pois procuramos por meio dela obter a graça divina. Esta verdade é de fé, estabelecida pelos Concílios contra os hereges que a condenam como injúria feita a Jesus Cristo, nosso único medianeiro. Mas, se, depois da morte, um Jeremias reza por Jerusalém; se os anciãos do Apocalipse apresentam a Deus as orações dos santos; se um S. Paulo promete a seus discípulos lembrar-se deles depois de sua morte; se S. Estevão intercede por seus perseguidores e um S. Paulo, por seus companheiros; se, em suma, podem os santos rogar por nós, por que não poderíamos nós, por nossa vez, rogar-lhes para que intercedam por nós? Às orações de seus discípulos recomenda-se S. Paulo: “Irmãos, rezai por nós” (1 Tes 5, 25). S. Tiago exorta-nos “que roguemos uns pelos outros” (5, 16). Podemos, por conseguinte fazer o mesmo.
Que seja Jesus Cristo único Mediador de justiça, a reconciliar-nos com Deus, pelos seus merecimentos, quem o nega? Não obstante isto, compraz-se Deus em conceder-nos suas graças pela intercessão dos santos e especialmente de Maria, sua Mãe, a quem tanto deseja Jesus ver amada e honrada.
Seria impiedade negar semelhante verdade. Quem ignora que a honra prestada às mães redunda glória para os filhos? Os pais são as glórias dos filhos, lemos nos Provérbios (17,6). Quem muito enaltece a mãe, não precisa ter receio de obscurecer a glória do filho. Pois quanto mais se honra a Mãe, tanto mais se louva ao Filho, diz S. Bernardo. E observa S. Ildefonso: É tributada ao Filho e ao Rei toda a honra que se presta à Mãe e à Rainha. Ao mesmo tempo está fora de dúvida que pelos merecimentos de Jesus Cristo foi concedida a Maria a grande autoridade de ser medianeira da nossa salvação, não de justiça, mas de graça e intercessão, como bem lhe chamou Conrado de Saxônia com o título de “fidelíssima medianeira de nossa salvação”. E S. Lourenço Justiniano pergunta: Como não ser toda cheia de graça, aquela que se tornou a escada do paraíso, a porta do céu e a verdadeira medianeira entre Deus e os homens?
Portanto, bem adverte Suárez: Quando suplicamos à Santíssima Virgem nos obtenha as graças, não é que desconfiemos da misericórdia divina, mas é muito antes porque desconfiamos da nossa própria indignidade. Recomendamo-nos, por isso, a Maria, para que supra sua dignidade a nossa miséria.” (S. Afonso de Ligório, “Glórias de Maria” Ed. Santuário, 15ª. edição, cap.V, n.1.1, pp.130-131)

58. O que São Luís de Montfort, de acordo com a Igreja, ensina sobre este ponto?
São Luís assim escreve: “É muito mais perfeito, porque é mais humilde, tomar um medianeiro para nos aproximarmos de Deus. Se nos apoiarmos sobre nossos próprios trabalhos, habilidade, e preparações para chegarmos a Deus e agradar-Lhe, é certo que todas as nossas obras de justiça ficarão manchadas e peso insignificante terão junto de Deus, para movê-Lo a unir-se a nós e nos atender, pois (...) nosso íntimo é extremamente corrupto. (...) Aproximar-se diretamente de Sua Santidade sem outra recomendação é faltar ao respeito a um Deus tão alto e tão santo.
Nosso Senhor é nosso advogado e nosso medianeiro de redenção junto de Deus Pai.
(...)
Mas temos necessidade dum medianeiro junto do próprio Medianeiro. Será nossa pureza suficiente para que nos permita unir-nos diretamente a Ele, e por nós mesmos? Não é Ele Deus, em tudo igual ao Pai, e, por conseguinte, o Santo dos santos, digno de tanto respeito como seu Pai?
(...)
Digamos, pois (...) temos necessidade de um medianeiro junto do Medianeiro por excelência, e que Maria Santíssima é a única capaz de exercer esta função admirável. Por Ela Jesus Cristo veio a nós, e por Ela devemos ir a Ele.”

59. Não devemos ter certo temor da Santíssima Virgem, devido a Sua santidade e grandeza?
Não. Maria Santíssima, como diz Santo Afonso de Ligório, embora seja a mais admirável das criaturas, continua sendo criatura, não é Deus. A Santíssima Virgem é puramente humana, não possui nada de divino. “É uma filha de Adão como nós”, embora sem a mancha do pecado original. E continua São Luís dizendo: “Se receamos ir diretamente a Jesus Cristo Deus, em vista de sua grandeza infinita, ou por causa de nossa baixeza, ou devido aos nossos pecados, imploremos afoitamente o auxílio e a intercessão de Maria, nossa Mãe, Ela é boa e terna; nEla não há severidade nem repulsa, tudo nEla é sublime e brilhante, contemplando-A, vemos nossa própria natureza. Ela não é o Sol, que, pela força de seus raios, nos poderia deslumbrar em nossa fraqueza, mas é bela e suave como a Lua (Ct 6, 9), que recebe a luz do Sol e a tempera para que possamos suporta-la.”

60. Depois dessa explanação, o que podemos concluir?
Depois deste sublime ensinamento, podemos concluir com São Boaventura: de acordo com suas palavras, temos três degraus a subir para chegar a Deus: o primeiro, mais próximo de nós e mais conforme a nossa capacidade, é Maria; o segundo é Jesus Cristo; e o terceiro é Deus Pai. Para ir a Jesus é preciso ir a Maria, pois Ela é a medianeira de intercessão. Para chegar ao Pai Eterno é preciso ir a Jesus, que é nosso medianeiro de redenção.

61. O que faz uma pessoa que se aproxima de Deus diretamente, ou de Jesus Cristo, que é Deus também?
Uma pessoa que fizesse tal temeridade faltaria ao respeito para com a Majestade Divina, cometendo um grande pecado de soberba. E a própria Escritura afirma inúmeras vezes: “Quem se exalta, será humilhado”.

62. Há exemplos, na Sagrada Escritura, de alguém que intercedeu por outro a Deus?
Pode-se encontrar inúmeros exemplos disso na Sagrada Escritura. No livro de Jó, por exemplo, se lê que Deus, irritado contra os amigos de Jó, que haviam antes sido injustos para com ele, disse-lhes: “Tomai, pois, sete touros e sete carneiros, ide ao meu servo Jó e oferecei um holocausto por vós; e o meu servo Jó orará por vós; admitirei propício a sua INTERCESSÃO para que não se vos impute esta estultícia” ( Jó XLII, 8).
É claro que Deus conhecia o desejo e o arrependimento dos amigos de Jó, mas Deus quis que eles compreendessem – e que nós, lendo isso, entendêssemos – que o orgulhoso é que se apresenta diretamente a Deus, e que convém que outros roguem por nós. Eles, rogando a Deus por nós, fazem um ato de caridade. Nós, rogando aos santos, praticamos um ato de humildade.
Mais exemplos podem ser encontrados nas seguintes passagens: Gen. XVIII, 26-32 Gen XIX, 21 Gen. XX, 7 Gen. XXVI, 24 Gen. XLIV, 32 Num. XI, 1-3, etc.
Outros exemplos podem se encontrar, lendo o Novo Testamento. Por exemplo, nas bodas de Caná, Jesus mudou a água em vinho, por intercessão de Nossa Senhora. Ele sabia da necessidade dos noivos, mas só fez o milagre, porque Nossa Senhora intercedeu pelos noivos (Jó, II, 3). Assim também São Paulo pedia as orações para intercessão e oferecia as suas (I Timóteo, II 1-3; Efésios, VI, 17-19; Romanos, XV, 30-31; I Tessalonicenses V, 25; II Tessalonicenses III, 1-2; Hebreus XIII, 18-19); E Moisés se dizia intermediário (Deuteronômio, V, 5).

63. Que outros títulos a Santa Igreja invoca a Mãe de Deus, para patentear-nos sua imensa misericórdia, e o que eles nos ensinam?
A Santa Igreja invoca ainda a Mãe de Deus com os títulos de Refúgio dos Pecadores, Consoladora dos Aflitos e Auxílio dos Cristãos, e eles nos ensinam quão grande é a bondade de Maria Santíssima, nossa Mãe, e quanta confiança devemos depositar em sua intercessão, para que Ela veja por si mesma, com seus próprios olhos bondosos, a nossa grande miséria e nossa situação moral terrível. E depois de nossa morte, depois da terrível hora de nossa morte, que Ela mos mostre Jesus, isto é, que vejamos a Deus Nosso Senhor em sua glória, Ele que é o fruto bendito do seio virginal de Maria.

64. Em qual oração, principalmente, a Santa Igreja nos faz refletir sobre estas verdades?
Todas estas belas reflexões, a Santa Igreja nos ensina, principalmente, na oração da Salve Regina.

65. Rezai-a.
Salve Rainha Salve Regina
Salve, Rainha, mãe de misericórdia, Salve Regina, Mater misericórdiae,
vida, doçura, esperança nossa, salve! Vita, dulcedo et spes nostra salve!
A vós bradamos os degredados filhos de Eva. Ad te clamámus, éxsules filii Evae.

A vós suspiramos, gemendo e chorando Ad te suspirámus gementes et flentes
neste vale de lágrimas. In hac lacrimárum valle.
Eia, pois, advogada nossa, Eia ergo, advocata nostra, illos tuos
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, misericórdes óculos ad nos converte.
E depois deste desterro mostrai-nos Jesus, Et Jesum, benedíctum fructum ventris tui,
bendito fruto do vosso ventre, nobis post hoc exsílium, osténde.
Ó clemente, ó piedosa, O clemens, o pia, o dulcis
ó doce sempre Virgem Maria Virgo Maria!

Rogai por nós santa Mãe de Deus V. Ora pro nobis, sancta Dei Génitrix.

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo R. Ut digni efficiámur promissiónibus Christi.


Segunda Parte
Maria Sempre-Virgem, e Seu exemplo de pureza

§ Da Virgindade Perpétua de Maria

66. Maria Santíssima possuía outros filhos, além de Nosso Senhor?
Não, Maria Santíssima não possuía nenhum filho, além do Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Maria Santíssima é, na expressão de Santo Agostinho, a "Virgem que concebe, virgem que dá à luz, virgem grávida, virgem que traz o feto, Virgem perpétua" (Santo Agostinho, Sermones, CLXXXVI, 1, 1). Dado que a conceição do Filho de Deus realizou-se por obra divina, mesmo sendo a Mãe de Deus, Maria Santíssima jamais perdeu sua virgindade, sendo invocada pela Igreja com o título de Santíssima Virgem.

67. Era conveniente que Nosso Senhor nascesse de uma virgem?
Era extremamente conveniente que Cristo fosse concebido de modo virginal, porque, Ele devia nascer como qualquer homem, se não se negaria a sua humanidade. Mas Ele devia ser concebido miraculosamente, para que se compreendesse que Ele era Deus. Cristo nasceu de uma mulher, para provar que era homem. Nasceu de uma Virgem, para ficar claro que Ele era Deus. Por isso é que o Profeta Isaías, séculos antes, anunciou que "Pois por isso, o mesmo Senhor vos dará este sinal: uma Virgem conceberá e dará à luz a um filho, e o seu nome será Emanuel" (Is. VII , 14).

68. A virgindade perpétua de Nossa Senhora foi revelada por Deus?
Sim, a virgindade perpétua de Nossa Senhora pertence ao depósito da Fé, isto é, faz parte das verdades ensinadas pelo próprio Deus, pela Sagrada Escritura e pela Sagrada Tradição e confirmadas pela Igreja, pelo Sagrado Magistério.

69. Quando a Igreja, exercendo seu Magistério infalível, proclamou como verdade revelada por Deus – dogma – a virgindade perpétua de Nossa Senhora?
A Igreja desde sempre, através das definições dos concílios infalíveis, proclamou a virgindade perpétua de Nossa Senhora, como por exemplo:
• Concílio de Constantinopla II (553): “Jesus encarnou-se da gloriosa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria”;
• Concílio Lateranense (640): “Maria concebeu do Espírito Santo sem sêmen e deu à luz sem corrupção, permanecendo mesmo depois do parto a sua indissolúvel virgindade”;
• Bula do papa Paulo IV (1555): “Sempre Virgem, antes do parto, durante e depois do parto”.
Fica, pois, provado, pela Sagrada Tradição, que a virgindade perpétua de Nossa Senhora é uma verdade revelada pelo próprio Deus.

70. A Sagrada Escritura ensina a mesma verdade?
Evidente que sim, pois tanto a Sagrada Escritura quanto a Sagrada Tradição tem como Autor o próprio Deus, que, sendo a própria Verdade, não pode entrar em contradição.

71. É necessário saber em quais trechos da Escritura contêm esta verdade?
Tendo sido provado, pela Sagrada Tradição, que a Rainha do Céu foi sempre virgem, não há necessidade de procurar trechos na Sagrada Escritura, visto que a Sagrada Tradição e a Escritura possuem a mesma autoridade. Contudo, é útil – e não necessário, visto que a Igreja já a ensina – saber em quais trechos da Escritura Deus revelou esta verdade.

72. Cite algum trecho da Sagrada Escritura onde se prova que Maria Santíssima era virgem antes do parto e no parto.
Que Nossa Senhora concebeu a Jesus virginalmente está revelado no Evangelho de São Lucas, onde se lê: "Estando Isabel no sexto mês, foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia, chamada Nazareth, a uma virgem desposada com um varão, chamado José, da casa de Davi. E o nome da Virgem era Maria" (Luc.I, 26-27). E São Lucas ainda diz que, quando do nascimento do Salvador, a Virgem Maria logo após o parto O envolveu em faixas, provando não ter sofrido as dores do parto, permanecendo virgem.
Quanto a virgindade após o parto, esta era extremamente conveniente.

73. Explicai-me porque era conveniente que Maria Santíssima permanecesse virgem após o parto.
Que Nossa Senhora permanecesse Virgem depois do parto de Jesus, era também muitíssimo conveniente:
1* Porque sendo Jesus, o Filho unigênito de Deus Pai -- o Verbo ou Sabedoria de Deus -- convinha que também na terra Ele fosse unigênito.
2* Porque, se Ele tivesse tido irmãos carnais, pensar-se-ia que esses irmãos também seriam deuses, causando o politeísmo e heresia.
3* Porque Deus fez um paraíso para Adão apenas. Fez um Paraíso para os homens no céu. E fez um Paraíso só para Si, que foi Maria. É o que diz São Luis de Montfort.
4* Porque convém absolutamente -- mais -- é necessário que Deus só tenha uma esposa, assim como é necessário que Ele tenha uma só Igreja, a Católica. Por isso, assim também a esposa só pode ter um esposo. E Maria só devia ter um esposo real: o próprio Deus Espírito Santo, e manter-se virgem por toda a vida.
5* Porque era muito necessário, para nós, que fosse assim, para compreendermos o alto valor da Virgindade, pois que a Virgem mais fecunda, aquela que gerou em seu seio o próprio Deus encarnado, quis se manter Virgem, como deveremos nós prezar a virgindade e a pureza, nós que geramos filhos, sem valor, se comparados com o dela?
6* Sempre existe semelhança entre mãe e filho. Também entre Nossa Senhora e Jesus deve haver semelhança maior do que a normal. Maria foi feita por Deus o quanto possível semelhante e proporcionada a seu Filho santíssimo. Como Jesus se manteve virgem sempre, convinha imensamente que Maria, também nisto, fosse proporcionada a Cristo, e permanecesse perpetuamente virgem.
7* O matrimônio é monogâmico. Ora, se Maria tivesse tido filhos de outrem que não o Espírito Santo, seu Divino esposo, isso seria uma aberração, semelhante ao adultério. Esposa do Divino Espírito Santo uma vez, Maria devia se conservar sua esposa fiel sempre.

§ Do problema dos irmãos de Jesus

74. Na Sagrada Escritura, em diversos trechos, se mencionam os “irmãos de Jesus”, como pode então Maria ser sempre-virgem?
É de pasmar o ver a malícia, a precipitação com que alguns enfatuados intérpretes da Bíblia que a lêem continuamente e procuram aprendê-la de cor, ainda vão tirar da expressão IRMÃOS DE JESUS uma conclusão contra a virgindade perpétua de Maria Santíssima. A Escritura não somente designa com o nome de irmãos aqueles que são filhos do mesmo pai ou da mesma mãe, como eram Caim e Abel, Esaú e Jacó, S. Tiago Maior e S. João Evangelista (que eram filhos de Zebedeu) etc.; mas também aqueles que são parentes próximos, como tios e primos. - A Escritura está cheia destes exemplos.

75. Cite alguns exemplos da Escritura Sagrada onde a palavra irmãos designa parentes próximos, como tios e primos.
Abraão chama Lot de irmão: "Peço-te que não haja rinhas entre mim e ti, nem entre os meus pastores e os teus, porque somos IRMÃOS” (Gênesis, XIII-8). Mais adiante a própria Bíblia o chama assim: “Abraão, tendo ouvido que Lot, seu IRMÃO, ficara prisioneiro...” (Gênesis XIV-14). Pois bem, Lot era sobrinho de Abraão, pois já antes disto se lê no Gênesis: “Tinha Abraão setenta e cinco anos, quando caiu de Harã, e ele levou consigo a Sarai, sua mulher, a Lot, filho de seu irmão, e todos os bens que possuíam” (Gênesis XII-4 E 5).
Labão, diz a Jacó: "Acaso, porque tu és meu irmão, deves tu servir-me de graça?” (Gênesis XXIX-15). E, no entanto Jacó era sobrinho de Labão: Isaac chamou a Jacó e o abençoou e lhe pôs por preceito dizendo: “Não tomes mulher da geração de Canaã, mas vai e parte para a Mesopotâmia... E desposa-te com uma das filhas de Labão, teu tio” (Gênesis, XXVIII-1 e 2). Realmente Jacó era filho de Isaac com Rebeca (Gênesis XXV, 21 a 25) e Rebeca era irmã de Labão (Gênesis, XXIV-29). E, no entanto, não só como vimos acima, seu tio o chama de irmão, mas também, quando Jacó se encontra com Raquel, que é filha de Labão (Gênesis XXIX-5 e 6), diz à moça que é irmão de Labão: "E lhe manifestou que era irmão de seu pai, filho de Rebeca” (Gênesis XXIX-12).
Lê-se no Levítico que Nadab e Abiu, filhos de Arão (Levítico X-1) são mortos por castigo por terem oferecido um fogo estranho nos seus turíbulos. Moisés chama os primos dos que faleceram: Misael e Elisafan, filhos de Oziel, tio de Arão (Levítico X-4) e lhes diz: “Ide, tirai vossos irmãos de diante do santuário e levai-os para fora do campo” (Levítico X-4).

76. O que se pode concluir destes trechos da Escritura Sagrada?
Podemos concluir que é dentro deste costume hebreu de designar com o nome de irmãos, não só os que têm os mesmos pais, senão também os parentes próximos como tios, primos e sobrinhos, pois o hebraico não possuía palavras próprias para designar esses parentescos, que o Novo Testamento fala em irmãos de Jesus.

77. Além desses exemplos do Antigo Testamento, como podemos ter certeza que os irmãos de Jesus, de que fala o Novo Testamento, eram Seus parentes próximos?
O próprio Novo Testamento se encarrega de demonstrá-lo. Identificando os nomes dos supostos irmãos de Jesus, facilmente se descobrirá, pelo próprio Evangelho, quem são realmente.

78. Dá alguma vez o Evangelho os nomes desses irmãos de Jesus, para que possamos identificá-los?
Sim, dá. Sabe-se dos nomes, pelo menos de quatro: Tiago, José, Judas e Simão: "Não é este o oficial, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? (Marcos, I-3). "Porventura não é este o filho do oficial? Não se chama sua Mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não vivem elas todas entre nós?” (Mateus, XIII-55 e 56).

79. Quem são, na verdade, estes a quem a Escritura dá o nome de irmãos de Jesus?
Pois bem, este Tiago que encabeça a lista é um apóstolo, pois diz São Paulo na Epístola aos Gálatas: "E dos outros apóstolos não vi a nenhum, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gálatas, 1-19). Temos dois Apóstolos com o nome de Tiago: Tiago Maior, e Tiago Menor. Vamos ver se algum deles era filho de José com Maria, pois segundo a opinião dos protestantes, este Tiago Apóstolo era filho de Maria, mãe de Jesus; e de Maria e de José, porque, como os próprios protestantes reconhecem, Maria nunca teve filhos antes de seu casamento com José. E não se casou com outro depois da morte de José, pois na hora da morte de Cristo, ela está sozinha, sem marido e Cristo a entrega a S. João Evangelista; além disto se Maria tivesse casado outra vez, seus filhos estariam pequenos, não estariam em idade de ser Apóstolos.

S. Tiago Maior era irmão de S. João Evangelista, e ambos FILHOS DE ZEBEDEU: "Da mesma sorte havia deixado atônitos a Tiago e a João, filhos de Zebedeu” (Lucas V-1O). S. Tiago Menor, que era irmão de Judas, era filho de ALFEU. Entre os Apóstolos, que são enumerados pôr S. Mateus, estão: Tiago FILHO DE ZEBEDEU, e Tiago, FILHO DE ALFEU (Mateus X-3).

Que tem a ver Maria Santíssima com este Alfeu ou com este Zebedeu? Logo, este Tiago, irmão do Senhor, não é Seu filho. Além disto, comparando-se os Evangelhos, se vê claramente que este Tiago e este José que encabeçam a lista são primos de Jesus, e o Tiago é o Apóstolo (Tiago Menor). Enumerando as mulheres que estavam juntamente com Maria Santíssima ao pé da Cruz, Mateus, Marcos e João, as identificam da seguinte maneira:


Por aí se vê que a mesma Maria que é apresentada por São João como tia de Jesus (irmã de sua mãe) é apresentada por São Mateus e S. Marcos como mãe de TIAGO Menor e de José. E é claro que não se trata de Maria Salomé, que é a mãe dos filhos de Zebedeu e, portanto, mãe de Tiago Maior.
Tiago Menor e José são, portanto, PRIMOS DE JESUS e são os primeiros que encabeçam aquela lista: Tiago, José, Judas e Simão.

E de fato o Apóstolo S. Judas Tadeu era irmão de S. Tiago Menor, pois ele diz no começo de sua Epístola: "Judas, servo de Jesus Cristo e IRMÃO DE TIAGO” (I-1). Tanto o Evangelho de São Lucas (VI-16) como os Atos dos Apóstolos (1-13) para diferenciarem Judas Tadeu de Judas Iscariotes, chamam a Judas Tadeu: Judas, irmão de Tiago.

80. São Lucas, em seu Evangelho (II, 7), diz que Maria “deu à luz Seu Filho primogênito”. Como pode Ela então não ter tido outros filhos, além de Jesus?
“Filho primogênito” quer dizer “primeiro filho”. São Lucas não quer dizer que Maria Santíssima teve outros filhos, depois do parto de Jesus Cristo, pois o primeiro filho, ainda que único, continua a ser primogênito. O Evangelista afirma isso para provar, mais uma vez, que antes de Jesus, Maria Santíssima nunca havia tido outro filho, Este era o Seu primeiro.

81. Do trecho bíblico “E não a conheceu até que Ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus." (Mt 1,25), supõe que, depois de ter dado à luz, Maria Santíssima conheceu São José?
Evidente que não, Esse é mais um tolo e barato sofisma dos protestantes. É evidente que a Sagrada Escritura quer enfatizar nesta passagem a concepção virginal de Jesus, o caráter milagroso e somente isto. O significado da palavra "até" ou "até que" informa uma ação que não ocorreu até certo ponto. Isso não implica que a ação tenha ocorrido depois. Vejamos, por exemplo, esse trecho da Bíblia, que embaraçaria qualquer protestante:
"E Micol, a filha de Saul não teve filhos até o dia de sua morte" (2 Sm 6, 23)
Será que ela teve filhos após sua morte?

82. O que podemos concluir, depois destas explicações?
Podemos concluir que cai por terra fragorosamente a alegação dos protestantes de que Maria teve outros filhos além do Divino Salvador, alegação baseada em que o Evangelho fala em irmãos de Jesus. E que, portanto, a alegação deles não tem nenhum valor.

83. Poderia ainda restar alguma dúvida?
A única dificuldade, esta agora já sem importância, que pode fazer o protestante é que Tiago Menor é filho de Alfeu, e sua mãe é apresentada como Mulher de Cleofas.

84. Como se resolve esta questão?
Sem precisar recorrer a nenhum argumento de tradição temos que observar o seguinte:
l. — o texto original não diz mulher de Cleofas, mas diz simplesmente: “a irmã de sua mãe, Maria, a do Cleofas” (Texto grego de Jo XIX-25), podia chamar-se Maria, a do Cleofas, por causa do pai ou por outro qualquer motivo;
2 — não repugna que a mesma Maria se tenha casado com Alfeu e dele tenha tido S. Tiago Menor, e depois se tenha casado com Cleofas e tido outros filhos ou mesmo deixado de ter. Tiago é o único que é apontado nos Evangelhos como filho deste Alfeu, pois o Alfeu, pai de S. Mateus (Marcos 11-14) já deve ser outro;
3.° — não repugna que o próprio Alfeu seja o mesmo Cleofas. É muito comum nas Escrituras uma pessoa ser conhecida por dois nomes diversos: O sogro de Moisés é chamado Raguel (Êxodo 11-18 a 21) e logo depois é chamado Jetro (Êxodo, III - l). Gedeão, depois de ter derribado o altar de Baal é chamado também Jerobaal (Juizes, VI-32). Osias, rei de Judá, é chamado também Azarias (4 Reis, XV-32; I Paralipômenos, III-12). E no Novo Testamento o mesmo Mateus é chamado Levi: "Viu um homem, que estava assentado no telônio, chamado Mateus” (Mateus, IX-9). “Viu a Levi, filho de Alfeu, assentado no telônio” (Marcos, 11-14).
O mesmo que é chamado José é chamado Barsabas (Atos, I, 23).
Ainda hoje mesmo, entre nós, nas nossas localidades do interior principalmente, é multo comum esta duplicidade de nomes.
Seja Alfeu o mesmo Cleofas ou não seja. Isto pouco importa. O que é fato é que Maria de Cleofas é irmã de Maria Santíssima, Mãe de Jesus e é ao mesmo tempo mãe de Tiago e de José, que são chamados “IRMÃOS DO SENHOR".

85. Depois de tudo isso, o que dizer dos irmãos de Jesus?
Fica provado, portanto, pela própria Escritura que irmãos de Jesus eram primos dEle, e não irmãos de sangue. Logo, Maria Santíssima só teve um Filho gerado nela por obra do Espírito Santo: Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem. Maria Santíssima foi sempre Virgem. E quem diz o contrário, ou age de má fé ou por pura ignorância.

§ A Sagrada Tradição a respeito da virgindade perpétua de Maria

86. O que a Igreja sempre ensinou por meio de seus concílios infalíveis a respeito da virgindade perpétua da Mãe de Deus?
A Igreja, única depositária das verdades reveladas por Deus, sempre defendeu energicamente a virgindade perpétua de Maria Santíssima. Cito como exemplo, os decretos dos seguintes concílios:
O Concílio de Éfeso ao condenar o herege Nestório que negava a maternidade divina de Nossa Senhora declarou:
"Canon 1: Se alguém não confessa que Deus é conforme a verdade o Emanuel, e que por isso a Santa Virgem é a mãe de Deus (pois deu à luz carnalmente ao Verbo de Deus feito carne), seja anátema”. (Concílio de Éfeso, Anatematismos e e capitulo de Cirilo contra Nestório, em 431. Denzinger 113).
No Concílio de Latrão de 649, se voltou a excomungar quem não confessasse que Cristo não nasceu da sempre Virgem Maria.
A mesma coisa foi ensinada pelo Concílio de Toledo, em 675, e pelo III Concílio de Constantinopla, em 680-681. O Concílio de Roam de 993, aprovado pelo Papa João IV proclamou, mais uma vez, que Cristo se encarnou por obra do Espírito Santo e "nasceu de Maria sempre Virgem"( cfr. Denzinger , 344).
Em 1215, o IV Concílio de Latrão, XII Concílio Ecumênico, convocado para condenar a Gnose dos cátaros repete a mesma lição: Cristo nasceu da "sempre Virgem Maria" (Cfr. Denzinger, 429).
No II Concílio de Lyon, Manuel Paleólogo foi obrigado a professar que "o Filho de Deus, Verbo de Deus, eternamente nascido do Pai, consubstancial, onipotente e igual em tudo ao Pai na divindade, nasceu temporalmente do Espírito Santo e de Maria sempre Virgem"( Cfr. Denzinger, 462).

87. O que nos dizem estes documentos da Igreja?
Todos esses documentos da Igreja demonstram que sempre se acreditou entre os católicos que Nossa Senhora foi sempre Virgem.

88. O que os Santos disseram a respeito da virgindade perpétua da Mãe de Deus?
Todos os santos, sempre zelos da honra da Rainha do Céu, a Quem tributavam um grande amor e veneração, defenderam energicamente esta doutrina revelada por Deus. Dentre eles, São Jerônimo, combatendo o herege Helvídio, que negava blasfemamente a virgindade perpétua de Nossa Senhora, afirmou que a unanimidade dos Santos Padres defendeu a virgindade perpétua da Virgem Maria. (Santos Padres são os grandes santos e doutores, discípulos dos Apóstolos, e os grandes Santos e Doutores dos primeiros séculos do Cristianismo).
Santo Ambrósio, no século IV, escreveu:
"Houve quem negasse que Maria tivesse permanecido virgem. Desde muito temos preferido não falar sobre este tão grande sacrilégio. Maria (...) que é mestra da virgindade, (...) não podia acontecer que aquela que em si tinha trazido Deus, resolvesse andar às voltas com um homem. Nem José, varão justo, cairia nessa loucura de querer misturar-se com a Mãe do Senhor, em relação carnal".( De Inst. Virg. I , 3).
Santo Hilário de Poitiers defende a virgindade perpétua de Maria Santíssima, e acusa os que dizem o contrário, de serem irreligiosos. Santo Epifânio diz; "De onde vem esta perversidade? De onde é que irrompeu tamanha audácia? Porventura o próprio nome não é suficiente atestado? Quem jamais houve, em tempo algum, que ousasse proferir o nome de Maria e espontaneamente não lhe acrescentasse a palavra virgem? O nome de Virgem foi dado a Santa Maria, nem se mudará nunca, ela sempre permaneceu ilibada” (Panarion, Contra os hereges).
São Jerônimo disse contra o herege Helvídio que foi citado, que assim como um homem havia queimado o templo da deusa Diana em Éfeso só para ser conhecido assim fizera Helvídio com a Virgindade de Maria Santíssima: "Tu incendiaste o templo do corpo do Senhor. Contaminaste o santuário do Espírito Santo do qual pretendes ter saído uma quadra de irmãos e um montão de irmãs. Argumentas com o que dizem os judeus: "Por ventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chama Maria a sua mãe e seus irmãos Tiago e José, e Simão, e Judas? E suas irmãs, não vivem elas todas entre nos? (Mt. XIII, 55-56). "Todas", só se diz de uma multidão. Pergunto: quem te ensinou semelhante blasfêmia? Quem é que te levava em conta? Mas agora conseguiste o que tu querias: tu te tornaste famoso no crime." (Adverssus helvidius).
E Santo Efrém escreveu: "Ó Virgem Senhora, Imaculada deípara (geradora de Deus), senhora minha gloriosíssima, mais sublime que os céus, muito mais pura que os esplendores, raios e fulgores solares... Vara de Aarão que germina, pareceste como verdadeira vara e a flor foi o teu Filho verdadeiro, nosso Cristo Deus e Criador meu. Tu, segundo a carne, geraste Aquele que é Deus e Verbo, conservando a virgindade antes do parto, virgem depois do parto, e fomos reconciliados com Deus teu filho".
Já no Credo, ou Símbolo da Fé, de santo Epifânio, que é do século IV, se proclama a virgindade perpétua de Maria Santísima, dizendo esse Credo que Cristo "foi gerado por Maria sempre virgem"( Cfr. Denziger, 17).
São Sirício, Papa entre os anos 384 e 398, escreveu uma carta a Anisio, Bispo de Tessalônica, dizendo: "Em verdade, não podemos negar haver sido com justiça repreendido aquele que fala dos filhos de Maria, e com razão sentiu horror vossa santidade de que do mesmo ventre virginal do qual nasceu, segundo a carne, Cristo, pudesse ter saído outro parto. Porque não teria escolhido o Senhor Jesus nascer de uma Virgem, se tivesse julgado que esta teria de ser tão incontinente que, com sêmen de união humana, haveria de manchar o seio onde se formou o corpo do Senhor, aquele seio, palácio do rei eterno. Porque aquele que afirma isto, não afirma outra coisa do que a perfídia judaica daqueles que dizem que não pode nascer de uma Virgem. Porque, aceitando a autoridade dos sacerdotes, porém sem deixar de opinar que Maria teve muitos partos, com mais empenho pretendem combater a verdade da Fé" (S. Sirício, Papa, Carta a Anísio, Bispo de Tessalônica, em 392. Denzinger, 91).

89. O que outros autores, embora não sejam Santos, têm escrito sobre a Santíssima Virgem?
Muitos autores têm escritos sobre as glórias da Mãe de Deus, dentre eles, destacam-se os belíssimos versos com que Dante, o maior poeta italiano, faz São Bernardo cantar a glória de Maria sempre Virgem, no último canto da Divina Comédia. Embora Dante não seja uma autoridade, seu poema é tão belo que merece ser citado. Além disso, ele comprova que em 1300, todos os católicos acreditavam em Maria Santíssima; eis os versos belíssimos de Dante em honra de Nossa Senhora:

Virgem Mãe, filha de teu Filho
humilde e mais elevada que toda criatura,
objetivo fixo da eterna Sabedoria
Tu és aquela que a humana natureza
enobreceste tanto, que o seu Criador
não desdenhou fazer-se sua feitura.

Em teu seio se reacendeu o amor
por cujo ardor, na eterna paz [do céu]
assim germinou esta flor [dos santos no céu]
Aqui [no céu] és, para nós, brilhante face
de caridade, e lá em baixo, entre os mortais,
és de esperança fonte viva.

Mulher, és tão grande e tanto vales,
que querer graça e a ti não recorrer,
é desejar voar sem ter asas.

A tua benignidade não socorre apenas
quem pede, mas muitas vezes,
generosamente, ao pedir precede.

Em ti misericórdia, em ti piedade,
em ti magnificência, em ti se reúne
tudo quanto na criatura há de bondade".

§ Do exemplo de Maria Santíssima

90. O que a Santíssima Virgem nos ensina com Sua virgindade perpétua?
Consagrando Sua virgindade a Deus, a Santíssima Virgem nos dá um belo exemplo do quanto devemos prezar a virtude da pureza do corpo e da inocência da alma.

91. Algumas Santas imitaram o exemplo da Virgem Santíssima?
Sim, a história da Igreja está repleta de inúmeras Santas que, abandonando os prazeres do mundo, consagraram sua virgindade a Deus, a exemplo de Maria Santíssima, seja no mundo ou em conventos. São chamadas as Santas virgens, os lírios de pureza. Dentre elas, podemos citar Santa Cecília, que cantou para seu esposo a beleza da castidade, convencendo-o a permanecer virgem no casamento, como São José, esposo de Maria Santíssima; Santa Inês; Santa Catarina de Siena; Santa Teresinha do Menino Jesus; Santa Gemma Galgani, e muitas outras servas de Deus.

92. É necessário a todos, para imitar a Santíssima Virgem, permanecer virgens perpetuamente?
Evidente que não, pois a muitos Deus destinou o Sacramento do Matrimônio e mesmo nele, nós podemos imitar a pureza da Mãe de Deus, sendo fiéis a promessa que fizemos solenemente, quando recebemos este Santo Sacramento.

93. A Santíssima Virgem é também modelo de pureza para os homens?
Sim, a Mãe de Deus é o modelo de todas as virtudes para todas as pessoas; os Santos costumam dizer que a vida de Maria é a escola das virtudes, pois enquanto em alguns Santos se destaca tal ou tal virtude, na Rainha dos Santos resplandece todas as virtudes em admirável harmonia. A Virgem Maria é, portanto, modelo de pureza, humildade, caridade, zelo, e todas as demais virtudes.
Na prática da virtude da pureza, diz Santo Afonso, Maria Santíssima costumava jamais fitar os olhos em alguém, sobretudo do sexo oposto; não participava de más conversas; era extremamente cuidadosa no olhar, no ouvir e no falar, tudo isso para não perder a admirável virtude da pureza. Estas práticas podem ser imitadas por todos os homens, de qualquer sexo ou idade.

94. Cite algum Santo que procurou imitar as virtudes de Maria Santíssima.
Todos os Santos sempre viram em Maria Santíssima o modelo de todas as virtudes, por ser a mais semelhante a Deus, Seu Filho; neste sentido, todos eles, sem exceção, procuraram imitar-Lhe. Contudo, alguns se destacaram, e nestes últimos tempos, o adolescente São Domingos Sávio, falecido aos 15 anos, que chamava a Rainha do Céu de Mãe da Pureza, e procurava imitar-Lhe em tudo, jamais fitando os olhos em moças e mulheres. Quando repreendido por um amigo que não usava seus olhos, respondeu que os guardava para um dia, se fosse digno, contemplasse “o rosto da bela Mãe da Pureza”.

95. Com quais títulos a Igreja ensina seus filhos a invocarem a Mãe de Deus como socorro para preservarem a bela virtude da pureza?
A Igreja, neste sentido, invoca a Mãe de Deus e quer que de todos seja invocada com os títulos de Virgo Puríssima e Mater Castissima (Virgem Puríssima e Mãe Castíssima).

96. Quando sofrermos tentações impuras, o que devemos fazer?
Segundo Santo Afonso e São João Bosco se deve invocar, repetidamente, os Nomes de Jesus e Maria, enquanto durar a tentação. Ou então olhar para uma imagem de Maria, que é o espelho da pureza, o símbolo real da castidade. Ou então rezar a seguinte jaculatória: “Maria, auxílio dos cristãos, rogai por mim”.

Terceira Parte
Maria, concebida sem a mancha do pecado original

§ Maria Imaculada

97. O que é o pecado original?
O pecado original é aquele com que todos nascemos, exceto a Santíssima Virgem Maria, e que contraímos pela desobediência do nosso primeiro pai, Adão.

98. Quais são os males que nos causa o pecado original?
Os males causados pelo pecado original são: a privação da graça, a perda do Paraíso, a ignorância, a inclinação para o mal, a morte e todas as demais misérias.

99. Como se apaga o pecado original?
O pecado original apaga-se com o Santo Batismo.

100. Como pode Deus, que é justíssimo, permitir que todos os homens sejam manchados com o pecado original?
Deus não nos responsabiliza, nem nos pune pessoalmente pelo pecado original de Adão e Eva. Todos os homens nascem com o pecado original, mas nenhum homem é punido pessoalmente por esse pecado que foi só de Adão e Eva. Ninguém vai ao inferno por ter o pecado original, pois que ele não é de responsabilidade pessoal. Se Deus punisse com o inferno, alguém, pelo pecado de Adão e Eva, evidentemente seria uma injustiça. O pecado original foi de Adão, pessoalmente. Ocorre, porém, que, com esse pecado, Adão danificou a natureza humana. E como ele era a fonte de toda a humanidade, ele nos transmitiu -- não a culpa do pecado -- mas apenas uma natureza danificada pelo pecado. Por isso ninguém confessa ser culpado do pecado original que é só de Adão.

101. Poderia ser citado um exemplo, para maior compreensão desta verdade?
Sim, tomemos como exemplo um homem que adquira AIDS, ao cometer um pecado. O filho não herda a culpa do pai. Mas vai receber, com a natureza, o vírus da AIDS. Ele não herda a culpa moral do pai. Recebe dele uma natureza doente. O filho de um alcoólatra sofre conseqüências semelhantes. Quando Adão pecou, ele perdeu uma série de dons que Deus lhe havia concedido. Além disso, Adão, revoltando-se contra Deus, danificou a natureza humana. Antes do pecado, a natureza de Adão era toda ordenada. Depois, a inteligência humana ficou prejudicada, e tendente ao erro e não à verdade. A vontade humana ficou desregrada e tendente ao mal. A sensibilidade ficou desordenada, e, por isso, temos sentimentos irracionais: simpatizamos com quem não devemos, e antipatizamos, sem razão, com quem nos faria bem, etc. O corpo ficou revoltado contra o domínio da alma. Em suma, nossa natureza ficou tendente ao erro e ao pecado. Nisto consiste a herança do pecado original, e não na herança da culpa moral que cabe só a Adão e Eva. Caso um fulano matasse alguém, os filhos não herdariam essa culpa. Mas herdam, sim, a desonra desse crime. Ninguém diz: meu pai foi assassino, porque tem vergonha disso. Dos pais, herdamos não as culpas deles, mas apenas sua honra ou desonra, assim como, possivelmente, as tendências para os pecados em que eles mais caíram ou viveram.

102. A Santíssima Virgem contraiu esta natureza danificada? Por quê?
Não, a Santíssima Virgem não contraiu a mancha do pecado original, pois não convinha que a Virgem destinada a ser Mãe de Deus tivesse sido sujeita ao domínio do inimigo de Deus, o demônio, nem sequer por um instante. Já Santo Agostinho, no século IV, ensinou esta verdade quando disse que “Excetuando, pois, a Santa Virgem Maria, acerca da qual, pela honra devida a Nosso Senhor, quando se trata de pecados, não quero absolutamente levantar questão alguma”.

103. A Virgem Santíssima, portanto, preservou a si mesma da mancha do pecado original?
Não, a Virgem Santíssima foi preservada do pecado original por privilégio de Deus e não por virtude própria.

104. Como Deus pôde ter preservado a alma de Maria do pecado original sendo que a Redenção operada por Jesus Cristo ainda não havia sido realizada quando da concepção de Maria Santíssima?
Deus realizou este estupendo milagre em previsão dos méritos infinitos de Cristo, que satisfez por todos os pecados na Cruz, pois para Deus não há tempo. De modo semelhante, o pecado original de São João Batista foi perdoado quando este ainda estava no ventre de sua mãe, e Nosso Senhor ainda no ventre de Sua Mãe Santíssima. Deus pode assim agir, pois, como foi dito, para Ele não há tempo, podendo utilizar os méritos de Cristo antecipadamente.

105. Então São João Batista também foi preservado do pecado original?
Não. Somente a Mãe de Deus recebeu tal privilégio. São João Batista, no sexto mês de gestação de sua mãe, recebeu o perdão do pecado original, enquanto a Mãe de Deus, desde o momento que foi concebida, foi santificada pela graça divina, permanecendo isenta de qualquer mancha do pecado original.

106. Como pode a Santíssima Virgem ser isenta do pecado original se, em seu cântico, chamou a Deus de “Salvador”? Ora, se Ela era sem pecado, como poderia ter sido salva?
De fato, a Santíssima Virgem, em seu cântico, o Magnificat, diz que exulta de alegria em Deus, seu Salvador. Esta afirmação está plenamente de acordo com a doutrina Católica, pois Maria Santíssima foi sim, salva por Cristo, que é o Salvador de todo o gênero humano. Mas há duas formas de salvar alguém. Tomemos como exemplo uma pessoa que sofreu uma queda, e um amigo vai salvá-la. Certamente irá levantar a pessoa que caiu; porém, ele poderia ter chegado antes e impedido a queda, segurando seu amigo. Em ambos os casos houve um salvamento, sendo o último um modo mais perfeito. Nosso Senhor nos salvou satisfazendo nossas culpas a Deus Pai, na Cruz, e aplicando o valor de seus méritos, em nossas almas, por meio dos Sacramentos que Ele instituiu em Sua Igreja (o que pode ser comparado com o primeiro exemplo). Porém, como ama imensamente Sua Mãe Santíssima acima das outras criaturas, salvou sua alma de um modo mais sublime e perfeito, impedindo que fosse contaminada com a manha original. Cristo aplicou Seus méritos na alma de Sua Mãe antecipadamente, preservando-A do pecado original, manifestando os efeitos mais sublimes da Redenção.
Por isso o Cardeal Nicolau Cusano, morto em 1464, diz com elegância: “Os outros tiveram um Redentor que os livrou do pecado já contraído; porém a Santíssima Virgem teve um Redentor que, em sendo Seu Filho, a livrou de contrair o pecado”.

107. Por que Deus concedeu à Virgem Maria o privilégio da Imaculada Conceição?
Deus concedeu à Virgem Maria o privilégio da Imaculada Conceição porque convinha à santidade e à majestade de Jesus Cristo que a Virgem destinada a ser Sua Mãe não fosse, nem sequer por um momento, escrava do demônio. E Santo Afonso de Ligório expõe a verdade dessa doutrina de um modo brilhante:
“Com S. Pedro Damião e S. Paulo devemos, pois, ter por certo que o Verbo Encarnado escolheu para Si mesmo uma Mãe digna, da qual se não tivesse que envergonhar. Desprezivelmente, os judeus chamavam a Jesus de Filho de Maria, isto é, filho de uma mulher pobre. “Não é sua mãe essa que é chamada Maria?” (Mt 13, 55). Não o atingiu esse desprezo, a Ele que vinha dar ao mundo exemplos de humildade e paciência. Mas ser-lhe-ia certamente um grande opróbrio, se tivesse de ouvir dos demônios: Não é sua mãe essa que é pecadora? Que nascesse Jesus de uma mãe disforme e mutilada no corpo, ou possessa do demônio, seria igualmente inadmissível. Quanto mais, por conseguinte, o será o nascer Ele de uma mulher, cuja alma por algum tempo houvesse sido deformada e possessa por Lúcifer?” (Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 244).
Por isso, esta boa Mãe é também chamada pelos seus servos de "Santíssima Virgem". Todos os santos ensinaram que não convinha a Jesus Cristo, o Santíssimo, ser gerado e nascer de uma criatura imperfeita. Como podia o Santíssimo Deus, Jesus Cristo, ser depositado num receptáculo que não fosse digno dEle? Pois Ele mesmo testemunha no Evangelho, que não se coloca vinho novo e bom em odres velhos e defeituosos (conf. Lc 5, 37). Eis porque o Criador elevou Maria, este "Vaso Insigne de Devoção" a tão grande santidade.

108. Quando a Igreja, depositária das verdades que Deus revelou, definiu como dogma de Fé que a Conceição da Virgem Maria foi Imaculada, isto é, isenta do pecado original?
No dia 8 de dezembro de 1854, o Sumo Pontífice Pio IX, por uma Bula dogmática, e com o consenso de todos os Bispos, definiu solenemente, como artigo de Fé, a Imaculada Conceição da Santíssima Virgem.

109. Antes da definição do dogma, esta verdade era crida pelos fiéis?
Evidente que sim, pois o dogma não é uma novidade, mas apenas uma confirmação, dando-nos absoluta certeza de que tal doutrina foi realmente revelada por Deus, dado o poder das Chaves concedido por Cristo aos Papas.

110. Cite alguns exemplos de que, antes da definição do dogma, esta verdade era conhecida pelos fiéis.
As provas são inúmeras, Santo Afonso de Ligório, em seu livro Glórias de Maria, escrito em 1750 – portanto, 104 anos antes da proclamação do dogma –, reserva todo um capítulo para provar a Imaculada Conceição da Virgem Maria.
Santo Efrém, que morreu em 373, escreveu que a Santíssima Virgem é “imaculada, livre de todo e mínimo labéu”.
São Bernardino de Sena, morto em 1444, escreveu: “É incrível que o Filho de Deus haja querido nascer de uma Virgem, se Ela de algum modo houvesse sido maculada pela culpa original”.
São Cirilo de Alexandria, morto em 444, escreveu, referindo-se a criação da alma de Maria Santíssima: “Quem jamais ouvir dizer que um arquiteto, erguendo-se uma casa de moradia, consentisse que um seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse”.
O agostiniano Tomás de Estrasburgo, falecido em 1357, escreveu: “Certamente pecaria o filho que, podendo preservar a mãe da culpa original, não o fizesse logo. Mas o que para nós seria pecado, não seria certamente decoroso ao Filho de Deus. Podendo fazer sua Mãe imaculada – pois é Deus –, tê-lo-ia deixado de fazer? Não; é isso impossível”.
O já citado Cardeal Nicolau Cusano, morto em 1464 – portanto, 390 anos antes da proclamação do dogma –, diz: “Os outros tiveram um Redentor que os livrou do pecado já contraído; porém a Santíssima Virgem teve um Redentor que, em sendo Seu Filho, a livrou de contrair o pecado”.
Santo Agostinho, morto em 430, em seu Natura et Gratia, escreve a famosa sentença: “Se pudéssemos reunir todos os santos e santas, quando viviam sobre a terra, e perguntar-lhes se estavam isentos de todo pecado, como pensamos haveriam eles de nos responder? (...) não teriam respondido em uníssono: Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós (I Jô I, 8). “Excetuando, pois, a Santa Virgem Maria”.
O Santo e infalível Concílio de Trento, no século XVI, declara: “Este mesmo santo Concílio também declara não ser sua intenção neste decreto, em que se trata do pecado original, incluir a Bem-Aventurada e Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus” (Concílio de Trento, Sessão V, 17-6-1546, Decreto sobre o pecado original).
O franciscano Bernardino de Busti, morto em 1500, em seu Ofício da Imaculada Conceição, aprovado pelo Papa Inocêncio XI, em 1678, e recitado por inúmeros fiéis, assim diz da Virgem Maria: “E Vos escolheu para ser Mãe Sua; e de Vós nasceu o Filho de Deus, assim Vos livrou da culpa original, de nenhum pecado há em Vós sinal (...) Assim como o lírio, entre espinhas duras, tal sois Vós, Senhora, entre as criaturas (...) A força do Dragão foi por Vós prostrada (...) Antes que nascida fostes, Virgem, Santa, no ventre ditoso de Ana... ”
São Luís Maria Grignion de Montfort, falecido em 1716, em sua Coroinha da Santíssima Virgem, assim diz: “Sois toda formosa, Virgem Maria, e em vós não há mancha original”.

Fica provado, portanto, que a doutrina segundo a qual a Virgem Santíssima foi preservada isenta do pecado original, era ensinada pela Igreja e crida pelos fiéis antes mesmo da proclamação do dogma, em 1854. Esta doutrina foi sendo transmitida pela Sagrada Tradição que deriva dos Apóstolos, que, por sua vez, aprenderam do próprio Jesus Cristo, que é Deus.

111. A Sagrada Escritura menciona, alguma vez, a Imaculada Conceição da Virgem Santíssima?
Sim. E mesmo que não mencionasse, isso em nada afetaria esta doutrina, pois, sendo explicitamente demonstrada pela Sagrada Tradição e confirmada pelo Sagrado Magistério da Igreja, é, com toda certeza, uma verdade revelada por Deus, a qual devemos crer, em virtude da autoridade do próprio Deus que a revelou. Não obstante, no Evangelho de São Lucas, I, 28, se lê: "Entrando o anjo disse-lhe: ‘Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”. Eis aqui, proclamado pelo próprio anjo Gabriel o privilégio extraordinário da Imaculada Conceição de Maria e sua santidade perene. Se Maria Santíssima tivesse sido gerada com o pecado herdado de Adão ou tivesse qualquer pecado pessoal, o Arcanjo Gabriel teria mentido chamando-a de "cheia de graça". Pois, onde existe esta "graça transbordante" não pode coexistir o pecado. E o mesmo São Lucas, em seu Evangelho, diz que a Virgem Santíssima, logo depois do parto de Jesus, O envolveu em faixas (Lc II, 7), provando que o parto da Virgem foi sem dores. Ora, as dores do parto são conseqüência do pecado original (Gênesis II, 16); como, no parto, a Virgem Santíssima não sentiu dores, logo, não contraiu o pecado original.

112. Há mais indícios, na Escritura Sagrada, da Imaculada Conceição de Nossa Senhora?
Sim. Os Santos Padres – que conheceram e foram discípulos dos Apóstolos de Jesus Cristo – sempre viram figuras bíblicas da Mãe de Deus, no Antigo Testamento, assim como há figuras de Seu Divino Filho. Assim comenta o Papa Pio IX na Bula Innefabilis Deus, definindo o dogma da Imaculada Conceição de Maria: “Deste nobre e singular triunfo da Virgem, da sua excelentíssima inocência, pureza e santidade, da sua imunidade do pecado original, e da inefável abundância e grandeza de todas as suas graças, virtudes e privilégios, viram os mesmos Padres uma figura na arca de Noé, que, construída por ordem de Deus, ficou completamente salva e incólume do naufrágio comum; na escada que Jacó viu, da terra, chegar até ao céu: escada por cujos degraus os Anjos subiam e desciam, e em cujo topo estava o próprio Senhor; na sarça que, embora vista por Moisés arder no lugar santo, por todos os lados, em chamas crepitantes, contudo não se consumia sem sofria dano algum, mas continuava bem verde e florida, (...) e enfim, em todas aquelas outras inumeráveis figuras em que os Padres divisaram (e lhe transmitiam o ensinamento) o claro prenúncio da excelsa dignidade da Mãe de Deus, da Sua ilibada inocência e da Sua santidade, nunca sujeita a qualquer mancha”.

113. Se São Paulo assevera que “todos pecaram e necessitam da graça de Deus, não havendo um justo no mundo” (Romanos III, 23), como dizer que Maria foi concebida sem pecado?
A frase de São Paulo diz que TODOS pecaram. Portanto, também teria pecado Cristo? Ora, sabemos que isso é absurdo, pois o Apóstolo fala do geral, sem se preocupar nesse ponto com o particular. A questão é: se há ao menos um particular que foge da regra geral – Cristo – por que isso não se pode aplicar a Maria?
Se a sentença é para TODOS, Cristo também está incluído. Se há exceções, por que não Maria? Ou seja: na frase isolada de São Paulo não há nenhuma exceção! Há exceções? Evidente que sim, em OUTRAS passagens. Isso significa que devemos examinar TODA a Bíblia para emitir um juízo, e não apenas citar uma frase isolada. De FRASES ISOLADAS não se podem tirar conclusões como insistem em fazer os protestantes. Se há OUTROS trechos que mostram que Cristo não pecou, que Cristo é exceção à regra, também há pelo menos um trecho que mostra que Maria não pecou, que é cheia de graça, como afirmou São Lucas (I, 28).

114. Por que os protestantes negam a Imaculada Conceição de Maria?
Eles negam esta verdade, seguindo o exemplo de seu mestre Martinho Lutero, que pregou o livre-exame da Bíblia, sendo que a Escritura foi confiado ao Papa somente. Daí os protestantes, como Lutero, isolarem alguns trechos, deduzindo daí conclusões errôneas, afastando-se cada vez mais das verdades reveladas por Deus. Convém saber também que Lutero aceitou a Imaculada Conceição de Maria até 1527! (pelo menos 10 anos após sua revolta aberta).
E ele negará depois a Imaculada Conceição de Maria, pois tinha uma visão distorcida do homem, cuja natureza seria completamente decaída com o pecado original, e que por isso não poderia fazer nada de bom, nem contribuir com a graça divina.
E mais, ao negar depois a Imaculada Conceição, Lutero irá conciliar sua visão também diabólica e dualista de Cristo, em que Nosso Senhor é visto como pecador também! Pois para Lutero, Cristo “(...) É rocha, pedra angular”. Mas acrescenta: pedra significa peccatum, “ita Christus vere est peccatum” (Assim Cristo é verdadeiramente pecado). Não se trata de uma “pessoa”, mas de duas funções, cuja primeira é proteger-nos da ira divina e a segunda é dar-nos um exemplo.” (Beer: 56). E ainda, blasfemamente: “Cristo, diz Lutero, cometeu adultério pela primeira vez, com a mulher da fonte, de que nos fala São João. Não se murmurava em torno dele: “Que fez, então, com ela?” Depois com a mulher adúltera, que ele absolveu tão levianamente. Assim Cristo, tão piedoso, também teve de fornicar, antes de morrer. (Propos de table, n. 1472, ed. De Weimar, II, 107)” (Brentano: 151). Lutero blasfemava constantemente, não só contra a Mãe de Deus, mas referindo-Se ao próprio Deus: "Deus age sempre como um louco" (Franz Funck Brentano, Martim Lutero, p. 111), concluía triunfante.
E para completar, foi Lutero quem alterou o atributo Mariano "cheia de graça" (Kecharitomene) por "abençoada" em sua tradução da Bíblia para o alemão, distorcendo completamente o sentido da saudação angélica. Foi Lutero quem primeiro negou a Maria Santíssima o privilégio único concedido por Deus e expresso pelo anjo: "cheia de graça"!

§ A vida santíssima da Imaculada Mãe de Deus

115. Durante a vida cometeu a Santíssima Virgem alguma falta mesmo venial?
Não, durante sua vida santíssima, a Mãe de Deus nunca cometeu nenhuma falta, mesmo venial. A graça que Deus Lhe conferiu no primeiro instante de sua concepção foi maior que a concedida a todos os anjos e santos juntos, e desde este momento, Maria Santíssima – que já possuía, devido a ausência do pecado original e seus males, o uso da razão – correspondeu perfeitamente a esta graça imensa que recebia do Criador, de sorte que, ao nascer nove meses depois, refulgia em santidade, em um esplendor que era a admiração dos próprios anjos de Deus. No decorrer da vida, cresceu em graça e santidade, tornando-Se o modelo e a Rainha de todos os santos, a mais semelhante a Deus, Seu Filho.

116. Por que Deus Lhe concedeu tamanha santidade?
Santo Afonso de Ligório nos responde dizendo: “A dignidade do Filho exigia uma Mãe nos esplendores de consumada santidade”, querendo dizer que não convinha que Deus tivesse por Mãe uma santa comum, mas que a santificasse de tal maneira que, de algum modo, merecesse ser Sua Mãe. O mesmo Santo escreve: “Acima de toda dúvida está que Maria foi digna Mãe de Deus. Que excelência, que perfeição, não devia, por conseguinte, ser a sua? Pergunta S. Tomás de Vilanova. Quando Deus eleva alguém a uma alta dignidade, também o torna apto para exercê-la, ensina o Doutor Angélico [São Tomás de Aquino]. Tendo eleito Maria por Mãe, certamente por sua graça a tornou digna de tão sublime honra. E daí o Santo deduz que jamais cometeu Maria pecado atual, nem venial sequer. Digna não teria sido, ao contrário, como Mãe de Jesus Cristo, porquanto a ignomínia da mãe passaria para o Filho, descendente de uma pecadora. Cometesse Maria um só pecado venial, que enfim não priva a alma da divina graça, e já não seria digna Mãe de Deus.” (...) “O Senhor nos deu o preceito de honrar os nossos pais. Ele próprio não quis deixar de observá-lo ao fazer-Se homem, nota S. Metódio, e por isso cumulou Sua Mãe de todas as graças e honras.” (Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 243, 244 e 245).

117. O que a Sagrada Tradição nos diz a respeito deste ponto?
A Tradição Apostólica, expressa nos decretos dos Concílios infalíveis, expressa essa mesma verdade. Como exemplo podemos citar o Santo Concílio de Trento, que afirma: “Se alguém disser (...) que o homem pode, durante a vida, evitar todos os pecados, também os veniais, sem uma prerrogativa especial concedida por Deus, como a Igreja ensina a respeito da Bem-aventurada Virgem – seja excomungado” (Concílio de Trento, Cânones sobre a Justificação, 833, cân. 23).

118. A Sagrada Escritura faz alguma referência às virtudes praticadas por Maria Santíssima?
Poucas particularidades registram os evangelistas, quando falam das virtudes de Maria. Entretanto, chamando-A “cheia de graça” nos fazem saber, bem claramente, que teve todas as virtudes em grau heróico, visto ser efeito da graça tanto evitar o pecado como a praticar as virtudes; por esta razão, sendo “cheia de graça”, evitou o pecado de modo perfeito e, conseqüentemente também foi perfeita na prática de todas as virtudes. De modo que, diz São Tomás, enquanto os demais Santos sobressaíam, cada um em alguma virtude particular, foi a Bem-Aventurada Virgem extraordinária em todas e de todas nos foi dada por modelo. É idêntico o testemunho de Santo Ambrósio, no século IV: “A sua só vida é uma escola de virtudes para todos”.

119. Por que os Evangelhos falam pouco das virtudes de Maria Santíssima?
Por Sua grande humildade. Assim nos ensina São Luís G. de Montfort: “Toda a Sua vida Maria permaneceu oculta (...) Tão profunda era a Sua humildade, que, para Ela, o atrativo mais poderoso, mais constante era esconder-Se de Si mesma e de toda criatura, para ser conhecida somente de Deus. Para atender aos pedidos que Ela Lhe fez de escondê-La (...) Deus Espírito Santo consentiu que os apóstolos e evangelistas a Ela mal se referissem, e apenas no que fosse necessário para manifestar Jesus Cristo”. Portanto, a própria omissão das virtudes de Maria, por parte dos evangelistas, revela uma de Suas maiores virtudes: a humildade.
E em outra parte, explicando outro motivo, escreve o mesmo Santo: “Na primeira vinda de Jesus Cristo, Maria quase não apareceu, para que os homens, ainda insuficientemente instruídos e esclarecidos sobre a Pessoa de Seu Filho, não se Lhe apegassem demais e grosseiramente, afastando-se, assim, da verdade”. Era, pois conveniente que os Evangelhos salientassem Quem era Jesus Cristo, pois os homens ainda não conheciam plenamente a verdade, e poderiam se apegar grosseiramente a Mãe de Deus se lhes apresentasse, logo de início, Suas sublimes virtudes.
Não obstante, os Santos Evangelistas afirmaram, ao menos implicitamente, toda a glória de Maria Santíssima. Neste sentido, escreve São Tomás de Vilanova: “Ninguém se maravilhe se os Santos Evangelistas, tão prontos em descrever as prerrogativas e louvores de João Batista, de Madalena, foram tão parcos em descrever as prerrogativas de Maria. Contentam-se em dizer que “dela nasceu Jesus”. Basta-nos isso. Com tais palavras dizem tudo, resumem-lhe todas as excelências, sendo por isso desnecessário que as fossem descrevendo uma a uma. E descrevê-las por quê? Maria é Mãe de Deus, e já não excede com isso a toda a grandeza e dignidade que se pode exprimir e imaginar depois de Deus?”

120. Em face da perfeição de Maria Santíssima, o que nós, Seus devotos, devemos fazer?
Santo Ambrósio nos exorta, dizendo: “Seja-vos como uma imagem e luminoso modelo a virgindade e a vida de Maria. Nela tendes exemplos para vossa vida, mostrando-vos o que deveis corrigir ou evitar ou guardar”.

121. Para ser socorrido pela intercessão poderosíssima da Mãe de Deus, é necessário imitar-Lhe as virtudes?
Sim, e disso nos garante São Bernardo: “Que o Nome de Maria nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dEla, não negligencies os exemplos de sua vida. Seguindo-a, não te transviarás; rezando a ela, não desesperarás; pensando nela, evitarás todo erro. Se ela te sustenta, não cairás; se ela te protege, nada terás a temer; se ela te conduz, não te cansarás; se ela te é favorável, alcançarás o fim.”

§ Do suposto “desprezo” de Jesus por Sua Mãe (!!!)

122. Se a Santíssima Virgem foi tão perfeita, por que, em alguns trechos da Escritura (Lc. 11, 27-28 e Lc 8, vs 19-21:), Jesus parece desprezar Sua Mãe, mesmo chamando-A de “Mulher”?
Antes de tudo, é preciso reconhecer nossa incapacidade em entender as Escrituras, ao contrário então do livre-exame protestante. Reconhecer nossa incapacidade, sim, pois a primeira impressão de qualquer pessoa que lê esses trechos sobre Nossa Senhora é de que Cristo Nosso Senhor deu um duro tratamento à Sua santa mãe. No entanto, quando alguém nos explica, o que ocorre é bem diverso. Santo Agostinho, Doutor da Igreja, assim os explica: Sobre Lc. 11, 27-28: 27 "Enquanto ele assim falava, uma mulher levantou a voz do meio do povo e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram! Mas Jesus replicou: Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam!" O Santo, então, ensina:
“Isso significa: Minha mãe, ela mesma, a quem chamais de feliz (bem-aventurado), é feliz porque guarda a palavra de Deus. Não é feliz somente porque nela a Palavra “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). É feliz porque guardou essa mesma palavra de Deus, por quem foi feita e que nela se fez carne. Logo, que as pessoas não se alegrem por sua posteridade temporal, mas sim, exultem pelo espírito com que estão unidas a Deus.” (Comentário do Evangelho de João X, 3., in Agostinho, Santo, A Virgem Maria - Cem textos Marianos com comentários, Paulus, 3a. ed.). Ou seja, nessa passagem Cristo ensina uma determinada verdade, a da posteridade espiritual, que se aplica também e muito apropriadamente a Maria, visto Ela mesma ter ouvido e posto em prática perfeitamente a vontade de Deus: “Eis aqui a escrava do Senhor” (Lc I, 38). Cristo se opõe à idéia arraigada nos judeus de que era a posteridade temporal que importava, por causa da lei.

Sobre o trecho de Lc 8, vs 19-21: "A mãe e os irmãos de Jesus se aproximaram, mas não podiam chegar perto dele por causa da multidão. Então anunciaram a Jesus: «Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem te ver.» Jesus respondeu: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática.»"
Ou também Mt 12, 50: "Disse-lhe alguém: Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar-te. Jesus respondeu-lhe: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe."
Comenta Santo Agostinho:
"O Senhor indica assim, o parentesco espiritual que o liga ao povo por ele redimido. Conta como irmão e irmã a todos os homens e a todas as mulheres que se tornam santos, por serem seus co-herdeiros na herança celestial. Sua mãe é a Igreja inteira, pois, pela graça de Deus, ela dá à luz os seus membros que são os fiéis. Além do mais, sua mãe é ainda toda alma piedosa que cumpre a vontade de seu Pai e cuja fecundíssima caridade manifesta-se naqueles que ela gera para ele, até que o próprio Cristo seja neles formado. (Gl 4,19). Portanto, Maria ao fazer a vontade de Deus é, corporalmente, só a mãe de Cristo; mas, espiritualmente, é também a sua mãe e irmã." e ainda: “Logo, isso acontece com Maria, visto que ela sempre está a fazer a vontade do Pai.(...)” (Agostinho, Santo, A Virgem Maria - Cem textos Marianos com comentários, Paulus, 3a. ed., Pág. 54).

Portanto, novamente, nenhum desprezo a Maria Santíssima.
Ao contrário, é a afirmação da superioridade da Nova Aliança, da qual Maria participa absolutamente, ao fazer a vontade de Deus.

No trecho de Lc 2, vs 49-50 vemos a manifestação da natureza divina em Cristo, ao revelar sua missão como Filho de Deus: "Sua mãe lhe disse: «Meu filho, por que você fez isso conosco? Olhe que seu pai e eu estávamos angustiados, à sua procura.» Jesus respondeu: «Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?» Mas eles não compreenderam o que o menino acabava de lhes dizer."
Aqui a intenção de Cristo é mostrar sua natureza divina, e de forma alguma ofender seus pais. Devemos ter em mente que se Cristo nunca se revelasse como Filho de Deus no Evangelho, e somente como filho de Maria, se levantariam os hereges de todos os matizes para dizer que Cristo foi um simples homem. E mesmo com as passagens que afirmam a divindade de Cristo, como esta citada, o mesmo Santo Agostinho nos informava que bem antes de Ario os Cerintiani já afirmavam que Cristo não era Deus! (Agostinho, Santo, Le Eresie - Catalogo e confutazione delle eresie del mondo antico, Ed. Mimesis, Italia, pág. 45)

Sobre os trechos onde Cristo chama Sua Gloriosa Mãe de Mulher, a explicação é a seguinte:

Quando Nossa Senhora disse a Cristo : "Eles não têm mais vinho", a resposta de Nosso Senhor à sua Mãe, à primeira vista, pareceria dura àqueles que não possuem verdadeira compreensão da Sagrada Escritura. Disse Ele: "Quid mihi et tibi est, mulier? Nondum venit hora mea" _ "mulher, que temos Eu e tu com isso? Ainda não chegou a minha hora". ( Jo. II, 4).
Os protestantes se rejubilam, porque, segundo eles, Cristo teria dado uma resposta dura senão grosseira à sua Mãe, por chamá-la simplesmente de "mulher" e não de Mãe. Na sua malícia esses protestantes nem se dão conta que, dizendo isso, estão acusando ao próprio Cristo Deus de faltar com a honra devida aos pais, como também de faltar com a virtude da mansidão. Ora, examinando-se melhor a resposta de Cristo, se vê como ela é, de fato, elogiosa para com a Virgem Maria. Em primeiro lugar, convém lembrar que Ele a chamou de "mulher", também no Calvário, dizendo do alto da Cruz: "Mulher, eis aí o teu filho" ( Jo. XIX, 26).
Chamando-a de "Mulher", Ele fala como Deus à sua criatura. Mas, ainda mais importante do que isso para compreender o texto, é que Cristo chama sua Mãe Santíssima de "Mulher", para que todos reconheçam nela aquela "mulher" que profetizou no Gênesis, quando amaldiçoou a serpente: "Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua raça e a dela, e ela mesma te esmagará a cabeça" (Gen. III, 15).
Cristo, então, chama sua Mãe de mulher, para que todos reconheçam nela a mulher, aquela que esmagou a cabeça da serpente ao consentir na Encarnação do Verbo, o Filho de Deus nascido de Maria Virgem. E assim como de Cristo se disse bem propriamente "Ecce Homo" – Eis o Homem --, assim também é próprio dizer da Virgem Maria Mãe de Deus: "Ecce Mulier", Eis a Mulher, Mater et Virgo, aquela que possui as duas perfeições mais importantes da "Mulher": ser Mãe e ser Virgem.
São Tomás comenta que Cristo chama Maria de mulher, para mostrar que Ele era Filho de Deus e de uma mulher, a fim de combater todas as heresias gnósticas, como a dos maniqueus e a dos cátaros, que condenavam a matéria como sendo má em si, e obra do deus do mal. Por isso, maniqueus e cátaros condenavam a mulher, o casamento e a procriação. Afirmando-se também como filho de uma mulher, Cristo condenava as heresias que negariam a sua humanidade, como iam fazer os eutiquianos, que afirmavam ter tido Ele apenas um corpo aparente e não verdadeiro.

Por tudo isso, convinha muito que o Evangelho salientasse que ela era "a mulher" e que afirmasse ser ela a mãe de Jesus: "E Mãe de Jesus estava aí". Por isso também São Paulo afirma: "Deus enviou seu Filho, nascido de mulher" (Gal. IV,4).

123. O que podemos concluir depois destas explicações?
Depois destas explicações, podemos ter uma idéia da santidade e da glória da Imaculada Mãe de Deus. Pois sendo Deus eterno e perfeito, tinha conhecimento, desde toda a eternidade, que esta Virgem consentiria em dar a luz Seu Filho Unigênito, e por isso A cumulou de tanta santidade e graça, para tornar-Se digna Mãe de tão digno Filho.

124. Como poderemos resumir a doutrina sobre a Imaculada Conceição de Maria?
Podemos resumi-la servindo-nos das palavras do Sumo Pontífice, o bem-aventurado Papa Pio IX: “Assim Deus, desde o princípio e antes dos séculos, escolheu e pré-ordenou para Seu Filho uma Mãe, na qual Ele se encarnaria, e da qual, depois, na feliz plenitude dos tempos, nasceria; e, de preferência a qualquer outra criatura, fê-La alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer nEla com singularíssima benevolência. Por isso cumulou-A admiravelmente, mais do que todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da Sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda mancha de pecado, toda bela e perfeita, Ela possui uma tal plenitude de inocência e de santidade, que, depois de Deus, não se pode conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente pode chegar a compreender.
E, certamente, era de todo conveniente que esta Mãe tão venerável brilhasse sempre adornada dos fulgores da santidade mais perfeita, e, imune inteiramente da mancha do pecado original, alcançasse o mais belo triunfo sobre a antiga serpente; porquanto a Ela Deus Pai dispusera dar seu Filho Unigênito – gerado do Seu seio, igual a Si mesmo e amado como a Si mesmo – de modo que Ele fosse, por natureza, Filho único e comum de Deus Pai e da Virgem; porquanto o próprio Filho estabelecera torná-La Sua Mãe de modo substancial; porquanto o Espírito Santo quisera e fizera de modo que dEla fosse concebido e nascesse Aquele de Quem Ele mesmo procede” (Bem-aventurado Papa Pio IX, Bula Innefalibis Deus, Dogma da Imaculada Conceição, a 8 de dezembro de 1854).

125. O que a Imaculada Conceição de Maria nos ensina?
Ela nos faz perceber o grande amor de Deus por Sua Mãe Santíssima, que com tal privilégio A exaltou tanto; faz-nos entender quanto Deus aprecia e ama a pureza e a santidade da alma e o quanto odeia o pecado, mesmo as menores faltas; aumenta mais em nós a devoção a Maria que, sendo tão cara a Deus, pode nos alcançar todas as graças necessárias para nossa salvação: o perdão dos pecados, a força para resistir as tentações e observar os Mandamentos de Deus, a pureza, a paciência, a perseverança, o amor a Deus e uma santa morte.

Quarta Parte
Maria, elevada de corpo e alma à glória celeste

§ A Assunção de Nossa Senhora

126. Com a alma de Maria, foi levado ao Céu também o seu corpo?
Sim, com a alma de Maria foi levado ao Céu também o seu corpo.

127. Quando a Igreja definiu como verdade revelada por Deus a assunção de corpo e alma da Santíssima Virgem ao Céu?
A Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao Céu foi definida pelo Papa Pio XII, em 1º de novembro de 1950.

128. Com a proclamação do dogma, temos nós absoluta certeza que Maria Santíssima está no céu de corpo e alma?
Sim, porque Jesus Cristo confiou somente à Igreja Católica as verdades que Ele mesmo ensinou; e a São Pedro – o primeiro Papa – deu o poder das Chaves, isto é, a infalibilidade, assegurando-nos de que, em matéria do que devemos crer (Fé) e fazer (Moral) o Papa, falando como Chefe da Igreja e Representante de Cristo, não errará nunca.

129. A Sagrada Tradição faz ensina a assunção de Maria?
Sim, desde os primórdios do Catolicismo, os fiéis crêem na assunção de Maria Santíssima. A Igreja sempre celebrou a festa da assunção de Maria, é esta a mais antiga das festas de Nossa Senhora. Já antes do ano 430 encontramos a festa. No Ocidente é São Gregório de Tours, morto em 573, o primeiro que fala da assunção corporal de Maria ao Céu. São João Damasceno, que viveu por volta do ano 730, exclama com veemente eloqüência: "Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, o contemplasse assentado à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus" (S. João Damasc., Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 14).
Outro escritor antiquíssimo assevera por sua vez: "A gloriosíssima Mãe de Cristo, Deus e Salvador nosso, dador da vida e da imortalidade, foi glorificada e revestida do corpo na eterna incorruptibilidade, por aquele mesmo que a ressuscitou do sepulcro e a chamou a si duma forma que só Ele sabe" (Encomium in Dormitionem Sanctissimae Dominae nostrae Deiparae semperque Virginis Mariae [atribuído a S. Modesto de Jerusalém])
E o Santo Terço, cuja difusão é atribuída a São Domingos, que viveu na Idade Média, que o usou como um remédio para os fiéis católicos contra a heresia e o pecado, como instruído por Nossa Senhora, quando a heresia Albigense assolava Toulose, contêm a Assunção gloriosa de Maria ao céu no décimo quinto mistério.

130. A Sagrada Escritura, por sua vez, menciona a Assunção corporal de Maria ao Céu?
Ainda que não explicitamente, podemos encontrar uma afirmação implícita no seguinte trecho: "Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida de sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas" (Ap 12, 1)
No Apocalipse, João contempla nesta visão três verdades: a Assunção de Nossa Senhora, sua glorificação, sua maternidade espiritual. O Apocalipse descreve que esta mulher "estava grávida e (...) deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações..." (Ap 12, 2.5). Qual mulher, que de fato, esteve grávida de Jesus senão a Santíssima Virgem? (conf. Is 7, 14). Outros entendem diversamente, dizendo que esta mulher é símbolo da Igreja nascente. Embora esta interpretação também seja possível, ela não exclui a sua aplicação a Nossa Senhora, pois a Igreja nunca esteve "grávida" de Jesus Cristo! Antes, foi Cristo que gerou a Igreja, foi ele que a estabeleceu e a sustenta.
Poder-se-ia argumentar contra a interpretação desta mulher como símbolo da Virgem Maria o fato de o Apocalípse afirmar que ela "estava grávida, e clamava com dores de parto e sofria tormentos para dar à luz" (Apoc. XII,2).
Ora, Nossa Senhora não deu à luz no meio das dores. Por isso, o texto pode ser aplicado aí à Igreja que gera seus filhos em meio das dores, como o diz São Paulo. Entretanto, também a Virgem participa dessas dores espirituais da Igreja ao gerar seus filhos. De modo que, ainda assim, a figura da Mulher do Apocalípse pode, sim, ser aplicada perfeitamente a Nossa Senhora.
E para provar que esta mulher é Nossa Senhora, em outro lugar está escrito: "O Dragão vendo que fora precipitado na terra, perseguiu a Mulher que dera à luz o Menino" (Ap 12, 13). A Igreja teria dado à luz a um Menino? Evidente que não! Portanto esta mulher refulgente é unicamente, Nossa Senhora, pois foi ela unicamente que gerou "o menino" prometido (conf. Is 9, 5). Diz ainda a Sagrada Escritura que: "(o Dragão) deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz (...) para lhe devorar o Filho (...) A Mulher fugiu para o deserto, onde (...) foi sustentada por mil duzentos e sessenta dias" (Ap 12, 4.6). De fato, o demônio maquinou contra a vida de Jesus desde seu nascimento, na pessoa do perseguidor Herodes. Maria fugiu então com o filho para o deserto (Egito). Lá ficou por aproximadamente mil e duzentos e sessenta dias (três anos e meio). Ou seja, do ano 7 AC, ano do nascimento de Jesus, conforme atualmente se acredita, até março-abril do ano 4 AC, ano da morte de Herodes. Perfazendo os três anos e meio de exílio, nos quais foi sustentada pela Providência.
Portanto, todos esses versículos, confirmam primeiramente a assunção de Nossa Senhora. Pois o apóstolo a contempla revestida de sol, já estabelecida desde agora na glória prometida pelo seu Filho, quando diz "Os justos resplandecerão como o sol" (Mt 13, 43). Confirma incontestavelmente sua realeza espiritual, pois a mesma se apresenta coroada com doze estrelas, símbolo das doze tribos de Israel e dos doze apóstolos. Portanto Rainha do Antigo e do Novo Testamento. Por fim confirma sua maternidade espiritual, pois diz o Espírito Santo: "(O Dragão) se irritou contra a Mulher (Maria) e foi fazer guerra ao resto de sua descendência (seus filhos espirituais), os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus" (Ap 12, 17). Somos de sua descendência apenas se nos comprometermos com o Cristo Jesus, guardando os seus mandamentos e testemunhando-o como nosso Senhor e Salvador.
E o Papa Pio XII, quando definiu o dogma, escreveu: “Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apóiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo. O nosso Redentor é também filho de Maria; e como observador perfeitíssimo da lei divina não podia deixar de honrar a sua Mãe amantíssima logo depois do Eterno Pai. E podendo Ele adorná-la com tamanha honra, preservando-a da corrupção do sepulcro, deve crer-se que realmente o fez.”

131. Mesmo se a Escritura Sagrada não fizessem nenhuma referência a assunção de Nossa Senhora, deveríamos crer nesta doutrina?
Evidente que sim, pois como foi dito duas são as fontes da Revelação Divina: a Sagrada Tradição, que vem dos Apóstolos, e a Sagrada Escritura; ambas possuem a mesma autoridade, visto ser o próprio Deus sua fonte comum. As verdades reveladas por Deus não podem se encontrar somente na Sagrada Escritura, visto que muitos trechos da mesma afirmam o contrário:
“Muitas outras coisas, porém, há ainda, que fez Jesus, as quais se se escrevessem uma por uma, creio que nem no mundo todo poderiam caber os livros que delas se houvessem de escrever” (Jo XXI, 25).
“Permanecei, pois constantes, irmãos, e conservai as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras ou por nossa carta” (II Tess. II, 14).
"Apesar de ter mais coisas que vos escrever, não o quis fazer com papel e tinta, mas espero estar entre vós e conversar de viva voz, para que a vossa alegria seja perfeita. " (II S. João, 1,12).
E a Sagrada Tradição sustenta esta doutrina firmemente, portanto, ela deriva dos Apóstolos de Jesus Cristo.

132. O que os Santos disseram a respeito desta verdade?
Todos os Santos sempre defenderam a verdade da assunção corporal de Maria Santíssima ao Céu. São Francisco de Sales, no século XVII, afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: "Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua mãe e não a levava para o céu?" E Santo Afonso escreve por sua vez: "Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que ele mesmo tomara a própria carne"

133. O que o Papa Pio XII, na declaração do dogma, disse a este respeito?
A Constituição Apostólica Munificentissimus Deus de Pio XII, que define dogmaticamente a Assunção de Maria, é clara ao afirmar que Nossa Senhora não conheceu a corrupção do sepulcro, conforme o seguinte trecho:
“...Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte, quando chegar o fim dos tempos. Por esse motivo, os corpos dos justos corrompem-se depois da morte, e só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa.
5. Mas Deus quis excetuar dessa lei geral a bem-aventurada virgem Maria. Por um privilégio inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua concepção imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a redenção do corpo até ao fim dos tempos.”

Como explica o Papa, a Assunção decorre da Imaculada Conceição de Maria, dogma este proclamado pelo beato Pio IX na Bula Ineffabilis Deus. A Imaculada Conceição é o privilégio concedido por Deus, aplicando por antecipação os méritos infinitos de Cristo na cruz, e que preservou Sua Mãe de todo pecado, particularmente do pecado original.
Sendo a morte e a corrupção do corpo conseqüências do pecado, Maria não deveria sofrer nem uma nem outra, já que não possuía a culpa comum a toda humanidade. Assim, considerando apenas as conseqüências do pecado, Maria não deveria nem morrer nem conhecer a corrupção do corpo após a morte.

134. De acordo com a verdade, Maria Santíssima, portanto, não morreu?
A Igreja não definiu se Ela teve que passar pela morte ou não antes de ser elevada ao céu. Pois o fundamental, o que foi definido dogmaticamente, é que ao final da vida terrena Maria Santíssima foi levada ao céu em corpo e alma, sem conhecer a corrupção corporal.

135. Haveria uma explicação mais clara?
Sim. Na proclamação do dogma, o Papa considera um outro aspecto menos evidente, mas que tem importância capital: o da imitação perfeita de Cristo por Maria Santíssima. Assim como Cristo morreu – e morreu também sem merecer pessoalmente, pois não possuía igualmente qualquer mancha de culpa – Maria deveria morrer para seguir o exemplo do Filho. Mesmo sem merecer a morte, Maria seria fiel discípula de seu Divino Filho em todas as situações, inclusive na imitação da morte.
É o que sinaliza o Papa Pio XII, na mesma Constituição Apostólica Munificentissimus Deus:
“40. Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade (...), generosa companheira do divino Redentor (...) à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17).”

Porém, se Maria Santíssima quis ou não morrer para imitar o Filho, não foi definido pela Igreja. O que a Igreja ensina infalivelmente a seus filhos é que, seja através da morte ou não, Maria Santíssima subiu aos céus sem conhecer a corrupção do sepulcro, para seguir fielmente seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo.

§ Da glória de Maria Santíssima no Céu e de nosso reconhecimento para com tão excelsa Rainha

136. Qual é a glória a que foi exaltada a Virgem Maria no Céu?
Maria foi exaltada acima de todos os coros dos Anjos, e acima de todos os Santos do Paraíso, como Rainha do Céu e da terra.

137. Por que foi a Virgem Maria exaltada no Céu acima de todas as criaturas?
A Virgem Maria foi exaltada no Céu acima de todas as criaturas porque é Mãe de Deus, e, conseqüentemente é de todas as criaturas a mais humilde e a mais santa.

138. O que a Assunção de Maria nos ensina?
Com a Assunção de Maria, alegramo-nos com Ela por Seu glorioso triunfo e exaltação; veneramos Maria Santíssima como Nossa Senhora e nossa Advogada junto de Seu Divino Filho, pelo Qual temos acesso ao Pai Eterno; e devemos pedir-Lhe que nos alcance de Deus, Seu Filho, a graça de viver santamente, e de nos prepararmos de tal maneira para a morte, que mereçamos ser por Ela assistidos e protegidos, e ter parte na Sua glória.

139. A proteção de Maria é de grande importância?
Sim, a proteção da Mãe de Deus, na vida e especialmente na morte, é de suma importância. Disso nos garante São Bernardo, quando diz: “Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nada terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás; se Ela te é favorável, alcançarás o fim”.

140. Por que a proteção de Maria Santíssima é de tamanha importância?
A proteção de Maria Santíssima possui tal importância, pois sendo Mãe de Deus, Ela nos pode mais graças que todos os outros Santos reunidos, sendo assim, podemos pedir-Lhe, cheios de confiança, as graças de que mais necessitamos.

141. Qual é a graça que nós mais devemos pedir à Mãe de Deus, Maria Santíssima?
Devemos pedir-Lhe que nos alcance a graça de jamais cometer pecados mortais até o dia de nossa morte, e se desgraçadamente já os tivermos cometidos, devemos rogar-Lhe que nos alcance o perdão deles e a graça para nunca mais cometê-los.

142. Por que devemos pedir com tanta insistência a graça de não cometer pecado mortal?
Pois quem morre em estado de pecado mortal é condenado ao Inferno.

143. O Inferno existe? Nele há fogo realmente? Como temos certeza disso?
Sim, o inferno existe, e nele há fogo de verdade. Cremos nesta verdade mais do que se tivéssemos visto com nossos próprios olhos, pois Deus mesmo O disse e, sendo a própria Verdade, não pode Se enganar nem nos enganar; tudo o que Deus nos diz é absolutamente verdadeiro.

144. Podemos pedir razões a Deus ou mesmo desconfiar do que Ele revelou?
Não, pois assim como não é certo pedir razões ou desconfiar de alguém digno de confiança, muito maior erro seria desconfiar de Deus, o Qual é absolutamente incapaz de errar ou mentir.

145. A Igreja sempre ensinou que o inferno existe? Como podemos ter certeza que sua doutrina foi revelada por Deus?
Sim, a Igreja sempre ensinou que o inferno existe realmente e que seus tormentos são eternos. As provas de que a doutrina Católica foi realmente revelada por Deus são:
• Jesus Cristo, autor divino desta doutrina, a confiou por meio dos Apóstolos à Igreja Católica, por Ele fundada e constituída Mestra Infalível de todos os homens, prometendo-Lhe a Sua divina assistência até à consumação dos séculos
• A santidade eminente de tantos que a professaram e professam
• A heróica fortaleza dos mártires, que padeceram toda espécie de tormento – desde o fogo até às feras – para não renunciar a Fé Católica
• Pela sua rápida e admirável propagação pelo mundo, acompanhada por estupendos milagres
• Pela sua conservação através de tantos séculos de muitas e contínuas lutas
• Sobretudo, pelos milagres que Deus se dignou realizar ao longo da história. O milagre é, com efeito, como que uma “assinatura” de Deus, provando que tal doutrina foi realmente revelada por Ele; dessa forma, Deus os realiza somente na religião que Ele revelou. E como se pode provar facilmente, somente na Igreja Católica há milagres, milhares deles. Milhares de corpos de santos incorruptos por séculos, curas definitivas das doenças mais terríveis; suspensão de leis naturais na visão de milhares de pessoas reunidas, como Sol em Fátima, que “dançou” para 80 mil pessoas, incluindo ateus e céticos em geral; somente no Catolicismo há ressurreições de mortos aos montes, há hóstias que depois de consagradas se convertem visivelmente em carne e se conservam por séculos. Há milagres até com hora prevista, como a liquefação do sangue de São Januário, que ocorre todos os anos, no mesmo dia e na mesma hora, entre tantos e tantos milagres grandiosos.

Eis as provas que o Catolicismo é a religião revelada por Deus. Por isso devemos crer absolutamente em tudo o que nos ensina a Igreja Católica, em virtude da autoridade do próprio Deus que – como foi dito – é impossível Se enganar e nos enganar.

146. O que a Igreja ensina, portanto, sobre o inferno e seus tormentos?
A Igreja ensina que o inferno é um lugar destinado pela Justiça Divina para punir com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal. A primeira pena que os condenados sofrem no inferno, é a pena dos sentidos, que são atormentados por um fogo que queima horrivelmente, sem nunca diminuir de intensidade. Fogo nos olhos, fogo na boca, fogo em todas as partes. Cada sentido sofre a própria pena; os olhos sofrem pela fumaça e pelas trevas e são aterrados pela vista dos demônios e dos outros condenados. Os ouvidos, dia e noite só escutam contínuos uivos, prantos e blasfêmias. O olfato sofre enormemente pelo mau cheiro daquele enxofre ardente que o sufoca. A boca é atormentada por sede devoradora e fome canina: “Sentirão fome como cães”. E se alguém, desgraçadamente, morrendo em pecado mortal, cair no inferno, nunca mais dele sairá. Lá se sofrem todas as penas e todas eternamente. Passarão cem anos que caíste no inferno, passarão mil anos e o inferno estará ainda em seu começo; passarão cem mil, cem milhões, passarão milhões de séculos e o inferno terá apenas começado. Sempre, por toda a eternidade. Sempre, verá escrito naquelas chamas que queimam. Sempre, na ponta das espadas que o transpassam. Sempre, naqueles demônios que o atormentam. Sempre, naquelas portas eternamente fechadas para o condenado.
Santo Afonso de Ligório também diz claramente: “Lancemos de passagem um olhar para as penas do inferno, onde já se acham infelizes a suportá-las. Esses infelizes estão imersos num mar de fogo, no qual sofrem uma agonia ininterrupta, pois nesse fogo experimentam toda sorte de tormentos. Estão entregues às mãos dos demônios, que, cheios de furor, não fazem outra coisa que atormentá-los incessantemente. Mais do que pelo fogo e por todos os outros horrores, são atormentadas pelo remorso da consciência pelos pecados cometidos durante a vida, por cuja causa foram condenados. Vêem fechado para sempre todo caminho que possa conduzi-los para fora desse abismo de tormentos. Vêem-se banidos para sempre da companhia dos santos e da pátria celeste, para a qual foram criados. O que, porém, mais os aflige e constitui o seu inferno é verem-se abandonados de Deus e condenados a não poderem mais amá-lo nem dEle recordar-se senão com ódio e rancor.”

147. Quais são as condições para que um pecado seja mortal?
Para que um pecado seja mortal são necessárias três coisas:
- matéria grave: quando se trata de uma coisa notavelmente contrária à Lei de Deus e da Igreja (são exemplos de matéria grave: faltar a Missa nos domingos e dias santos; TODOS os pecados contra a castidade – pureza – sejam de pensamentos, palavras ou obras; controle de natalidade; aborto; assassinato, etc)
- plena advertência: quando se conhece perfeitamente que se faz um mal grave;
- consentimento perfeito da vontade: quando se quer fazer deliberadamente uma coisa, embora se reconheça que é culpável;
Faltando uma dessas condições, o pecado é venial e, portanto, não merece o inferno como castigo.

148. De acordo com o que Deus revelou e a Igreja ensina, quantos pecados mortais são necessários para cair no inferno?
Embora a consideração das penas do inferno nos faça tremer, o que deve encher de pavor é pensar que aquela horrível fornalha está sempre aberta debaixo de nossos pés e que é suficiente um só pecado mortal para lá nos fazer cair. Uma pena eterna por um só pecado mortal que cometemos com tanta facilidade. Uma blasfêmia, uma profanação dos dias santos, um furto, um ódio, uma palavra, um ato, um pensamento obsceno basta para sermos condenado ás penas do inferno.

149. Como pode Deus condenar a suplícios eternos alguém que tenha cometido um único pecado mortal?
Deus age com extrema justiça condenando os que morrem em pecado mortal às penas eternas do inferno; pois o pecado mortal O ofende infinitamente, sendo a Majestade Divina infinita, exige reparação infinita, pois a ofensa é proporcional ao ofendido: como o pecado mortal ofende a Deus Infinito, exige que seja castigado com uma pena infinita. Como o homem, sendo criatura, é finito, jamais poderia pagar esta dívida infinita em intensidade, tendo que pagá-la em duração. Por este motivo, o inferno é eterno.

150. Como podemos receber o perdão dos pecados mortais cometidos?
Recebemos o perdão dos pecados mortais no Sacramento da Confissão. Para tanto, devemos fazer um bom exame de consciência, examinando todos os pecados mortais cometidos, arrepender-nos (mesmo que seja somente com o medo do inferno), ter um firme propósito de nunca mais cometê-los, confessá-los todos a um padre, confessando também o número de vezes que foram cometidos e cumprir a penitência que ele nos impor.

151. Se desgraçadamente cometermos um pecado mortal, devemos confessar-nos o mais depressa possível?
Sim, pois não sabemos quando será o dia de nossa morte, que pode ser no dia de hoje. É recomendável confessar-se com freqüência, mesmo que não tenha cometido pecados mortais, pois o Sacramento da Confissão não só perdoa os pecados mas também nos dá forças para não comete-los.

152. Quem institui este Sacramento?
O Sacramento da Confissão – e todos os outros Sacramentos – forma instituídos pelo próprio Jesus Cristo, como atestam a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura, para nos aplicar os merecimentos de Sua Paixão, pagando nossos pecados; se sorte que é por meio dos Sacramentos que Ele nos salva.

153. Em que trecho da Escritura Nosso Senhor Jesus Cristo institui o Sacramento da Confissão?
Foi instituído por Cristo no dia da sua Ressurreição quando, depois de entrar no cenáculo, deu solenemente aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados: “Soprou sobre eles [os Apóstolos] dizendo: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos’” (Jo XX, 22-23).

154. Qual a intenção de Jesus Cristo ao instituir este Sacramento?
Nosso Senhor instituiu o Sacramento da Confissão [também chamado Sacramento da Penitência] para que tivéssemos a confiança de serem perdoados os nossos pecados, pela absolvição do sacerdote; para que nossas consciências ficassem mais tranqüilas, por causa da fé que justamente devemos ter na eficácia dos Sacramentos. Pois quando o sacerdote nos perdoa os pecados, na forma sacramental, suas palavras têm o mesmo sentido que as palavras de Cristo Nosso Senhor ao paralítico: ‘tem confiança, filho, teus pecados te são perdoados’ (Mt IX, 2). Depois, como ninguém pode conseguir a salvação senão por Cristo, e na virtude de Sua Paixão, havia conveniência em si e muita utilidade para nós, que fosse instituído um Sacramento, por cuja eficácia corresse sobre nós o Sangue de Cristo [isto é, os Seus méritos], a fim de nos purificar dos pecados cometidos depois do Batismo; e assim reconhecemos que devemos unicamente a Nosso Salvador a graça da reconciliação.

155. Podemos esperar o perdão dos pecados mortais sem o Sacramento da Penitência?
Não; pois a virtude de apagar os pecados lhe é tão própria, que sem a Penitência não podemos absolutamente alcançar, nem sequer esperar uma remissão de pecados. Pois está escrito: ‘Se não fizerdes penitência, todos vós perecereis da mesma maneira’ (Lc XIII, 3)”. Este Sacramento tem virtude de perdoar todos os pecados, por muitos e grandes que sejam, contanto que se receba com as devidas disposições.

156. É por este motivo então, que devemos suplicar a Maria Santíssima nos alcance a graça de nunca cometer nenhum pecado mortal ou então o perdão para os que, infelizmente, cometemos?
Sim, com a intercessão de Nossa Senhora, Jesus Cristo nos concederá a graça do arrependimento, podendo assim, nos perdoar no Sacramento da Penitência e certamente Maria Santíssima nos alcançará esta graça, contanto que empreguemos os meios necessários.

157. Quais são os meios necessários para evitar o pecado mortal?
O primeiro meio é a oração, sobretudo do terço, e devemos rezar principalmente quando estamos sendo tentados a cometer um pecado mortal, repetindo, enquanto durar a tentação, os Santíssimos Nomes de Jesus e Maria; o segundo meio é a mortificação, isto é, não olhar para o que não se deve, não falar e não ouvir o que é contra os mandamentos de Deus e evitar as más companhias; o terceiro meio é a fuga do ócio, procurando sempre estar com a cabeça ocupada, como já dizia São Jerônimo: “Faça com que o demônio sempre te encontre ocupado”, o quarto meio é o recolhimento, o quinto é a fuga das ocasiões que nos levam a pecar (pessoas, lugares, ou coisas), sobretudo em matéria da virtude da pureza, como dizia São Filipe Néri: “Na luta pela pureza, vence quem foge”; e, sobretudo, devoção a Maria Santíssima, que com Sua poderosa proteção alcançar-nos-á o perdão dos pecados cometidos e as graças necessárias para não cometê-los novamente.

158. Como poderemos nós merecer a proteção de Maria Santíssima?
Podemos merecer a proteção de Maria Santíssima imitando as Suas virtudes, especialmente a pureza e a humildade, e rezando o Terço todos os dias.

159. Devem também os pecadores, isto é, aqueles que estão em pecado mortal, confiar no patrocínio da Virgem-Mãe?
Também os pecadores devem confiar muitíssimo no patrocínio de Maria Santíssima, porque Ela é Mãe de Misericórdia, e Refúgio dos Pecadores, para lhes alcançar de Deus a graça da conversão contanto que eles queiram mudar de vida e imitar as virtudes de Maria Santíssima. Se tiverem este propósito, mesmo recitando apenas uma Ave-Maria, alcançarão o socorro da Mãe de Deus, como assegura Santo Afonso.

Quinta Parte
Maria Santíssima, Mãe de todos os homens

§ Da maternidade espiritual de Maria Santíssima

160. Maria Santíssima é nossa Mãe?
Sim, Ela é verdadeiramente nossa Mãe, não carnal, mas espiritual, das nossas almas e da nossa salvação.

161. Como pode Maria Santíssima ser nossa Mãe?
É necessário saber que assim como a alma dá vida ao corpo, a graça de Deus – isto é, a vida de Deus em nossas almas – dá vida à alma. O pecado mortal expulsa Deus da alma – este é o horror do pecado – fazendo com que ela perca a graça de Deus, por isso se chama “mortal”, pois dá morte à alma. Não se entenda, porém, que a alma morre de fato. A alma humana é imortal; diz-se que o pecado mortal dá morte à alma no sentido de que a faz impotente para alcançar méritos para o Paraíso e perde todos os já adquiridos, como se estivesse morta [daí o inferno ser chamado “morte perpétua”, pois jamais os condenados terão méritos para alcançar o Céu].
O pecado, quando privou nossa alma da divina graça, a privou também da vida. Estávamos, pois, miseravelmente mortos, quando veio Jesus, nosso Redentor, com excessiva misericórdia e amor, restituir-nos a vida pela Sua morte na cruz, satisfazendo com Seus méritos infinitos – pois era Deus – nossa dívida infinita para com Seu Pai, devido ao pecado. Ele mesmo o declarou: “Eu vim para elas [as ovelhas] terem vida” (Jo X, 10) Assim, reconciliando-nos com Deus, se fez Pai de nossas almas, visto ter dado a vida da graça a elas. Mas, se Jesus é Pai de nossas almas, Maria é a Mãe. Pois em nos dando Jesus, deu-nos Ela a verdadeira vida. Em seguida proporcionou-nos a vida da divina graça, quando ofereceu no Calvário a vida do Filho pela nossa salvação. Em duas ocasiões tornou-se, portanto, Maria nossa Mãe espiritual, como ensinam os Santos Padres.

162. Explicai-me a primeira ocasião.
Primeiramente, mereceu ser nossa Mãe quando mereceu conceber no seu ventre o Filho de Deus, conforme diz Santo Aberto Magno. E mais distintamente nos adverte São Bernardino de Sena com as palavras: “Quando a Santíssima Virgem deu à anunciação do anjo seu consentimento, pediu a Deus vigorosamente a nossa salvação; e de tal modo a procurou, que desde então nos trouxe nas suas entranhas como Mãe amorosíssima”.

163. Explicai-me a segunda ocasião.
Pela segunda vez Maria Santíssima nos gerou para a graça, quando no Calvário ofereceu ao Eterno Pai, por entre muitos sofrimentos, a vida de Seu amado Filho pela nossa salvação. Porque Ela cooperou com o seu amor para que os fiéis nascessem para a vida da graça, por isso mesmo, segundo Santo Agostinho, veio a ser Mãe espiritual de todos nós, que somos membros da nossa cabeça, Jesus Cristo.
Maria, para salvar nossas almas, sacrificou com amor a vida de Seu Filho. Esta nossa amorosíssima Mãe sempre esteve unida à vontade de Deus. Assim viu quanto o Eterno Pai amava os homens, observa São Boaventura; conheceu também sua vontade de entregar o próprio Filho à morte por nós. Para conformar-se com este amor do Pai e do Filho para com o gênero humano, Ela também com toda a sua vontade ofereceu e consentiu que o Seu Filho morresse, a fim de que fôssemos salvos. E então Ela com as suas dores, unidas às do Filho que morria na Cruz, nos proporcionou a vida eterna. Por isso todos podemos chamar-nos filhos das dores de Maria.

164. Não é Jesus Cristo o único Redentor, que nos mereceu a vida eterna?
É verdade que Jesus quis ser o único a morrer pela redenção do gênero humano, e o único que podia satisfazer a dívida do homem, pois, como vimos, a ofensa feita a Deus ocasiona uma dívida infinita; sendo o homem finito, jamais pagaria esta dívida, caindo todos nós no inferno. Só Deus, possuindo mérito infinito, poderia satisfazer nossa dívida. Por isso o Verbo de Deus se encarnou e morreu por nós na Cruz, oferecendo a Seu Pai os merecimentos de Sua morte – que são infinitos – satisfazendo assim nossa dívida para com a Divina Majestade [essa satisfação nos é aplicada por meio dos Sacramentos, sobretudo pela Santíssima Eucaristia e pelo Sacramento da Confissão].
Mas como Jesus viu como Maria desejava ardentemente tomar parte na salvação dos homens, decidiu então que Ela, com o sacrifício e a oferta da vida do seu mesmo Jesus, cooperasse para nossa salvação, e desde modo viesse a ser Mãe de nossas almas, cooperando com suas dores para alcançar-nos a vida da graça que tínhamos perdido.

165. Além das provas incontestáveis da Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura faz alguma menção à maternidade espiritual de Maria Santíssima para com todos os homens?
Sim, isto quis dizer o nosso Salvador, quando, antes de expirar, olhando da Cruz para Sua Mãe e para o discípulo São João, que estavam aos lados dEle, primeiramente disse a Maria: “Eis o teu filho” (Jo XIX, 26). Queria dizer-Lhe: Eis aqui o homem que, pela oferta que fazes da minha vida pela sua salvação, já nasce para a graça. E depois, voltando-Se para o discípulo, lhe disse: “Eis tua Mãe” (Jo XIX, 27). Com tais palavras, disse São Bernardino de Sena, Maria foi feita Mãe, não só de São João, mas também de todos os homens, por causa do amor que teve para com eles. É este o motivo porque São João, ao descrever a cena no seu Evangelho, escreve: “Em seguida disse ao discípulo: Eis a tua Mãe”. Note-se que Jesus Cristo não disse isto a João, mas ao discípulo. Fê-lo, segundo Santo Afonso, para significar que o Salvador nomeou Maria por Mãe universal de todos aqueles que, sendo católicos, têm o nome de Seus discípulos.

166. Os que não reconhecem Maria Santíssima por Mãe, agradam a Deus?
Evidente que não. Mais ainda, nem são filhos de Deus. Eis o que diz a este respeito São Luís Maria G. de Montfort: “Assim como na geração natural e corporal há um pai e uma mãe, há, na geração sobrenatural, um pai que é Deus e uma mãe, Maria Santíssima. Todos os verdadeiros filhos de Deus têm Deus por pai, e Maria por mãe; e quem não tem Maria por mãe, não tem Deus por pai. Por isso, os condenados, os hereges, os cismáticos, etc, que odeiam ou olham com desprezo ou indiferença a Santíssima Virgem, não têm Deus por pai, ainda que disto se gloriem, pois não têm Maria por mãe. Se eles a tivessem por Mãe, haviam de amá-La e honrá-La, como um bom e verdadeiro filho ama e honra naturalmente sua mãe que lhe deu a vida”.

167. Devemos aumentar nossa confiança na proteção de Maria Santíssima, sabendo nós que Ela é nossa verdadeira Mãe?
Sem dúvida. Maria é a Rainha dos anjos e dos santos, pois é Mãe de Deus, soberano absoluto. Mas nem tanto adiantaria, para nós, que Maria fosse Rainha dos céus e da terra, se Ela não fosse também nossa Mãe, e Mãe plena de Misericórdia. Que nos adiantaria ser Ela nossa Mãe, se não tivesse poder? E de que adiantaria ter poder, se não fosse também nossa Mãe? Por isso Deus a fez Rainha do Céu e da terra, e também nossa Mãe.

168. O que Santo Afonso diz do amor de Maria por nós, Seus filhos?
Santo Afonso, em ternas palavras, assim se exprime: “Alegrai-vos, portanto, todos os que sois filhos de Maria. Sabei que Ela aceita por filhos seus quantos o querem ser. Exultai! Como temer por vossa salvação, tendo esta Mãe que vos defende e protege? Todo aquele que ama essa boa Mãe e em seu patrocínio confia, diz S. Boaventura, deve reanimar-se e dizer: Que temes, minha alma? Não; não temas, porque a tua causa não se perderá. Pois a sentença está na mão de Jesus, que é teu irmão, e na de Maria, que é tua Mãe! A este mesmo respeito exclama cheio de alegria e nos anima S. Anselmo: Ó bem-aventurada confiança, ó seguro refúgio! A Mãe de Deus é minha Mãe! (...) Eis aqui pois a nossa Mãe que nos chama e diz: Quem for pequeno venha a mim (Sb IX, 4). As crianças têm sempre na boca o nome da mãe. Em qualquer perigo que se vejam, ou medo que tenham, logo se lhes ouve gritar: mamãe, mamãe! Ah! Maria dulcíssima, ah! Maria amorosíssima, isto é justamente o que desejais de nós. Quereis que nos tornemos crianças e chamemos sempre por Vós em todos os perigos. Pois é vossa vontade socorrer e salvar-nos, como já o tendes feito a todos os vossos filhos, que recorreram a Vós.” (Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 50)

169. Os que estão sendo tentados ou estão em pecado mortal, podem confiar no patrocínio desta boa Mãe?
Sim, e disso nos garante o mesmo Santo dizendo: “Conta-se que a baleia guarda na boca seus filhos, quando os vê ameaçados pela tempestade ou pelos caçadores. E que faz nossa boa Mãe, quando vê seus filhos com perigo no meio da tempestade da tentação? Esconde-os amorosamente como dentre de suas próprias entranhas, escreve Novarino, e ali os guarda até que os coloca no seguro porto do Paraíso. Ó Mãe amantíssima, ó Mãe piedosíssima, bendito sejais e bendito seja para sempre aquele Deus que vos deu a nós todos por Mãe e refúgio seguro em todos os perigos desta vida! Revelou esta mesma Virgem a S. Brígida que uma mãe, se visse seu filho entre as espadas dos inimigos, faria todo o esforço para salvá-lo. Assim, disse, faço e farei eu com os meus filhos, por maiores pecadores que sejam, sempre que a mim recorrerem.
Eis aqui como em todas as batalhas do inferno seremos sempre vencedores seguramente, se recorrermos à Mãe de Deus, e nossa, dizendo e repetindo: Sob a tua proteção nos refugiamos, ó Santa Mãe de Deus! Oh! Quantas vitórias têm os fiéis alcançado do inferno com o recorrerem a Maria por meio desta breve, mas poderosíssima oração!” (Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 49)

170. Portanto, sendo Maria Santíssima nossa Mãe, podemos esperar que Ela nos alcance todas as graças que necessitamos para nos salvar?
Sim, pois é nossa Mãe e também Mãe de Deus, do mesmo Deus que nos concede estas graças. Maria Santíssima, como dizem os Santos, está entre o réu e o Juiz, sendo ambos seus filhos; se o réu ofendeu o Juiz, com quanto zelo esta carinhosa Mãe não procurará alcançar-Lhe do mesmo Juiz, seu Filho, o perdão para este seu outro filho, o réu? “Pedir graças a Nossa Senhora é o mesmo que as receber”, nos assegura Santo Afonso.

171. O que São Luís Maria Grignion de Montfort diz a respeito da intercessão de Maria Santíssima, nossa Mãe?
São Luís nos enche de confiança dizendo: “Se Moisés, pela força de sua oração, conseguiu sustar a cólera de Deus contra os israelitas, e de tal modo que o Altíssimo e infinitamente misericordioso Senhor lhe dissesse que O deixasse encolerizar-Se e punir aquele povo rebelde, que devemos pensar, com muito mais razão, da prece da humilde Maria, a digna Mãe de Deus, que tem mais poder junto da Majestade Divina, que as preces e intercessões de todos os anjos e santos do céu e da terra?”

172. O que podemos concluir da maternidade espiritual e universal de Maria Santíssima?
Podemos perceber a grande bondade e o imenso amor de Deus para conosco, que para aumentar nossa confiança em Sua misericórdia, criou esta Virgem bendita, e encheu-A de amor por nós, míseros pecadores, fê-La nossa verdadeira Mãe, de sorte que podemos chamar-nos e somos realmente, Seus verdadeiros filhos. E não satisfeito com tamanha graça, Deus ainda fez-Se filho desta Virgem, atendendo a todos os pedidos que Ela Lhe fizer. Desta forma, exclamemos com Santo Anselmo: “Ó bem-aventurada confiança, ó seguro refúgio! A Mãe de Deus é minha Mãe!”

173. O que devemos pedir todos os dias, à nossa bondosa Mãe do Céu?
São João Bosco a este respeito escreve, especialmente aos jovens: “Tende, pois a mais íntima convicção de que obtereis todas as graças desta boa mãe, contanto que não peçais coisas que resultem em vosso dano. Deveis pedir-lhe com insistência particularmente três graças, que são necessárias para todos, mais especialmente para vós, meus caros jovens.
A primeira é a de não cometerdes nunca nenhum pecado mortal durante a vossa vida. Sabeis que significa cair em pecado mortal? Quer dizer renunciar a sermos filhos de Deus para tornar-nos escravos de Satanás. Quer dizer perder aquela beleza que nos faz iguais aos Anjos aos olhos de Deus, para tornar-nos horríveis como os demônios na sua presença. Quer dizer perder todos os merecimentos já adquiridos para a vida eterna; quer dizer ficar suspenso por um fio muito fraco por cima da boca do inferno; quer dizer fazer enorme injúria a Bondade infinita, e é este maior mal que se possa imaginar. Oh! Sim, por quantas graças vos obtenha Maria, seria todas inúteis sem esta graça de não cair nunca em pecado mortal. Esta é graça que haveis de pedir de manhã e á noite e em todas as vossas práticas de piedade.
A segunda graça que deveis pedir a Nossa Senhora é a de poder conservar a preciosa virtude da pureza. O jovem que a conserva tem a maior semelhança com os Anjos do Céu. Pelo que o seu anjo da Guarda o considera como irmão e muito se alegra pela sua companhia.
Como quero que todos vos conserveis esta bela virtude, vos indico ainda alguns outros meios para conservá-la do veneno que a poderia contaminar. Antes de tudo evitai a companhia das pessoas do sexo oposto. Estou sendo bem claro: Os meninos nunca devem contrair familiaridades com meninas; de outra forma esta bela virtude se acharia em grande perigo. A guarda dos sentidos contribui também muitíssimo para a conservação desta bela virtude. Evitai, portanto todo excesso no comer e no beber; evitai os teatros, os bailes e semelhantes diversões, que são a ruínas dos bons costumes. Mas guarde particularmente os olhos, que são as janelas pelas quais o pecado entra no nosso coração e por onde o demônio vem tomar posse de nossa alma. Nunca demore a olhar para as coisas contrárias à pureza e à modéstia, por pouco que seja. São Luiz de Gonzaga nem sequer queria que lhe vissem os pés, quando se deitava ou quando se levantava.
Outro menino, Domingos Sávio, sendo interrogado porque fosse tão recatado na vista, respondeu: Tomei a resolução de não fitar nunca o rosto de uma mulher, para reservar os meus olhos para fixar pela primeira vez, se não for indigno, o formosíssimo rosto da Mãe da Pureza, Maria Santíssima.
A terceira graça que deveis implorar a Virgem Imaculada é de poder sempre andar afastados da companhia daqueles jovens que tem más conversas, isto é, certas conversas que não se fariam na presença de vossos pais ou de alguma pessoa de respeito. Guardai-vos destes jovens, mesmo se eles forem vossos parentes. Posso garantir-vos que ás vezes é mais prejudicial a companhia desses, do que a de um demônio. Felizes vós, meus caros filhos, se fugirdes da companhia dos maus! Então estareis certos de que trilhais o caminho do céu; do contrário, correreis muito grande perigo de perder-vos para sempre. Por isso quando virdes companheiros vossos proferirem blasfêmias, desprezar as práticas religiosas para afastar-vos da igreja ou, pior ainda, dizer palavras contrárias, por pouco que seja, á virtude da pureza, fugi deles como da peste. Ficai certos de que, quanto mais puros forem os vossos olhares e as vossas conversas, tanto mais Maria se alegrará em vós e maiores graças vos alcançará de seu Filho e Nosso Redentor Jesus Cristo. São essas três graças mais necessárias na vossa idade; e as alcançareis, com certeza, de Nossa Senhora, se fordes sempre seus devotos sinceros, rezando todos os dias o Santo Terço ou ao menos três Ave-Marias e três Glórias ao Pai com a Jaculatória: Querida Mãe, Virgem Maria, fazei que eu salve a minha alma.
Com essas três graças trilhareis desde agora o caminho que vos há de tornar homens honrados na idade madura. Nessas graças tereis também o penhor certo da felicidade eterna que Maria Santíssima á de alcançar infalivelmente aos seus devotos.” (São João Bosco, O Jovem Instruído, Artigo IV: Devoção a Maria Santíssima)
Sexta Parte
Maria, Medianeira de todas as graças
174. O que a Igreja quer dizer quando invoca a Santíssima Virgem sob o título de “Medianeira de todas as graças”?
A Igreja, ao aplicar este título à Mãe de Deus, quer dizer que todas as graças merecidas por Cristo, passam por Maria até nós, isto é, nos vem mediante a intercessão dEla.

175. Explicai-me esta verdade.
Sendo Deus Senhor Absoluto, pode comunicar por Si mesmo as graças que Seu Divino Filho nos mereceu, sem a mediação de nenhuma de Suas criaturas. Porém, segundo a ordem que a Divina Sabedoria estabeleceu, não se comunica ordinariamente aos homens estas graças senão por Maria, como diz São Tomás. E São Luís de Montfort afirma claramente: “É necessário para subir e unir-se a Ele [Jesus Cristo] servir-se do mesmo meio de que Ele se serviu para descer até nós, para se fazer homem e nos comunicar as Suas graças; e este meio é uma verdadeira devoção à Santíssima Virgem.”
176. Então, as graças que recebemos são graças de Nossa Senhora?
Não, toda graça que recebemos é graça de Cristo e não de Nossa Senhora. Tudo o que recebemos vem de Cristo Deus por meio dela, mas a graça é de Cristo. Quem nos mereceu as graças foi Cristo, satisfazendo por nossos pecados na Cruz, Maria Santíssima roga a Cristo, seu Filho, para que aplique os frutos desses merecimentos – que são as graças – em nossas almas.
176. Quais as provas que temos desta verdade? A Igreja a proclamou como dogma de Fé?
Embora a proclamação do dogma ainda não tenha sido realizada, as provas são incontestáveis, dentre elas temos a Tradição perene da Igreja, que não falha quanto à Fé e à Moral, os escritos dos Santos, os tratados dos teólogos e doutores, os exemplos da Sagrada Escritura, etc; de modo que a doutrina sobre a mediação de Nossa Senhora está hoje fora de toda dúvida. Os quatro últimos Papas manifestaram-se com toda a clareza sobre ela, quer reproduzindo as opiniões dos Santos Doutores, quer publicando as suas próprias. Temos agora o Ofício e Festa de Nossa Senhora, Medianeira de todas as graças. Por isso, escreve Bainvel, S. J.: “A dupla cooperação de Maria na obra da Redenção, primeiro na terra por sua vida, sofrimentos e preces, e depois no Céu pela oração tão somente, é doutrina católica, segura, indiscutível e definível, isto é, pode ser declarada como verdade de Fé”.
177. A intercessão de Maria Santíssima é, pois, necessária para nos salvar?
Sim. Como diz Santo Afonso: “Necessária, sim, não absoluta, mas moralmente falando, como deve ser. A origem desta necessidade está na própria vontade de Deus, o qual pelas mãos de Maria quer que passem todas as graças que nos dispensa”. (Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, p. 131)
178. Não seria um erro acreditar que Deus não possa distribuir-nos Suas graças sem a intercessão de Maria? Pois diz o Apóstolo: “reconhecemos um único Deus e um único medianeiro entre Deus e os homens, Jesus Cristo”.
Já foi explicada a diferença entre a mediação de justiça, em vista dos méritos (como é a de Nosso Senhor que com Seus méritos satisfez por nós a Justiça de Deus, merecendo-nos todas as graças necessárias para a salvação), e a mediação de graça, por via de intercessão, isto é, quando se intercede por outrem, recorrendo aos méritos do Salvador (como é a mediação de Nossa Senhora que nos alcança todas as graças recorrendo ao valor dos méritos de Seu Filho). E do mesmo modo uma coisa é dizer que Deus não possa, e outra que Deus não queira conceder as graças merecidas por Cristo sem a intercessão de Maria. A Igreja confessa que Deus é a fonte de todos os bens e o Senhor absoluto de todas as graças. Confessa também que Maria não é mais que uma pura criatura e que, quanto obtém, tudo recebe de Deus gratuitamente. Mais que todas as outras, esta sublime criatura na terra também O honrou e amou, sendo por Ele escolhida para Mãe de Seu Filho, o Salvador do mundo. Querendo exaltá-La de um modo extraordinário, determinou por isso o Senhor que por Suas mãos hajam de passar e sejam concedidas todas as mercês dispensadas às almas remidas. Neste sentido, São Luís G. de Montfort, no final do século XVII, se dirigia à Virgem Santíssima como “a tesoureira das graças do Senhor”. Santo Ildefonso, falecido em 667, exprime com mais energia este pensamento: “Senhora, as graças que Deus determinou fazer aos homens, determinou fazê-las todas por vossas mãos, e confiou-Vos por isso todos os tesouros das graças”, e São Germano, falecido no ano 733, ainda afirma: “Não há graça que não tenha sido dispensada por vossas mãos”.
179. Qual o parecer de Santo Afonso quanto a este ponto?
O Santo afirma em seu Glórias de Maria: “Não há dúvida, confessamos que Jesus Cristo é o único medianeiro de justiça, porque por Seus méritos nos obtém a graça e a salvação. Mas ajuntamos que Maria é a medianeira de graças, e como tal pede por nós em Nome de Jesus Cristo e tudo nos alcança pelos méritos dEle.. Assim, pois, à intercessão de Maria devemos, de fato, todas as graças que solicitamos.”
180. Se todas as graças passam por Maria, é inútil, portanto, recorrer aos Santos para que roguem por nós?
Evidente que não. A Igreja sempre recomendou a invocação dos Santos para que peçam por nós à Divina Majestade. Não devemos abandonar a devoção aos Santos devido ao fato de que todas as graças nos vêm por meio de Maria Santíssima, pois a Ela hão de recorrer os Santos que invocamos, a fim de que nos obtenha as graças que lhes pedimos.
181. Está doutrina não é, porventura, nova e estranha?
De maneira nenhuma. Santo Afonso, no século XVIII, já dizia: “Para honrar a Mãe, constitui-A Deus Rainha dos Santos e quer que por suas mãos sejam dispensadas todas as graças”. São Bernardo, no século XII, afirmou explicitamente: “Em vão pedir-se-iam graças aos Santos, se Maria não se empenhasse em obtê-las”. São Bento, aparecendo um dia à Santa Francisca Romana, prometeu-Lhe que a protegeria sempre como advogado junto à Mãe de Deus. Pacciucchelli, dominicano e escritor no ano de 1657, diz até que a Virgem, como Rainha, ordena aos anjos e santos que a acompanhem, e junto com Ela dirijam suas preces ao Altíssimo. A piedade popular também era ciente desta verdade, como se prova pelo seguinte fato: Margarida Sander, nascida em Ratisbona, na Alemanha, tinha sofrido, durante muitos anos, desmaios, tremores e dores nas pernas. Em 1947 alguém falou-lhe do venerável padre Vicente Palloti (hoje, São Vicente Palloti), que tinha fama de santidade. Margarida então rezou com ardente devoção, dizendo: “Venerável Vicente Palloti, pede a Nossa Senhora que me dê um sinal de que serei curada e não cesse de rezar [a Ela] até que o sinal me seja dado”, ficando curada, pouco tempo depois, milagrosamente. O poeta Dante Alighieri, no século XIII, como vimos, assim dizia da necessidade dos rogos de Maria Santíssima: “Mulher, és tão grande e tanto vales, que querer graça e a ti não recorrer, é desejar voar sem ter asas.”.
182. Quais as provas nos dá a Escritura Sagrada da veracidade desta doutrina?
As provas são os exemplos que nos deu, na Bíblia, as Três Pessoas da Santíssima Trindade, particularmente a Segunda Pessoa Divina, o Filho de Deus. Como vemos nos Evangelhos, Deus Pai só deu ao mundo Seu Divino Filho, fonte das graças, por Maria. Deus Filho se fez homem em Maria e por meio de Maria. Deus Espírito Santo realizou Sua maior obra, a Encarnação do Filho de Deus, com o consentimento e a cooperação de Maria Santíssima. A Santíssima Trindade, pois, quer servir-se da cooperação da Virgem Santíssima, se bem que não Lhe seja absolutamente necessário, servindo-Se dEla unicamente por Sua divina vontade.
183. O que afirma, sobre este ponto, o glorioso São Luís Maria G. de Montfort, e os demais Santos?
No seu Tratado sobre a devoção à Maria Santíssima, São Luís se expressa nestas palavras: “A conduta das Três Pessoas da Santíssima Trindade, na Encarnação e primeira vinda de Jesus Cristo, é a mesma de todos os dias (...) e esse procedimento há de perdurar até a consumação dos séculos (...) pois é Deus, imutável em Sua conduta e em Seus decretos.” E Santo Afonso continua com o mesmo pensamento: “Os primeiros frutos da Redenção passaram, pois, pelas mãos de Maria. Foi Ela o canal pelo qual foi comunicada a graça ao Batista e o Espírito Santo a Isabel, o dom da profecia a Zacarias, e tantas outras bênçãos àquela casa [de fato, foi ao ouvir a voz da Mãe de Deus que a família de Zacarias recebeu todas estas graças; Maria Santíssima foi, pois, o meio pelo qual Cristo difundiu os frutos de Seus méritos, isto é, as graças (Lc II, 39-45)]. Foram estas as primeiras graças que sabemos terem sido distribuídas pelo Verbo, depois que Se encarou (...) desde então, Deus constituiu Maria o aqueduto universal, como a chama S. Bernardo, pelo qual, depois daquele tempo, passassem todas as graças que o Senhor quer dispensar-nos”.
São Bernardo de Claraval afirma: “Tal é a vontade de Deus que quis que tenhamos tudo por Maria. Se, portanto, temos alguma esperança, alguma graça, algum dom salutar, saibamos que isto nos vem por suas mãos” (De Aquæductu, n. 6) e também: “Eras indigno de receber as graças divinas: por isso elas foram dadas a Maria, a fim de que por Ela recebesses tudo o que terias” (Sermo 3 in vigília Nativitatis Domini, n. 10).
São Bernardino de Sena: “Todos os dons, virtudes e graças do Espírito Santo são distribuídas pelas mãos de Maria, a quem Ela quer, quando quer, como quer e na medida que quer” (Sermo in Nativ. B.V. art. Um, cap. 8).
185. Que outra prova temos desta verdade?
A prova mais clara é o título que a Santa Igreja aplica à Santíssima Virgem na oração da Salve Rainha: “... esperança nossa”. Afirmava o ímpio Lutero não poder suportar que a Igreja Católica chamasse Maria, uma criatura, nossa esperança. Que só Deus e Jesus Cristo, como nosso medianeiro, são nossa esperança; que, ao contrário, Deus amaldiçoa quem põe sua esperança nas criaturas – era o que o herege dizia. Mas a Igreja ensina-nos a invocar constantemente Maria e a saúdá-La como nossa esperança. Aquele que põe sua esperança na criatura, independentemente de Deus, é sem dúvida amaldiçoado pelo Senhor. Pois tão somente Ele é a única fonte e distribuidor de todo o bem. Sem Ele nada tem e nada pode dar a criatura. Mas, como temos provado, conforme a determinação de Deus, todas as graças devem chegar até nós por meio de Maria, como por um canal de misericórdia. Por conseguinte, não só podemos como devemos confessar que Ela é nossa esperança, porquanto recebemos as graças de Deus por Seu intermédio, segundo a vontade de Deus.
185. Qual deve ser, pois, mediante estas verdades, o nosso procedimento?
Como Deus nos dispensa – porque assim determinou e não porque disso tenha necessidade – que todas as graças nos venham mediante os rogos de Sua Mãe Santíssima, devemos imitar o procedimento de Deus, a fim de que a graça volte ao seu Autor pelo mesmo canal por onde veio, pois redunda em maior glória para Ele receber pelas mãos imaculadas de Maria o reconhecimento, o respeito e o amor que Lhe devemos por Seus benefícios. Por este motivo, não há maneira melhor para agradar e honrar a Deus do que procurar agradar e honrar a Mãe de Deus. Por isso afirma o Doutor Melífluo [São Bernardo]: “Procuremos venerar com todos os afetos do coração Maria, Mãe de Deus, porque é vontade do Senhor que de suas mãos recebamos todos os bens de graças. Sempre, portanto, que desejarmos ou solicitarmos uma graça, tratemos de recomendar-nos a Maria e tenhamos confiança de obtê-las por sua intercessão. Se tu não mereces a graça solicitada, bem a merece Maria, que por Ela se empenhará. Recomendemos também a Maria todas as boas obras e orações que oferecemos a Deus, se queremos que Ele as aceite”
186. O que podemos concluir depois destas explicações?
Concluamos este ponto com as palavras de Ricardo de São Lourenço, que escreveu no ano de 1245: “Queremos obter alguma graça? Recorramos então a Maria, que nunca deixou de alcançar a seus servos o que lhes impetra; pois achou e sempre acha a graça divina (Lc I, 30)”. Procuremos a graça divina, mas procuremo-la por meio de Maria Santíssima que a acha com certeza. Se, pois, desejamos graças como o perdão de nossos pecados e a força para não cometê-los novamente, é necessário que recorramos a esta tesoureira e dispensadora das graças, já que a vontade suprema do Doador de todo o bem, como afirma São Bernardo de Claraval, é que todas as graças por mão de Maria se dispensem. O Santo não excetua graça alguma porque quem diz todas nada exclui.
Sétima Parte
Maria Santíssima, Rainha do Santo Rosário
§ O Santo Terço
187. Qual a devoção que a Santa Igreja Católica, verdadeira e única Igreja de Cristo, recomenda de modo especial em honra da Mãe de Deus e Mãe nossa?
A devoção que a Santa Igreja mais recomenda em honra da Santíssima Virgem Maria é a recitação diária da terça parte do Rosário [o Terço], como a mesma Santíssima Virgem tem pedido inúmeras vezes, ao longo de suas aparições, particularmente em Fátima, em 1917.
188. Por que a Igreja recomenda de modo especial a recitação do Santo Terço?
Porque Deus estabeleceu que todas as graças que Ele concederá aos homens, só por meio da oração há de conceder; por conseguinte, por meio desta santa devoção, Maria Santíssima pode nos alcançar inúmeras graças, como tem provado a história e a experiência.
189. Não seria desnecessário repetir inúmeras vezes as mesmas palavras, como se faz na recitação do Santo Terço?
Não, pois a Sagrada Tradição – que deriva dos Apóstolos – sempre ensinou esta prática, e a própria Escritura Sagrada diz o mesmo. Sabemos, por conseguinte, que Nosso Senhor ensinou aos Apóstolos a oração do Pai-Nosso e que a recitassem sempre (Mt VI, 9-13), isto é, repetissem suas palavras. E no Horto das Oliveiras, Jesus rezava ao Pai Eterno, como diz o Evangelho de São Marcos, “repetindo as mesmas palavras” (Mc XIV, 39). E é muito evidente o bem que trouxe o Santo Terço ao mundo: quantos conduzidos a uma vida santa! Quantos, depois de uma boa morte, foram por ele salvos! Para nós basta dizer que esta devoção foi aprovada pela Santa Igreja, e enriquecida pelos Sumos Pontífices com muitas indulgências.
190. O que é a indulgência?
A indulgência é a remissão da pena temporal [que pagaríamos aqui ou no Purgatório] devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa [no Sacramento da Penitência], remissão que a Igreja concede fora do Sacramento da Penitência.
191. De quem recebeu a Igreja o poder de conceder indulgências?
Foi de Jesus Cristo que a Igreja recebeu o poder de conceder indulgências.
192. De que maneira nos perdoa a Igreja a pena temporal por meio das indulgências?
A Igreja assim faz aplicando-nos as satisfações superabundantes de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem e dos Santos, as quais formam o que se chama o tesouro da Igreja.O poder de conceder indulgências pertence ao Papa, sucessor de São Pedro.
193. É verdade que a Igreja, na história, vendeu indulgências?
De maneira nenhuma! A Igreja nunca vendeu indulgências, e nem poderia; são satisfações “anexas” às orações recitadas pelos fiéis (como o Santo Terço), e ninguém necessita pagar qualquer quantia para rezá-las. Esta é uma mentira, muito difundida, inventada pelos inimigos da Igreja de Jesus Cristo, como sempre houve.
194. Ao Santo Terço estão anexas muitas indulgências?
Sim, os Papas têm favorecido muito a devoção do Terço, enriquecendo-a de muitas indulgências, como se pode verificar nos livros de devoção. Para lucrar as indulgências, recebendo o perdão das penas temporais que merecemos pelos nossos pecados já perdoados quanto à culpa e que teríamos que pagá-las aqui, nesta vida, ou na outra, no Purgatório, devemos unir à recitação do Terço a meditação dos mistérios que o compõem, que são a vida de Cristo.
195. Como devemos recitar o Terço?
É preciso recitar o terço com devoção, sem esquecer o que disse a Santíssima Virgem a Santa Eulália: “Cinco dezenas, recitadas com pausa e devoção, me são mais agradáveis do que quinze, ditas às pressas e com menor devoção”. Santo Afonso, nesse sentido, diz: “Por isso, é bom recitá-lo de joelhos [é bom, porém não obrigatório], diante de uma imagem da Virgem, e fazer no princípio de cada dezena um ato de amor a Jesus e a Maria, pedindo-Lhes alguma graça. Note-se também que é melhor recitar o Terço em comum do que só”.
§ Das aparições da Virgem em Fátima, Seus pedidos e Sua mensagem
196. O que a Santíssima Virgem disse aos pequenos pastores de Fátima, quando de Sua aparição em 1917?
A Santíssima Virgem insistiu em cada uma das Suas seis aparições em Fátima, na reza diária do terço dizendo: “Rezem o terço todos os dias”; pediu para que as pessoas mudassem de vida, não ofendendo mais a Deus por seus pecados: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já foi ofendido demais”; e recomendou a devoção reparadora dos cinco primeiros sábados do mês.
197. Do que se trata a devoção reparadora dos cinco primeiros sábados do mês?
Jesus Cristo disse à Irmã Lúcia que quer que, ao lado de Seu Sacratíssimo Coração, seja venerado o Imaculado Coração de Sua Mãe Santíssima. Quanto à devoção reparadora dos primeiros sábados do mês, Nossa Senhora veio explicar à Lúcia, no dia 10 de dezembro de 1925, em Pontevedra na Espanha. Em dezembro de 1927, irmã Lúcia, por ordem de seu confessor, escreveu um relatório dessa aparição, mas por humildade, escreveu este texto na terceira pessoa:
Dia 10 de dezembro de 1925, apareceu-lhe a Santíssima Virgem e, ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A Santíssima Virgem pondo-lhe no ombro a mão mostrou-lhe ao mesmo tempo um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos. Ao mesmo tempo disse o Menino: “Tem pena do Coração de tua Santíssima Mãe que está coberto de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam, sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar”. Em seguida, disse a Santíssima Virgem: Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos, que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar, e dize que todos aqueles que durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço, e Me fizerem quinze minutos de companhia, meditando nos quinze mistérios do Rosário, com o fim de me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.”
198. A Virgem Santíssima nos pede cinco primeiros sábados de cinco meses consecutivos, e não nove, doze ou quinze. Porque este número?
Lúcia perguntou a Nosso Senhor durante uma Hora Santa, em 29 de maio de 1930, em Tuy, e lhe foi respondido:
“Minha filha, o motivo é simples. Há cinco espécies de ofensas e de blasfêmias proferidas contra o Coração Imaculado de Maria:
1 – as blasfêmias contra a imaculada conceição da Virgem Maria;
2 – as blasfêmias contra sua virgindade;
3 – as blasfêmias contra sua maternidade divina, recusando ao mesmo tempo reconhecê-la como mãe dos homens;
4 – as blasfêmias daqueles que procuram publicamente pôr no coração das crianças a indiferença ou o desprezo, ou mesmo o ódio em relação a esta Mãe imaculada;
5 – as ofensas dos que a ultrajem diretamente nas suas santas imagens.
Ai está, minha filha, o motivo pelo qual o Coração Imaculado de Maria me inspirou para pedir esta pequena reparação”.
199. O que é preciso fazer para praticar esta devoção?
Uma alma católica que deseje realizar perfeitamente a devoção reparadora dos primeiros sábados do mês deve fazer, durante cinco primeiros sábados consecutivos, na intenção geral de reparar seus próprios pecados e os de toda a humanidade, junto ao Coração Imaculado de Maria, quatro atos diferentes de piedade:
1 – A confissão, que pode ser antecipada, até mesmo mais de oito dias, se for impossível ou muito difícil se confessar no primeiro sábado. O mais importante é ter a intenção, se confessando, de reparar o Coração Imaculado de Maria. (É preciso também, naturalmente, estar em estado de graça no primeiro sábado do mês a fim de fazer uma boa e frutífera comunhão, visto que não pode comungar quem esteja em estado de pecado mortal.) A intenção reparadora deve ser dita ao confessor? Irmã Lúcia nunca mencionou se é preciso dizer alguma coisa ao padre. Uma formulação interior, puramente mental, é suficiente. Nosso Senhor até mesmo acrescentou que aqueles que esquecessem de formular a intenção reparadora “poderão formulá-la na confissão seguinte, aproveitando a primeira ocasião que tiverem para se confessar.” [8]
2 – Recitação do terço: Nossa Senhora, em Fátima, insistiu muito na recitação quotidiana do terço. Foi esse o único pedido que ela repetiu para as crianças em todas as seis aparições, de 13 de maio a 13 de outubro de 1917: nesse dia revelou aos pastorinhos sua identidade: “Sou Nossa Senhora do Rosário”. Não é, pois, de espantar que a recitação do rosário seja encontrada na devoção reparadora dos primeiros sábados . Além disso, como não existe oração vocal mais mariana do que o terço, convém que este seja integrado a essa devoção já que se trata de reparar as ofensas feitas à Nossa Senhora e a seu Coração Imaculado.
3 – Os 15 minutos de meditação sobre os 15 mistérios do rosário: Trata-se de “fazer companhia a Nossa Senhora durante15 minutos, meditando sobre os 15 mistérios do rosário, em espírito de reparação”. Isto não quer dizer que se deva meditar todo primeiro sábado sobre os 15 mistérios em sua totalidade, passando um minuto em cada mistério. Ao contrário, cada alma está livre para organizar seu quarto de hora de meditação como entender, desde que o objeto da meditação seja os mistérios do rosário. Algumas almas preferirão meditar o mesmo mistério durante vários primeiros sábados, outras um mistério diferente cada primeiro sábado, outras ainda três mistérios cada primeiro sábado (cinco minutos por mistério), etc. Sendo as almas diferentes umas das outras, é normal que tenham gostos e necessidades espirituais diferentes; é por isso que a Igreja sempre teve o cuidado de deixar aos fiéis uma grande amplidão para cada um organizar sua vida espiritual.
4 – A comunhão, que é o ato essencial da devoção reparadora. Para compreender bem toda sua importância, convém colocá-la em paralelo com a comunhão das nove primeiras sextas-feiras do mês, pedidas pelo Sagrado Coração em Paray-le-Monial e com a comunhão milagrosa dos três pastorinhos de Fátima, no outono de 1916: o Anjo da Guarda de Portugal deu então a esta comunhão um espírito eminentemente reparador, repetindo seis vezes com as crianças (três vezes antes da comunhão e três vezes depois) as palavras que são chamadas a segunda oração do Anjo:
“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que ele mesmo é ofendido; e pelos méritos infinitos de seu Sacratíssimo Coração e do Imaculado Coração de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores.”
200. Qual foi a mensagem que nos trouxe a Virgem Santíssima em Fátima?
Ela nos trouxe três grandes segredos, sobre a guerra e a situação política do mundo atual, mas não era apenas a política que interessava a Mãe de Deus: Ela também confiou aos três pastorinhos de Fátima um grande segredo sobre o que aconteceria na Igreja Católica no século XX. Este segredo ainda não está de todo revelado, mas sabe-se que a Santíssima Virgem avisou contra uma mudança que ocorreria na Missa – que na época era em latim – e que essa mudança acarretaria muitos males à Igreja [curiosamente, a Irmã Lúcia disse que Maria Santíssima lhe dissera que este segredo fosse revelado em 1960, exatamente na década em que houve realmente a mudança na Missa, do latim para a língua de cada nação e outras mudanças na liturgia]. A Virgem Santíssima também alertou contra um Concílio pastoral [portanto, não infalível] que seria realizado, e definiu ambos – tanto a Missa Nova quanto o Concílio não infalível – de “suicidas”, e que provocariam uma grande perda da verdadeira Fé; por isso, no início do segredo, disse a Mãe de Deus: “Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc”, dando-nos a entender que nas demais nações, se perderia a Fé Católica.
201. As profecias da Virgem, em Fátima, se concretizaram?
Sem dúvida, basta lançarmos um olhar para o contexto da atual crise da Igreja, e é certo que a intenção reparadora dos cinco primeiros sábados toma uma nova dimensão: quantas irreverências e sacrilégios são causadas pela reforma litúrgica de Paulo VI [a Missa Nova]: não apenas pela comunhão dada na mão, como também distribuída a todos os assistentes sem nunca lembrar a necessidade do estado de graça; pela supressão das marcas de adoração ao Santíssimo Sacramento, etc. Hoje, a comunhão dos primeiros sábados deve ser feita para reparar todas essas profanações. Também não se fala mais da Santíssima Virgem nem do culto que Lhe é devido. [Vale lembrar que o Papa só é infalível quando se pronuncia ex-cathedra, isto é, falando como Chefe da Igreja, em matéria de Fé e Moral, aprovando uma doutrina e condenado a contrária. Fora dessas condições, o Papa pode errar Por isso é lícito desobedecer estas reformas, na medida que se opõem a tudo o que a Igreja sempre ensinou infalivelmente]
Antes mesmo das aparições de Maria Santíssima em Fátima, Deus concedeu a São João Bosco, falecido em 1888, a graça de ver, em um sonho profético, esta situação terrível da Igreja no século XX. De fato, Dom Bosco viu a grande nau da Igreja Católica, em meio à tempestade, se afastar das duas colunas que a sustentavam: a coluna da Hóstia Santa e a coluna da Virgem Maria, e por isso começar a naufragar. No século XX, com a grande crise causada pelo Concílio Vaticano II e a Missa Nova, os católicos realmente se afastaram da devoção a Virgem Santíssima e da devoção a Jesus Cristo realmente presente na Hóstia Consagrada, a ponto de recebê-Lo nas mãos.
202. Por que não podemos receber a Jesus Sacramento em nossas mãos?
Pois este direito cabe apenas ao sacerdote, e não aos fiéis leigos. Os leigos, desde sempre, receberam a Sagrada Hóstia diretamente na boca e de joelhos, pois é o próprio Cristo Deus, como Ele mesmo disse: “Isto é o meu Corpo”.
203. Como podemos ter certeza que os leigos não podem tocar na Sagrada Hóstia?
Pela Sagrada Tradição e também pela Escritura: Santa Maria Madalena, que acreditava na Ressurreição, não pôde tocar no corpo de Cristo. Jesus não deixou. São Tomé, que duvidava da Ressurreição, recebeu ordem de Cristo de tocar nEle. Por que? Porque São Tomé, embora duvidasse, era Apóstolo, Bispo, portanto sacerdote. Santa Maria Madalena, por não ser sacerdote foi proibida pelo próprio Cristo de tocar em seu Corpo; como lemos no Evangelho de São João, capítulo XX, versículos de 16 a 18.
204. Com toda essa crise a Igreja Católica perecerá?
Embora a crise seja terrível, a Igreja Católica sairá vitoriosa, pois é impossível que pereça como disse o próprio Cristo Deus (Mt XVI, 18). Ela pode ser perseguida, como seu Divino Fundador, mas não pode ser destruída. A própria Virgem, em Fátima, anunciou o futuro triunfo da Igreja Católica dizendo: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará”.
205. Podemos ter certeza que as aparições de Fátima realmente ocorreram?
Sim. Na última aparição, dignou-Se Deus realizar um estupendo milagre, por meio de Sua Mãe Santíssima, suspendo as leis naturais da visão de mais de 80 mil pessoas, fazendo-as ver o sol “dançar” no Céu por cerca de 10 minutos, o fato foi até registrado com fotografias pelo jornalista José Avelino de Almeida e publicadas em 15/10/1917 no jornal “O Século”.
206. O que os católicos devem fazer em meio a esta crise que assola a Igreja atualmente?
Os católicos devem confiar na perpétua verdade de que nem Cristo nem Sua Igreja irão sucumbir e na intercessão de Maria Santíssima, invocada pela Igreja como a grande Auxiliadora dos Cristãos, que em muitas batalhas saiu em defesa da Igreja, como atestam os fatos históricos; devem, também, em união com o Papa, lutar em defesa da verdadeira e única Igreja de Cristo, que é a Católica, Apostólica, Romana, fora da qual não há salvação, como proclamou solenemente e dogmaticamente o IV Concílio de Latrão, estudando sua doutrina e combatendo os erros que se opõem a ela.

O trabalho acima foi elaborado pelo Senhor: Carlos Roberto.
Nada foi acrescentado a doutrina santa e católica não advindo assim necessidade de aprovação eclesiástica.